Subir ou descer a Serra Dona Francisca em qualquer horário do dia já é um teste para o coração e para a prudência dos motoristas que percorrem os 68 quilômetros da SC-418. À noite, então, o desafio aumenta, não só pela complexidade da rodovia, que tem quatro curvas perigosas entre os km 13 e 24, mas, principalmente, pelos problemas de infraestrutura da pista.
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O trecho está com o asfalto rachado, tem buracos, placas encobertas por vegetação e, principalmente, ausência de iluminação em diversos pontos. Muitos dos postes que deveriam iluminar a pista da serra estão desligados, tornando o percurso ainda mais perigoso depois que anoitece.
O governo do Estado, via Secretaria de Estado de Planejamento, já anunciou que há interesse em privatizar a SC-418, assim como a SC-108 (Rodovia do Arroz), pois não tem recursos suficientes para fazer a manutenção dessas rodovias. Enquanto isso não acontece – a previsão é de que o leilão ocorra apenas em 2019 –, a Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Joinville tem realizado serviços permanentes de manutenção em rodovias com a da Serra Dona Francisca.
Uma empresa foi contratada em abril deste ano, por meio de licitação, para fazer serviços de tapa-buracos, roçada e limpeza de sarjetas em oito estradas da região, entre elas, a SC-418. O valor do contrato é de R$ 539 mil.
A equipe de reportagem do jornal “A Notícia” percorreu a rodovia nos dias 17 e 18 deste mês e verificou a existência de buracos na subida da serra, sinalização horizontal apagada em vários pontos e placas cobertas pela vegetação. Ficou fácil compreender a insegurança de se fazer o trajeto entre Campo Alegre e Joinville no período da noite.
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Segundo a ADR, a equipe da empresa executou serviços de tapa-buraco nos dias 13 e 19 deste mês. A roçada da vegetação na SC-418, de responsabilidade da mesma empresa, deve ocorrer na segunda quinzena de novembro. No momento, a equipe trabalha no trecho da rodovia no município de São João do Itaperiú.
O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) informou que também vem fazendo uma operação tapa-buracos no trecho de 26 quilômetros entre São Bento do Sul e o alto da Serra Dona Francisca desde o início de outubro, assim como o trabalho de pintura asfáltica e a instalação de novas placas de sinalização ao longo da estrada.
O pavimento de concreto e a instalação de placas verticais alertando o motorista para que reduza a velocidade também estão sendo reforçadas. Na questão da iluminação, a maior dificuldade apontada pelo Deinfra refere-se aos atos de vandalismo. Segundo o órgão estadual, as lâmpadas são quebradas, e os fios de cobre, roubados. Uma nova licitação está prevista para ocorrer até o fim deste ano para a compra e instalação de novas lâmpadas.
Um refúgio para os motoristas
Na hora em que a comerciante Sandra Camargo, 52 anos, apaga a luz de sua lanchonete, às margens do km 14 da SC-418, por volta das 20 horas, tudo fica escuro. Os postes em frente à loja e à casa dela, que ficam um pouco antes do mirante da Serra Dona Francisca, estão estragados.
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Cuidando da lanchonete há cerca de dois anos, Sandra fica sabendo de acidentes “um dia não, dois dias sim”, e o seu terreno é usado frequentemente pelos motoristas que procuram segurança quando o breu da estrada se confunde com a neblina, impedindo a visão à noite nos locais sem postes em funcionamento.
– Quando chove, a pista vira um sabão. Deveria haver uma área de escape para os caminhões, pelo menos na “curva da morte”. Ali, é só olhar para baixo que você a quantidade de peças de carros que sofreram acidentes – afirma Sandra, referindo-se à primeira curva da descida da serra.
A comerciante também reclama da falta de sinalização horizontal e da manutenção dos olhos de gatos que ajudam os motoristas a se orientar na pista quando não há iluminação.
Os motoristas Algacir Rodrigues, 27 anos, e Wilson de Andrade, 41, que trabalham em uma fabricante de isopor de São Bento do Sul, contam que todos os dias há pelo menos um motorista da empresa descendo a serra em direção a Joinville e às cidades do Litoral Norte. Geralmente, as viagens são feitas à noite e, além da insegurança pelos problemas de infraestrutura, eles reclamam da imprudência dos outros motoristas.
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– Tem muitos que ficam “podando” em faixa dupla, ultrapassando na curva. O pior é na região do Rio do Júlio. Ali tem acidentes toda semana – afirma Algacir.
Mais prudência, menos velocidade
Em frente ao posto da Polícia Militar Rodoviária Estadual (PMRv) de Campo Alegre, na SC-418, uma placa avisa que a rodovia já contabiliza 95 dias sem acidentes com morte. A meta do sargento Sandro Moeke está próxima: ele pretende chegar a 100 dias, mesmo que o recorde do trecho seja de 243 dias sem óbitos.
– Este é o recorde, mas a média é passar, no máximo, 55, 60 dias sem acidentes com morte. Chegar ao 100º dia será uma conquista – avalia ele.
Entre as atividades dos policiais militares que atuam no posto da PRMv estão a de reportar todas as falhas que percebem na rodovia, dos buracos no asfalto à ausência de placas, à Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) e ao Deinfra. No entanto, o sargento Moeke, que está desde 2015 à frente da administração do posto de Campo Alegre, avisa que, apesar destes problemas serem um complicador no tráfego, a maior parte dos acidentes ocorre por negligência de motoristas que não respeitam o limite de velocidade e fazem ultrapassagens em locais perigosos.
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A PMRv encomendou um estudo técnico para solicitar a instalação de um ponto de radar no local, estipulando velocidade máxima de 40 km/h. Ele deve ser apresentado até o fim do mês ao Deinfra. Atualmente, há 23 radares distribuídos nos 68 quilômetros da SC-418. O novo ponto de fiscalização eletrônica possibilitará a utilização do radar portátil e, com isso, existe a expectativa de maior conscientização dos motoristas que trafegam na Serra Dona Francisca.
– O objetivo é educar e prevenir. A gente sabe que, quando há radar móvel, os motoristas avisam uns para os outros com sinal de luz. Dessa forma, as pessoas já começam a reduzir a velocidade até antes do necessário. É ótimo, porque a ideia não é multar, é evitar os acidentes – afirma Moeke.
Confira o número de acidentes registrados na rodovia nos últimos anos
2015
Total de acidentes: 384
Acidentes com vítimas: 113
Acidentes sem vítimas: 271
Número de mortos: 55*
Número de feridos: 169
2016
Total de acidentes: 331
Acidentes com vítimas: 141
Acidentes sem vítimas: 190
Número de mortos: 7
Número de feridos: 233
2017**
Total de acidentes: 320
Acidentes com vítimas: 118
Acidentes sem vítimas: 202
Número de mortos: 6
Número de feridos: 169