A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) exigiu nesta quarta-feira uma investigação internacional sobre o bombardeio americano contra um hospital afegão em Kunduz no qual 22 pessoas morreram.

Continua depois da publicidade

Três investigações, uma americana, uma afegã e uma da Otan, já foram diligenciadas sobre este caso, mas a MSF, que chama o ataque de “crime de guerra”, disse nesta quarta-feira que “não confia em uma investigação militar interna”.

Sua presidente, Joanne Liu, exigiu uma “comissão internacional humanitária para restabelecer os fatos” que provocaram a morte de 12 funcionários da ONG e de 10 pacientes, além da destruição do edifício principal de seu hospital em Kunduz, um estabelecimento de saúde vital para os civis presos entre o fogo dos combates entre o exército afegão e os rebeldes talibãs.

“Não se tratou apenas de um ataque contra nosso hospital, mas de um ataque contra as Convenções de Genebra. Não o toleraremos”, afirmou Liu, invocando as regras do direito humanitário em tempos de guerra.

Assinadas em 1949, as Convenções de Genebra codificam sobretudo o comportamento que os beligerantes devem adotar para proteger os feridos e doentes “em qualquer circunstância”.

Continua depois da publicidade

A MSF rejeita a palavra erro utilizada pelo general americano John Campbell, comandante dos 13.000 soldados estrangeiros mobilizados no Afeganistão, com a qual na terça-feira classificou este bombardeio.

“Infelizmente”, este bombardeio “não foi um erro”, estima Mego Terzian, presidente da MSF França.

“Não visualizavam o alvo”

Na terça-feira, ante uma comissão do Senado, o general Campbell admitiu que o hospital da MSF em Kunduz foi bombardeado por erro em um ataque americano solicitado pelos afegãos, mas decidido pela rede de comando americana.

Segundo o jornal The New York Times, que cita uma fonte próxima, o general Campbell estima que as forças especiais americanas não seguiram as regras que precedem um bombardeio, quando atacaram no sábado este centro médico em Kunduz.

Continua depois da publicidade

Um bombardeio é legítimo apenas em caso de “eliminação de terroristas, proteção de soldados americanos em dificuldade e em apoio às tropas afegãs”, explica o jornal.

“Muito provavelmente” o ataque de Kunduz “não entra em nenhuma destas categorias”, afirmou o general Campbell em declarações privadas divulgadas ao jornal por pessoas próximas a ele.

Pior ainda, as forças americanas que realizaram este ataque não visualizavam o alvo que seus colegas afegãos pediam para atacar, segundo a mesma fonte.

Para justificar o bombardeio, o exército afegão afirmou que havia talibãs dentro do estabelecimento de saúde.

Continua depois da publicidade

Kunduz era uma cidade estratégica do norte do Afeganistão, perto da fronteira com o Tadjiquistão, que há alguns dias caiu nas mãos dos talibãs, antes de ser tomada pelas forças afegãs.

Atualmente, “a maior parte” de Kunduz está sob o controle das tropas afegãs, afirma Campbell.

Mas o fato de os talibãs terem conseguido se apoderar desta cidade, embora brevemente, mostra as dificuldades enfrentadas pelas forças afegãs para conter os combatentes islamitas.

O general Campbell, que reconhece esta situação, propôs reforçar o dispositivo militar americano depois de 2016.

Continua depois da publicidade

Mas pelo momento os Estados Unidos preveem manter no Afeganistão apenas 1.000 soldados, contra 9.800 atualmente. Esta força se centraria na embaixada americana em Cabul.

Em seus 14 anos de presença no Afeganistão, Washington gastou 60 bilhões de dólares para constituir um exército nacional afegão.

Mas apesar destes esforços o exército “não possui a capacidade de combate e as forças para proteger todas as regiões do país”, disse Campbell.

* AFP