Já virou tradição. Chega o fim do ano e os cinéfilos porto-alegrenses ganham, de presente, uma seleção de filmes inéditos, aguardados e, em alguns casos, consagrados no circuito de festivais.
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Até pouco tempo batizada Seleção Bourbon, a Seleção de Filmes chega em 2012 à nona edição. Começa nesta quinta-feira, com a exibição do longa português O Cônsul de Bordeaux, de João Correa e Francisco Manso, e prossegue até o dia 29 com sessões diárias de 20 títulos de diversas procedências nos cinemas dos cinco shoppings Bourbon da Capital e da Região Metropolitana (Country, Ipiranga, Wallig, Novo Hamburgo e São Leopoldo).
– É a seleção mais vitaminada que já fizemos – festeja o curador Júlio Rosa. – Lembro da primeira edição, acanhada, ainda buscando espaço no nosso calendário cultural. Ano que vem, na décima, vamos fazer algo especial, podem aguardar.
O evento que marca o início da maratona não é fechado: há ingressos à venda, ao preço das sessões usuais de cinema, para assistir ao filme de abertura, às 21h30min, no Espaço Itaú. Tradição recente do evento, a sessão de amanhã terá início com um clássico da produção local de curtas-metragens – o escolhido desta edição é O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, que Jorge Furtado e José Pedro Goulart realizaram em 1986.
O Cônsul de Bordeaux é uma cinebiografia de Aristides de Sousa Mendes, diplomata português da região de Bordeaux que contrariou ordens de seu governo e concedeu mais de 30 mil vistos de entrada em Portugal à época da invasão da França pela Alemanha de Hitler – e ficou conhecido como o “Schindler luso”. É uma aposta da curadoria da mostra, já que se trata de um título que não tem o carimbo dos grandes festivais internacionais – ao contrário dos destaques mais retumbantes da seleção.
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Entre estes estão No, produção chilena de Pablo Larraín (o diretor de Tony Manero) sobre o fim da ditadura de Pinochet, que comoveu plateias no Festival de Cannes e na Mostra de São Paulo, e César Deve Morrer, filme da volta triunfal da dupla Paolo e Vittorio Taviani que venceu o Leão de Ouro em Berlim 2012. Curioso e impactante, este filme semidocumental encena os bastidores da montagem de Júlio César, de Shakespeare, por detentos de uma penitenciária de segurança máxima nos arredores de Roma.
Entre os 20 longas há, ainda, os mais recentes de Marco Belocchio (A Bela que Dorme, premiado em Veneza e São Paulo), Thomas Vinterberg (A Caça, vencedor de três troféus em Cannes, entre eles melhor ator para Mads Mikkelsen), Ken Loach (A Parte dos Anjos, prêmio especial do júri em Cannes) e François Ozon (Dentro de Casa).
Este ano as atrações nacionais também são um ponto alto: serão exibidos o novo filme de Domingos Oliveira (Paixão e Acaso) e os dois principais vencedores do Festival de Gramado 2012, Colegas, de Marcelo Galvão, e a coprodução Uruguai-Brasil Artigas – La Redota, notável investigação da vida do herói pampiano dirigida por César Charlone.
Era uma Vez Eu, Verônica e Abismo Prateado, respectivamente o terceiro longa do pernambucano Marcelo Gomes e o quarto do cearense Karim Aïnouz (correalizadores de Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo), terão suas primeiras exibições no Rio Grande do Sul na seleção. O diretor argentino Eliseo Subiela, que trará Paisagens Devoradas, é a principal atração entre as sessões comentadas – até o fechamento desta edição, havia três debates confirmados.
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O projeto é do grupo Zaffari, com produção da Panda Filmes. Acompanhe a programação completa no roteiro de cinema da Agenda e confira outras informações no site oficial do evento.
