Dolce far niente… Essas são as palavras que João Otávio Neves Filho, O Janga, usou para descrever a atmosfera das pinturas de Ricardo Ramos que se desvelaram aos olhos do grande público na exposição Sobrevoo, em cartaz na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis.

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Ricardo, um franzino artista que expressa um “cartunista” formado pelas artes visuais, descreve o que mais entorna o caldo dos ilhéus, a praia. No olhar de seus personagens e na expressão facial, o espanto vindo do céu. Caminhamos frente às obras tentando imaginar o que estaria caindo sobre eles. Será uma gaivota, um ultraleve, um parapente, os Quatro Fantásticos? Ou nós mesmos voyerizando aquelas cenas particularmente públicas?

O verão acabou e o equinócio de outono apareceu com muitas chuvas para não deixar ninguém com dúvidas. Mas Ricardo Ramos, de Florianópolis, nos conta em suas 14 telas que “mesmo sem incluir elementos que as identifiquem, minhas praias são nossas praias, uma das 42 praias ou todas elas juntas. Aquelas mesmas que deixamos de lado por nove meses, para retornarmos cheios de saudade, morrendo de vontade. Neste clima de saudade do verão que passou em meio ao desejo do que virá. Minhas telas vão sendo criadas. Uma homenagem à nossa Ilha. Nossas praias. Nossos banhistas. A cultura ilhéu.”

O artista suprime o enquadramento recorrente, retirando a linha do horizonte e eliminando a representação sob olhar tradicional. Nas imagens, a predominância de ocre e matizes enfatiza o clima costeiro e contemplativo das figuras retratadas em óleo sobre tela. A sensação de areia, preguiça e relaxamento é contagiante, não temos como visitar a exposição e não sair mais relaxados.

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Essas doses de humor lúdico, típicos das HQs, apareceram pela primeira vez na obra de Ricardo Ramos em 1987. Ele pintou a praia num sobrevoo e contou que a experiência teria sido marcante a ponto de sempre estar para voltar no momento certo. Uma praia perfeita pra levar pra casa e curtir quando estivermos distantes da areia. Esticar a toalha, a canga e curtir a imensidão azul… Ei! Para tudo… Mas… Não somos nós que vemos. E eles que nos olham? Somos todos voyeurs.

Nessa aventura de olhar para os banhistas de Ricardo Ramos, sempre com a sensação de que acabamos atrapalhando algum momento íntimo. Pegamos o casal de surpresinha enquanto rolavam uns “amassos” na areia.

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O quê: Sobrevoo, de Ricardo Ramos

Quando: até 26 de abril, de segunda a sexta, das 12h às 19h

Onde: Fundação Cultural Badesc ( Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, em Florianópolis)

Quanto: gratuito

*Arte- educadora e escritora