Há um ano Alexandre Correia da Silveira estava entre a vida e morte, caminho, então, mais provável. A pele corada, o cabelo negro vivaz e os olhos verdes que agora brilham condizem com o renascimento que foram os últimos 12 meses para o motorista de caminhão. Na abafada e quente primeira terça-feira de dezembro de 2013 Alexandre passou seis horas de cabeça para baixo na Vila Itoupava.

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As ferragens do caminhão tombado no fundo de um barranco pesando 10 toneladas lhe prenderam as pernas. Perdeu uma delas. Ganhou nova vida. O Alexandre de hoje pouco lembra o Alexandre de janeiro. Trinta dias no hospital, UTI, transfusões de sangue, 14 quilos a menos, abatido. A dor no corpo fragilizado somada o do membro perdido – que não se recuperou do esmagamento – e a rotina virada de ponta cabeça.

Se até aquele 3 de dezembro não tinha noção do que passaria nos próximos meses, pouco imaginava a força que precisaria para recolocar a vida de volta à posição normal. A força conjunta da família, a fé em Deus, a esposa, Olinda, e os amigos – especialmente da Igreja Assembleia de Deus- o ajudaram nessa guinada. A nova condição lhe impôs exigências, mas não por muito tempo.

Da esposa e dos familiares mais próximos dependeu para as atividades mais básicas. A fisioterapia o ajudou na recuperação da força física. Não foi à toa que o destino da primeira saída de casa – que não fosse a visita ao médico – foi a igreja. Não se conformou com as duas rodas que dependia.

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Para conseguir voltar a caminhar, descobriu que precisaria transpor o que antes parecia impossível. A prótese custa R$ 41 mil. Esperar cinco anos – média de tempo na fila do SUS – não estava nos planos. Metade do valor foi pago por meio de um acordo com a empresa em que Alexandre trabalha. Dos R$ 21 mil que faltavam, R$ 16 mil vieram do esforço próprio e de quem lhe quer bem, mesmo desconhecidos. Foram vendidas 1,6 mil rifas a R$ 10 cada e o sorteio foi da moto do casal.

A sugestão da rifa partiu de um amigo da igreja. De bilhete em bilhete descobriram muito mais gente disposta a ajudar do que imaginavam, apesar de uma ou outra decepção. Três meses depois, não tinham mais a moto, mas arrecadaram o valor, que somado a parte do Seguro DPVAT foi suficiente para comprar a prótese e bancar o tratamento necessário à adaptação.

Há duas semanas Alexandre experimenta as passadas livres de muletas. No membro de metal, enxerga a retomada dos planos para o futuro. Se há pouco menos de um ano a perda lhe causou insegurança e até vergonha, hoje vê na trajetória que se dispôs a encarar a reconquista da liberdade de ir e vir e é orgulhoso por isso. Não vê motivo para esconder a perna de metal. Pelo contrário. Não se incomoda com perguntas ou olhares indiscretos. Só não aceita um sentimento.

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– Ter a prótese não é motivo de pena. Minha vida vai continuar normal. Vou poder fazer tudo o que fazia antes – conta Alexandre.

Se por um lado 2014 foi de superação, ainda com o agravante da perda do pai de Olinda, também trouxe boas notícias: a conquista da casa própria e a chegada do sobrinho Vinicius. Os planos de 2015 são de retomar a rotina e os sonhos – entre eles do negócio próprio – que ficaram parados desde às 13h47min do dia 3 de dezembro de 2013. Ainda não tem certeza se vai voltar a dirigir caminhão. Mas agora com a vantagem de que sabe que é capaz de muito mais do que poderia imaginar.

Assista ao vídeo do resgate de Alexandre:

Em abril, Alexandre reencontrou representantes do Corpo de Bombeiros e Samu, que fizeram o seu resgate:

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