A mudança do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem do Centro para sua nova sede na avenida Marquês de Olinda, no Atiradores, há algum tempo mexe com comerciantes e prestadores de serviço da rua Abdon Batista, onde o hospital começou como consultório há 71 anos. A preocupação de que a via perca parte de seu movimento é latente entre donos de negócios e funcionários, mas a maioria prefere esperar para ver o que acontecerá.
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Típica rua do Centro, com trânsito lento, apinhada de gente e uma gama de pequenos estabelecimentos, quem convive com o local garante que a Abdon Batista deve muito do que é ao Hospital de Olhos. O comércio de óculos, que dá o título de “rua das óticas” à via, é um dos mais beneficiados e deve ser o mais afetado pela mudança.
Atualmente, há 17 óticas em 300 metros de rua – ou uma ótica a cada 17,5 metros -, o que faz do local uma das maiores concentrações de óticas do País, ousa afirmar quem é do ramo. As vendas relacionadas ao Sadalla ocorrem de várias formas. O paciente que saía do hospital aproveitava a proximidade para fazer óculos novo ou ajustar o velho. Há quem compre óculos de sol para se proteger após cirurgias.
Nisso, um familiar acha um par de óculos bonito e compra também. Quando retorna para consulta, o paciente acaba indo à ótica novamente. E quem tem problema crônico de visão vira cliente fixo.
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Hábitos
Para manter esses hábitos, que são a receita de vendas, donos de óticas passaram a sondar terrenos perto do novo hospital, como Osni Hille, dono da Ótica Joinville, a mais antiga da Abdon Batista, com 32 anos. Mas a busca virou frustração. O novo hospital fica em uma via rápida, ruim para a circulação de pessoas, é margeada por terras do Exército e grandes lotes residenciais, sem salas comerciais ou perspectiva de instalação de uma galeria de lojas.
Osni é amigo do diretor do Hospital Sadalla, o médico Emir Amin Ghanem, e conversaram sobre a mudança. A fim de ajudar as óticas, Emir quis criar uma galeria de lojas anexa ao novo hospital. Esbarrou nas regras que impedem a comercialização de produtos em espaços médicos. Sem alternativas, ao menos em curto prazo, o jeito foi as óticas ficarem na Abdon Batista.
Apesar das dúvidas, maioria decide esperar
As expectativas sobre o futuro são divididas e cheias de dúvidas. Na maioria das óticas, a reação tem sido esperar. A preocupação existe, mas donos e funcionários ainda nutrem esperança de que o hospital mantenha serviços na Abdon Batista ou alugue o local para outras clínicas (a direção já afirmou, porém, que vai transferir toda a estrutura à Marquês).
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– Como não tem como mudar, é esperar para ver e continuar trabalhando como fazemos há tantos anos -, diz Osni Hille, da Ótica Joinville, por exemplo.
Outro grupo acredita que a mudança do Sadalla não afetará o status da rua.
– A Abdon já está consolidada. As óticas ganham estando juntas e só haverá mudança de hábito, de a pessoa vir lá do Sadalla para cá, como já vêm de outras clínicas -, aposta Gerson Strossi, da Ótica Vision e presidente do Sindicato de Óticas no Estado.
As opiniões são parecidas em óticas mais recentes, onde é maior a clientela fixa de outras clínicas. Uma minoria é mais pessimista.
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– Acreditamos em perdas em torno de 40%. Teremos que nos adaptar -, afirma Isamara Canto, da Ótica São José.
Úrsula Wegner, da Ótica Real, diz que não há como negar que haverá perdas. Ernani Freitas, da Ótica Luz, também não esconde a apreensão com a saída do hospital, mas espera que disso nasça união das óticas em favor de campanhas para valorizar a Abdon Batista. Ela acredita que o bom é que de uma crise sempre nascem solidariedade e soluções. É torcer para isso porque se cada um quiser superar sozinho, será mais difícil.
Impacto maior para os serviços
Embora menor do que o ramo de óticas, o setor de serviços é ainda mais preocupado com a mudança do Hospital de Olhos. Lanchonetes e estacionamentos, por exemplo, têm grande dependência do movimento de pacientes. Dona do estacionamento The Brothers, ao lado do hospital, Rosemeri Vegini diz que 80% dos clientes são do Sadalla.
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– A saída preocupa muito. Vamos manter até quando conseguirmos pagar o aluguel. Se não tiver mais movimento, teremos de nos mudar -, afirma. No novo hospital, o estacionamento será terceirizado e maior, segundo a direção.
Funcionários de lanchonetes falam até em temor de perder o emprego. Muitos desses locais dependem de uma clientela que mistura funcionários do hospital e pacientes, vários deles de outras cidades.
– A pessoa de fora vem acompanhada de parentes. Aí, enquanto uma se trata no hospital, as outras circulam na rua, fazem lanche por aqui, olham as lojas para passar o tempo. É um movimento significativo -, diz uma atendente de lanchonete.
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O diretor do Hospital de Olhos, Emir Amin Ghanem, até brinca que o hospital é uma espécie de “ponto turístico” por atrair tanta gente de fora, que acaba circulando e comprando em Joinville em decorrência de tratar dos olhos. É o temor de perder esse público que mais preocupa o setor de serviços da Abdon Batista.
CDL não vê perdas claras
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) descarta, por enquanto, campanhas para fortalecer o status de “rua das óticas” da Abdon Batista. Para o coordenador do núcleo de óticas da CDL, Jayson Flores, não há prognósticos de perdas claras ao comércio com a mudança do Hospital de Olhos para outra região.
– Hoje, as óticas já atendem clientes vindo de várias clínicas. Há outros oftalmologistas estabelecidos na Abdon também. A clientela de Joinville, que é maioria, até pelo fato de sair com a pupila dilatada dos exames e procedimentos, acaba preferindo ir para casa e voltar outro dia para fazer óculos. Então, não acreditamos em perdas significativas -, afirma.
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O que deve ocorrer, segundo Jayson, é a diminuição da clientela de outras cidades, que deixará de circular na rua, mas que não chegaria a 20% das vendas. Para Jayson, a propaganda boca a boca da “rua das óticas” e a variedade de óculos e preços ainda são os principais apelos para que a Abdon mantenha seu status.