Um motorista de ônibus e dois estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão entre os personagens centrais das lideranças da Ocupação Amarildo. São atuantes na coordenação e demonstram rigor na defesa do movimento.

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Um dos mais atuantes ao lado de Rui Fernando é Fábio Coimbra Ferraz. Aos 28 anos, o estudante de Agronomia da UFSC é uma das principais vozes de comando do acampamento. Por várias vezes, foi visto em conversações dos líderes com as autoridades e também no clima tenso após a invasão no Rio Vermelho, quando buscou o diálogo com a Polícia Militar.

– Quando um não quer dois não brigam. Pode chamar a Força Nacional de Segurança, mas só vamos sair daqui dentro da legalidade – disse Fábio ao coronel João Henrique Silva, comandante da 1ª Região da PM na negociação tensa gerada pela revolta dos moradores com a ocupação, na SC-406.

Na universidade, Fábio é conhecido pelo perfil ativista. Ele entrou em 2009, fez parte do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Centro Acadêmico de Agronomia. Em 2012 e 2013 foi classificado pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis para receber auxílio-moradia. A lista de 2014 ainda não foi divulgada.

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Fábio estaria 100% dedicado à ocupação e colegas dizem que ele não está indo às aulas. Trabalha com agroecologia e no acampamento era responsável por ensinar os ocupantes a produzir alimentos orgânicos. Depois do retorno para Maciambu, proibiu integrantes do acampamento de falar com a imprensa.

Jorge Luiz da Silva Martins, o motorista

Foto: Betina Humeres/Agência RBS

Gaúcho de Porto Alegre, Jorge Luiz da Silva Martins, 38 anos, permanece acampado com a mulher e também figura entre as principais vozes do Amarildo. Trabalhava como motorista de ônibus em Florianópolis e morava na Vargem Grande, próximo ao primeiro acampamento, na SC-401. Chegou ao acampamento no dia 20 de dezembro dizendo estar afastado do trabalho por problemas de saúde.

No acampamento, chama a atenção por ser visto circulando com um carro importado. Seria um dos responsáveis pelo transporte dos ocupantes. Ele também auxiliava no cultivo da horta orgânica. Em entrevista ao jornal Hora de Santa Catarina, disse que pagava aluguel de R$ 800 na Vargem Grande e que mantém família de cinco filhos ao lado da mulher.

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Cristiano Mariotto, de cocar, é conhecido como Índio

Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS

Apesar de constar como uma das lideranças da ocupação em documento assinado na audiência de conciliação do dia 7 de fevereiro, Cristiano Mariotto, conhecido como Índio, tem sido pouco visto na ocupação.

Ligado ao curso de Serviço Social da UFSC, onde em fevereiro apresentou dissertação de mestrado, desenvolveu projetos de extensão junto à comunidade indígena do Morro dos Cavalos. Ele também tem experiência em assentamentos de reforma agrária e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Filiado e militante do PT há 16 anos é ligado ao vereador Lino Peres (PT).

Mariotto participou de outras manifestações na Grande Florianópolis, como o protesto que bloqueou o trânsito na BR-101 Sul com o grupo indígena de Morro dos Cavalos pela demarcação da terra e de manifestações do Passe Livre no ano passado. Em julho chegou a ser detido por PMs em manifestação no terminal de ônibus do Centro.

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Lembre a história da ocupação:

16 de dezembro de 2013 – Inicia-se a ocupação em terreno localizado em uma das margens da SC-401, no norte da Ilha de SC. Integrantes batizam o acampamento de Amarildo de Souza.

07 de fevereiro – Realizada a primeira audiência de conciliação no Fórum de Florianópolis. Em uma negociação que durou mais de cinco horas, ocupantes e proprietários da área definiram que o prazo máximo da desocupação seria 15 de abril.

08 de fevereiro – Técnicos do Incra vão até o acampamento para cadastrar as famílias para o possível assentamento.

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07 de abril – Integrantes do acampamento começam a dar indícios de que o acordo de desocupação seria descumprido. Por inúmeras vezes, a partir desta data, há bloqueios no trânsito da SC-401.

10 de abril – Ocupantes ingressam com ação judicial para rever o acordo firmado na audiência de conciliação. Eles argumentam que as terras são de propriedade da União e não privada, como se discutia anteriormente.

12 de abril – Durante a madrugada integrantes do acampamento começam a mudar para um outro terreno, mais ao fundo da ocupação à margem da SC-401. Houve intervenção da polícia e eles retornaram.

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14 de abril – Pela manhã o juiz agrário Rafael Sandi participa de reunião no Incra, para providenciar uma área provisória aos ocupantes do terreno da SC-401. À noite, uma reunião no gabinete da deputada Luciana Carminati (PT) apresenta a área alugada pelo padre Luiz Prim como um possível destino aos integrantes do acampamento.

15 de abril – Incra oferece área já demarcada para fins de reforma agrária no município de Canoinhas. Os integrantes da ocupação não aceitam e seguem para o terreno alugado por padre Luiz Prim, em Palhoça. À noite, é assinado um termo em que os ocupantes prometem deixar a área em seis meses.

16 de abril – Advogado da proprietária do terreno comunica à Justiça que a ocupação não poderia ter ocorrido e pede intervenção. Na terça-feira que vem, se nenhuma decisão for tomada, ele irá ingressar com processo de reintegração de posse do terreno.

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20 de abril – Parte dos integrantes da Ocupação Amarildo invade um terreno na SC-406, no bairro Rio Vermelho, no norte da Ilha. A área pertence à União, cedido à Fundação Lar Recanto da Esperança, que teria acionado a polícia para evitar a ocupação.

21 de abril – Integrantes entram em confronto com moradores do Rio Vermelho e são transferidos para terreno na região do Maciambu, em Palhoça.