Os filmes da semana
Os amantes do bom cinema que quiserem ter acesso a alguns dos títulos mais comentados pela crítica internacional nos últimos meses terão de encarar uma verdadeira maratona. Depois da abertura, nesta quinta-feira, a 9ª Seleção de Filmes oferecerá ao público uma semana inteira com duas sessões diárias em cada um dos cinco Bourbons localizados entre Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Leopoldo (sempre a partir das 19h). Há filmes muito aguardados e outros um pouco menos, como você pode ver abaixo, mas quase todos com histórico de recepção positiva em suas premières mundiais, realizadas nos festivais de Cannes, Berlim, Veneza, Toronto, San Sebastián e, também, Gramado. Confira um pouco mais de cada um dos 20 longas da seleção:
César Deve Morrer – Os celebrados irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani foram os grandes vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2012 com esta mistura de ficção e documentário. Os protagonistas são detentos da prisão de segurança máxima da Rebibbia, que fazem uma montagem da peça Júlio César, de William Shakespeare. O filme traz o registro tanto da encenação quanto dos bastidores dos “atores” em sua rotina carcerária.
Killer Joe: Matadores de Aluguel – Primeiro a fazer sucesso entre os jovens realizadores que sacudiram o cinema americano no começo dos anos 1970, com Operação França, William Friedkin emendou outro êxito com O Exorcista e viu sua carreira entrar em declínio por conta de escolhas equivocadas e de sua persona arrogante e colérica. Parece que retomou a velha forma. Depois do ótimo Possuídos (2006), ele está de volta com violento Killer Joe. O personagem-título é um policial psicopata (Matthew McConaughey) que presta serviços como matador profissional. Ele é contratado por um traficante endividado (Emile Hirsch), que deseja eliminar a própria mãe e oferece como garantia ao tira sua irmã adolescente.
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A Bela que Dorme – Depois do espetacular Vincere e do elogiado docudrama autobiográfico Irmãs Jamais (inédito na Capital), o italiano Marco Bellocchio encena a história real de Eluana Eglaro, que passou 17 anos em coma vegetativo enquanto seu pai buscava autorização para desligar os aparelhos que a mantinham viva. Em foco, o debate afetivo, moral, legal e religioso que cercou o episódio. Vencedor do melhor ator jovem (Fabrizio Falco) no Festival de Veneza.
A Caça – O festejado cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg teve há pouco exibido por aqui o contundente Submarino. Agora, apresenta a história de um professor (Mads Mikkelsen) acusado de tentar molestar uma aluna. Mesmo sem comprovação do fato, a histeria coletiva em sua pequena comunidade arruína sua vida. Mikkelsen ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes.
A Parte dos Anjos – Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o novo filme do britânico Ken Loach tem como protagonista um rapaz do subúrbio de Glasgow (Paul Brannigan) que, diante do nascimento do filho, tenta escapar da vida marginal arrumando emprego na fabricação de uísque.
Dentro de Casa – O prolífico diretor francês François Ozon apresenta na sequência de Potiche – Esposa Troféu a conflituosa relação de um professor e um aluno adolescente em quem ele vê talento literário – mas o rapaz é invasivo e tem caráter duvidoso. No elenco, Fabrice Luchini e Kristin Scott Thomas.
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Atrás da Porta – Revelado no circuito internacional nos anos 1980, com Mephisto e Coronel Redl, o húngaro István Szabó conta com a ótima Hellen Mirren, que protagoniza trama sobre escritora que cria estranho vínculo com uma serviçal.
Paisagens Devoradas – Um dos mais importantes cineastas latino-americanos, o argentino Eliseo Subiela volta com um falso documentário sobre um suposto diretor veterano (Fernando Birri) que vive em um hospital psiquiátrico. O diretor do clássico Homem Mirando ao Sudeste (1986) participa de uma sessão comentada de Paisagens Devoradas no dia 26, às 21h30min, no Espaço Itaú.
Era uma Vez Eu, Verônica – Vencedor do Festival de Brasília e do Festival do Amazonas, o novo filme de Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus) acompanha os dilemas afetivos e profissionais de uma jovem médica recifense (Hermila Guedes, em elogiada atuação).
