Depois de 132 dias distantes, nesta segunda-feira foi dia do reencontro de Alexandre Correia da Silveira com quem o ajudou a manter a vida, que por pouco não escapou.
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Desta vez com camisa social alinhada e uniforme como mandam as regras da corporação, Alexandre Zamuner, médico intervencionista do Samu e o segundo-sargento do Corpo de Bombeiros de Blumenau Dorval Zeferino, lembraram aquele 3 de dezembro de tempo quente e abafado, apesar do azul e nuvens esparsas bordando o céu.
Aquela tarde foi cinza. Semblantes pesados, testas suadas, uniformes sujos de barro, olhares cruzados entre quem precisava desatar um nó de metal dentro de um buraco de 20 metros de profundidade com pressão de 15 toneladas colocando em risco uma vida frágil, mas forte. De cabeça para baixo, preso pelo pé direito, Silveira lutou acordado por seis horas durante o resgate na SC-108, próximo à entrada de Luis Alves. O caminhão que dirigia tombou. Foram dias difíceis até que a tarde de desta segunda-feira fosse azul.
Na rua, a brisa fresca do outono e o mau humor do clima. Mas na sala pequena com estofados marinho, o reencontro dos que pensaram que talvez não se vissem mais. Zamuner e Zeferino representaram as equipes que socorreram Silveira, que somou, ao todo, cerca de 100 pessoas entre atendimento local e apoio remoto.
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O reencontro não seria diferente do dia em que se conheceram. Sem afetação, o reconhecimento estava no sorriso de quem teve a vida em mãos alheias por seis horas – e outros tantos dias mais. A atitude de Silveira foi diferente desde o início, recordou Zamuner:
– Lembro que logo no início tentei descontrair, falei que eu também era Alexandre, mas foi firme, perguntando quando tiraríamos ele de lá. Normalmente as pessoas pedem para não deixarmos elas morrerem, se desesperam, mas ele foi diferente. Se manteve o tempo todo acordado.
>>> Assista ao momento do reencontro
>>> Alexandre trilha caminho para recuperação
Lembraram das tentativas de retirar Silveira das ferragens. Zeferino, bombeiro há 28 anos, conta que foi o atendimento mais difícil de toda a carreira. Tudo ia contra Silveira. O caminhão estava inclinado, com toda a carga pressionando a cabine retorcida que estava semienterrada. O motorista, preso ao emaranhado de aço que insistia em manter-se rijo. Ao alto, uma rede de energia elétrica complicava o trabalho de guindastes e guinchos que tentaram levantar a carroceria para soltar a cabine.
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O sol ensaiava ir embora e o helicóptero Águia, de Joinville, já havia recebido o comando para voltar à cidade quando arriscaram a última tentativa de tirar Silveira ainda com luz do dia. Entre a vida e o membro cogitaram, em último caso, tirar o pé de Silveira. Não esqueceram do calor do sol a pino aliviado pelo sorvete doado por um entregador sensibilizado com a situação.
– Era de limão. De onde será que veio aquele sorvete tão gelado? – brinca Zeferino, contando que com tantos atendimentos por dia, raramente tem a chance de visitar alguém que ajudou a socorrer e a surpresa de reencontrar Silveira, que chegou a pensar que não sobreviveria.
Zeferino e Zamuner compartilham a sensação – e as estatísticas – de que o número de acidentes de trânsito tem aumentado e com consequências cada vez mais graves. Silveira nadou contra a maré.
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– O Alexandre renasceu. Há muita gente que por menos acaba não sobrevivendo. É uma satisfação ver que ele está bem e quero voltar quando estiver com a prótese – comemora Zamuner.