O leite adulterado com água oxigenada pode ter chegado à mesa dos consumidores, avalia o Ministério Público Estadual (MPE). Mas as empresas que fizeram a denúncia dizem que o produto fraudado não foi vendido.
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Conforme Alcindo Bastos, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do MPE, ainda que a indústria tenha tecnologia para detectar o peróxido de hidrogênio (propriedade da água oxigenada), carregamentos de leite com baixa concentração da substância podem ter passado pelos testes sem acusar fraude:
– A água oxigenada se decompõe rapidamente no leite. Não podemos ter certeza, mas é possível que essa substância já tivesse se transformado em água quando algumas entregas foram feitas.
O MPE esclarece, porém, que dificilmente leite com grande quantidade de água oxigenada possa ter burlado testes, uma vez que causaria desequilíbrio na estrutura do alimento e seria detectado. Foi ao verificar alta incidência de água oxigenada que indústrias alertaram o MPE da suspeita de fraude.
– Em pequena quantidade, a água oxigenada afeta a qualidade do alimento, elimina vitaminas e microrganismos, mas não chega a prejudicar a saúde – explica Cláudio Luis Frankenberg, professor de Toxicologia de Alimentos da PUCRS.
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Responsável por averiguar o leite que chega aos postos, o Ministério da Agricultura no Estado garante que a fiscalização é eficiente e tem sido melhorada. O superintendente do órgão no Estado, Francisco Signor, afirma que a descoberta da adulteração ontem é fruto do aperto na fiscalização nas indústrias a partir dos episódios anteriores.
– Ninguém precisa se apavorar com o leite – afirma Signor, que diz confiar na qualidade de todas as marcas com carimbo da inspeção federal.
Em nota, a Laticínios Bom Gosto informou que a adulteração foi detectada no primeiro de três pontos de checagem e, dessa forma, assegura que “esse leite não entrou em nenhum estabelecimento da empresa, logo, não foi usado na fabricação de nenhum produto”.
Segundo Marcelo Mallmann, diretor da Laticínios Mallmann, não há risco de o leite adulterado ter sido vendido ao consumidor:
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– O produto fraudado foi descartado imediatamente após os resultados dos testes e deixamos de receber do fornecedor.
O descuido com a qualidade pode ser um dos motivos das novas denúncias de adulteração de leite, avalia Jorge Schulz, coordenador do Centro de Pesquisa em Alimentação da Universidade de Passo Fundo:
– Parte das indústrias continua levando em conta mais a quantidade do que a qualidade do produto que recebe. À medida que são tolerantes com índices mais elevados de acidez e menor de proteínas, por exemplo, abrem espaço para adulteração.
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Os efeitos no organismo
Água oxigenada
Pode ser adicionada para eliminar bactérias que atuam na deterioração do leite. A ingestão diluída no produto dificilmente causaria dano ao organismo, pois seria em pequena quantidade. O prejuízo à saúde está na eliminação de propriedades do alimento: no processo de transformação em água, elimina bactérias e vitaminas A e E do leite. Em volume maior, pode causar corrosão no sistema digestivo ou diarreia.
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Ureia
Usada para ludibriar os testes de qualidade, ao repor o nível de nitrogênio perdido com adição de água. O dano à saúde está na presença de algumas substâncias em sua composição, como o formol.
Formol
Substância presente na ureia, o formaldeído (estrutura orgânica do formol) é altamente tóxico se ingerido ou inalado. Consumido em pouca quantidade mas com frequência, pode desenvolver mutação genética e levar ao câncer.
Soda cáustica
Utilizada para baixar o pH do leite e disfarçar eventual azedamento. É mais agressiva à saúde do que água oxigenada ou formol, pois mantém resíduos inclusive após o processamento. Pode causar problemas gástricos mesmo se ingeridas em baixa quantidade.
Álcool
Pode ser acrescentado para equilibrar o pH do leite ou em razão de falha na limpeza nos tanques. Evapora-se facilmente, por isso é raro de ser encontrado no alimento. Pode causar irritação no sistema digestivo se ingerido em alta quantidade.
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Contaminação por bactéria
Pode ser causada quando o leite é armazenado sob temperatura inadequada ou em locais em más condições de higiene. Bactérias provocam azedamento e aceleram a deterioração do leite, levando a quem consome a apresentar infecção estomacal.
Fontes: Cláudio Luis Frankenberg, professor de Toxicologia de Alimentos da PUCRS, Jorge Schulz, coordenador do Centro de Pesquisa em Alimentação da UPF, e Gerônimo Friedrich, engenheiro químico do MPE