Os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), responsáveis pelas investigações que culminaram na prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) nesta quinta-feira (21), afirmam que o político seria o chefe de uma suposta quadrilha especializada em assaltar os cofres públicos. Segundo os investigadores, o grupo atuava há cerca de 40 anos em todas as esferas do poder público.
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Na tarde desta quinta, o advogado Eduardo Carnelós, que defende Temer, divulgou nota classificando a prisão como um "dos mais graves atentados ao estado democrático e de direito no Brasil". Carnelós entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). O recurso foi distribuído para o juiz federal Ivan Athié.
O ex-presidente foi detido em uma investigação decorrente da Operação Lava-Jato. De acordo com essa investigação, ele é suspeito de ter recebido propina da construtora Engevix, por um contrato firmado entre a empresa a estatal Eletronuclear. Esse contrato gerou pagamentos ilegais de pelo menos R$ 1,1 milhão. O valor foi pago por meio de uma obra na casa da filha de Temer, Maristela Temer.
Essa propina seria apenas uma das várias que foram pagas ou prometidas para o grupo criminoso, segundo os procuradores. De acordo com a investigação, estima-se que o total que a suposta quadrilha deveria receber chega a R$ 1,8 bilhão.
— Estranho seria se Michel Temer não estivesse preso. A prisão dele é consequência lógica dos crimes que ele praticou uma vida inteira, pertencendo a uma organização criminosa muito sofisticada — afirmou o procurador Eduardo El Hage.
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Conforme o MPF, o grupo atuava indicando pessoas para cargos de importância na administração pública, independente de possuírem qualificação ou não. Em troca dessas indicações, as pessoas facilitavam contratos com empresas dispostas a pagar as propinas. Os procuradores dizem que, em todos os casos, o beneficiário era Temer.
— Existe uma planilha que demonstra que foram feitas, promessas de pagamentos ao longo de 20 anos, para o codinome MT, ou seja, Michel Temer. Isso representa a continuidade do grupo ao longo dos anos — explica a procuradora Fabiana Schneider.
— Todos os órgãos públicos onde houvesse a influência do PMDB havia a possibilidade e a oportunidade de ganho espúrio — acrescenta Hage.
Conforme a investigação, o grupo tinha atuação bastante sofisticada. Além da lavagem do dinheiro ilícito recebido, eles também atuavam para atrapalhar as investigações. Entre as ações que a quadrilha executava, segundo os procuradores, havia o monitoramento de investigadores, produção de documentos falsos e combinação de versões de depoimentos a serem prestados à Justiça, com o objetivo de validar versões inverídicas apresentadas às autoridades.
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O procurador Rodrigo Timóteo afirma que apesar do número de R$ 1,8 bilhão em propinas já ter sido confirmado pelas investigações, essa quantia ainda é preliminar e pode aumentar, dependendo do andamento das investigações.
— É uma organização criminosa que se infiltrou dentro da administração política brasileira. E isso fundamentou uma ocorrência de crimes que perduraram durante anos. Alguns contratos com essas empresas perduram até hoje. Ou seja, empresas que fizeram a corrupção continuam até hoje. Há a possibilidade de crédito de propina e da lavagem do dinheiro.