O livro “1808” de Laurentino Gomes, lançado há alguns anos e ainda exposto em destaque nas vitrines das livrarias brasileiras, é uma obra literária que não deve passar desapercebida pelos brasileiros que almejam descobrir alguns porquês de nossa sociedade.
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Em linguagem bastante acessível, o jornalista e escritor narra com riqueza de detalhes o conturbado período da história brasileira de 1808 a 1821, referente à vinda da Família Real Portuguesa e o Governo Joanino.
Chegando ao Brasil, primeiro em Salvador e depois no Rio de Janeiro, local no qual passou a governar o império português, D. João realizou e conduziu inúmeros atos, entre os quais a abertura dos portos à comunidade internacional, representando o fim do Pacto Colonial e o atendimento de exigências aos interesses ingleses, como a concessão de tarifas alfandegárias vantajosas, expansão da burocracia governamental e a elevação do Brasil a Reino Unido, em 1815.
Em 1820, reflexo da penúria reinante e do anseio por mudanças, eclode a Revolução Liberal do Porto exigindo, dentre outras reivindicações, o retorno de D. João VI, a promulgação de uma constituição e a recolonização do Brasil.
Por conseguinte, D. João VI retorna a Portugal, mesmo a contragosto, deixando no Brasil seu filho D. Pedro como regente do trono brasileiro, o qual participaria do processo de independência. Traçando um paralelo entre o conteúdo abordado no livro e o ministrado no curso de graduação em Administração Pública, observa-se uma série de fatores que inibem a formação de um processo pensado e estratégico no setor público.
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Dentre as inúmeras deficiências constatadas, frisa-se a concentração do poder decisório, resistência às mudanças, corrupção e falta de controle na administração da res pública e a preponderância do interesse privado sobre o interesse público.
Passados mais de dois séculos do marco da vinda da Família Real ao Brasil, ainda podemos nos deparar com cenas do nosso cotidiano muito similares às descritas no livro. Não raro encontraremos uma organização pública administrada sob o manto daqueles mesmos laços de apadrinhamento, influência econômica e corrupção.
Mais comum ainda é a perseverança da assombrosa desigualdade social e a falta de incentivo à cultura, educação e participação política.
Ao revelar minúcias de uma época única na história brasileira, deflagra o rumo em que a sociedade estava caminhando e que infelizmente continua traduzindo um pouco da nossa vida, a exemplo do tão famoso “jeitinho brasileiro”.
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Conclui-se que a nossa realidade não mudou muito, só ficou um pouco mais colorida.