Foi entre 2004 e 2005 que León Ferrari, morto nesta quinta-feira, protagonizou a mais conhecida de suas polêmicas. A retrospectiva que ganhou no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, teve as portas fechadas, depois de ameaças de bomba e atos públicos de protesto. A mostra que reunia 50 anos de produção gerou protestos de grupos religiosos, especialmente em função da obra A Civilização Ocidental e Cristã, uma montagem com a imagem de Cristo crucificado sobre um avião militar americano. Havia também obras representando o inferno habitado por santos e apóstolos e o Juízo Final da Capela Sistina “pintado” com cocô de várias pomba.
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>> Leia entrevista com León Ferrari publicada no Caderno Cultura em abril de 2010
Um grupo católico destruiu várias obras de Ferrari na exposição e ameaçou o público com garrafas quebradas. Houve ainda uma missa de desagravo, enquanto patrocinadores retiraram o apoio que haviam concedido à mostra. A Justiça chegou a fechar (e depois a reabrir) a exposição. O escândalo midiático gerou um dos debates mais intensos da história da arte argentina.
– O avião para mim representa a crueldade do imperialismo e da religião – a religião cristã é de uma crueldade infinita, pois é infinito o castigo aos que não acreditam. Mas alguns pensam que não, que estou falando sobre o que fizeram com Cristo. O que fizeram com Cristo é nada em comparação ao que Cristo faz conosco. Perguntei aos católicos que entraram na mostra que fiz na Recoleta e a depredaram: “Por que me pegam se ele já vai me condenar ao infinito com torturas espantosas ?” – disse em entrevista a ZH.
E março deste ano, quando Jorge Mario Bergoglio foi nomeado papa Francisco, León Ferrari voltou ao turbilhão da polêmica. Na época da retrospectiva criticada pela Igreja, Bergoglio, então cardeal, divulgou carta pública chamando o artista de “blasfemo”.
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– É um horror, é um horror. Vai ser um papa muito autoritário, com certeza – disse Ferrari em março, ao jornal Folha de S. Paulo, ao comentar quem era o novo papa.