Colegas – Grande vencedor do mais recente Festival de Gramado, o longa brinca com gêneros como a comédia, o filme de estrada e o drama para acompanhar a fuga de uma instituição de três jovens com síndrome de Down. O diretor Marcelo Galvão estará na sessão comentada de Colegas no dia 23, às 21h30min, no Cinemark Ipiranga.
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Paixão e Acaso – O cineasta Domingos Oliveira volta com um filme sobre o impasse de uma psicanalista (Vanessa Gerbelli) apaixonada por dois homens, ignorando, no entanto, que seus amores são pai e filho (Aderbal Freire Filho e Pedro Furtado).
Artigas – La Redota – Ganhador do Kikito de Longa Estrangeiro, a cinebiografia dirigida por César Charlone (O Banheiro do Papa) traça um retrato complexo e contraditório do libertador uruguaio José Artigas.
O Abismo Prateado – Este belo drama de Karim Aïnouz (O Céu de Suely) acompanha 24 horas na vida de Violeta (Alessandra Negrini, na melhor atuação de sua carreira), que entra em crise quando escuta uma mensagem do marido na secretária eletrônica dizendo que vai abandoná-la. Melhor Diretor no Festival do Rio.
No – O filme mostra a luta de um jovem publicitário (Gael García Bernal) para liderar a campanha oposicionista no plebiscito de 1988 que decidiu pela permanência ou não do ditador chileno Augusto Pinochet. O drama do realizador Pablo Larraín foi premiado no Festival de Cannes.
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Renoir – Veterano ator de 87 anos e trabalhos com, entre outros diretores, François Truffaut, Michel Bouquet interpreta Pierre-Auguste Renoir (1841 – 1919) neste longa-metragem assinado por Gilles Bourdos (o diretor de Inquietudes e Depois de Partir). A trama acompanha os últimos dias do célebre pintor impressionista francês, atormentado pela perda da mulher mas, em seguida, revigorado pela descoberta de uma nova – e última – musa. Crazy Horse – Documentário realizado pelo veterano diretor norte-americano de títulos não ficcionais Frederick Wiseman, que aqui pratica seu cinema-verdade acompanhando o dia a dia da célebre boate parisiense de striptease Crazy Horse. Infância Clandestina – Premiado nos festivais de Havana, em Cuba, e San Sebastián, na Espanha, este drama do cineasta argentino Benjamin Ávila tem como base as memórias do próprio diretor. A trama acompanha um menino de 12 anos (Teo Gutiérrez Romero) e seus pais revolucionários durante a ditadura militar dos anos 1970. Natalia Oreiro, Ernesto Alterio e César Troncoso (de O Banheiro do Papa) integram o elenco. O Último Elvis – Esta elogiada produção argentina assinada pelo realizador Armando Bo, exibida em Sundance (EUA) e premiada em San Sebastián, acompanha as transformações na vida de um cover de Elvis Presley de Buenos Aires, que vive acreditando ser uma reencarnação do Rei do Rock até que problemas pessoais o obrigam a deixar a persona artística de lado e viver a própria vida. Continua depois da publicidade O Amante da Rainha – Escolhido para representar a Dinamarca na corrida do Oscar e ainda vencedor dos prêmios de melhor roteiro e ator (para Mikkel Følsgaard) no Festival de Berlim, este romance histórico do diretor Nikolaj Arcel narra a história real de uma relação extraconjugal da rainha nórdica Caroline Mathilde (1751 – 1775), que aqui é interpretada por Alicia Vikander. Reprimida pelo rei tirano Christian VII, ela foi ousada e ajudou a mudar alguns costumes sociais de sua época. O Cônsul de Bordeaux – O longa de abertura desta 9ª Seleção de Filmes, assinado pelos diretores João Correa e Francisco Manso (e com sessões marcadas para todos os dias entre quinta-feira e domingo), apresenta ao público a história de Aristides Sousa Mendes (1885 – 1954), o “Schindler português”. Quando da ocupação da França pela Alemanha nazista, ele desafiou o governo de seu país concedendo milhares de vistos de entrada em Portugal. Seu gesto acabou sendo a salvação para milhares de pessoas durante a II Guerra Mundial.