Desde cedo, milhares de pessoas acompanham nas ruas de Salvador a saída do tradicional bloco Mudança do Garcia. Os participantes, fantasiados e levando cartazes e alegorias, são reconhecidos por manifestar sua insatisfação com bom humor e irreverência. O bloco leva o nome do bairro onde o movimento de protestos teve início, na década de 1940. É lá que os foliões se concentram e, pela manhã, alguns já chamavam a atenção por onde passavam.
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Ao som de marchinhas carnavalescas, um grupo de feministas dançava e exibia cartazes com frase como “Respeite o corpo da mulher! Não ao controle da Igreja e da mídia”. Outra participante mostrava cartaz em que se lia “Homem que bate e mulher já tem uma senha: Lei Maria da Penha”, em referência à lei que tornou mais rígidos os procedimentos para penalizar os agressores. Uma das mais animadas do grupo, a socióloga Luiza Bairro disse que o Carnaval é um momento propício para esse tipo de iniciativa:
– Nós estamos aproveitando essa oportunidade de trazer para a população a consciência de que vários tipos de violência ainda são realidade da mulher na Bahia. E isso precisa ser combatido. Sem dúvida alguma, o Mudança do Garcia é uma oportunidade para isso.
Liderado por um movimento de aposentados, outro grupo explorou o bom humor em protesto contra as condições de postos de saúde e hospitais. Em uma espécie de cortejo fúnebre, um caixão era transportado em cima de um carro preto. Adesivos distribuídos pelo grupo traziam um trocadilho com a sigla SUS, do sistema de saúde pública: “Sistema Único de Suicídio”. Outros grupos protestavam contra o bloqueio de aparelhos de telefonia celular e faziam também sátiras a personagens de programas de televisão.
Ponto de partida para vários grupos participantes, a casa de Dona Zuzu é referência dos foliões de Salvador. Neste ano, ela completa 101 anos e se disse orgulhosa do carinho recebido durante a festa popular:
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– Sinto-me bem, sendo homenageada todos os anos. Antes, o Carnaval era melhor, porque tinha marchinhas, mas agora também está bom.