Um projeto inédito na América Latina promete acabar com uma praga que causa prejuízo aos rebanhos. A partir de ontem, aviões começaram a lançar moscas inférteis na fronteira do Brasil com o Uruguai para combater outro tipo de inseto, a mosca da bicheira. A perspectiva é de que, até abril, cerca de 200 milhões de insetos sejam dispersados em uma área de cem quilômetros.

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Considerado um experimento, o lançamento de moscas vai abranger áreas que vão desde Barra do Quaraí até Santana do Livramento, do lado brasileiro, e os departamentos de Artigas e de Rivera, no Uruguai. Aeronaves da Força Aérea do país vizinho estão sendo usadas para o lançamento de moscas.

Os insetos que são dispersados foram importados do México. Em laboratório, as fêmeas em estado larval receberam irradiação de césio 137 (substância radioativa). Dessa forma, as moscas se tornam inférteis. O lançamento desses insetos em áreas com grande concentração da mosca da bicheira fará com que a reprodução da praga diminua.

– Haverá o acasalamento e a geração de ovos. Mas todos serão inférteis. Não vai resultar em nada – explica o coordenador de campo do projeto, Joal Pontes.

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A chuva de moscas pode ser ampliada para outras regiões, dependendo do resultado do projeto experimental. Apesar da ideia de erradicação, zerar o número de insetos causadores da bicheira é um trabalho de longo prazo. Se o projeto começar a ser adotado oficialmente nos países do Mercosul, a perspectiva é de acabar com a praga em duas décadas. Nos Estados Unidos, a bicheira não existe há mais de 20 anos.

Neste projeto experimental serão investidos US$ 1 milhão, provenientes do Banco Mundial. O montante é relativamente modesto diante da estimativa de prejuízos. A projeção dos organizadores do projeto é de que a bicheira custe, anualmente, US$ 1,77 bilhão ao Brasil e outros US$ 210 milhões ao Uruguai. A erradicação do inseto no Mercosul não só reduziria prejuízos como poderá contribuir para negócios de bovinos, como a venda de gado em pé.

Como funciona

> Aviões voam a cerca de 300 metros de altura, a uma velocidade de 280 quilômetros por hora, para dispersar as moscas inférteis.

> A estimativa é de que, a cada semana, 12 mil caixas sejam jogadas dos aviões.

> Com a mosca infértil, a reprodução é nula. Os insetos já presentes na região se acasalarão com as espécies modificadas em laboratório e não se reproduzirão.

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> Com a erradicação, a estimativa é de que cada produtor economize US$ 7 por animal do rebanho, sem a necessidade de tratamentos contra a bicheira.