As três maiores cidades de Santa Catarina puxam o recorde negativo de mortes violentas no Estado neste ano. Entre 1º de janeiro e 22 de outubro, os casos subiram 15,7% em todos os municípios catarinenses, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Somente em Florianópolis, Joinville e Blumenau, foram cem ocorrências a mais em 2017.

Continua depois da publicidade

Dentro desse índice estão situações de homicídios, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e vítimas de confronto com as polícias. A Capital encabeça o ranking no Estado com 135 casos, aumento de 95% em relação ao mesmo período de 2016 (69).

Joinville, que ano a ano contabiliza sucessivos aumentos de homicídios, no final de semana chegou a 115 mortes. O crescimento é de 18,5%.

No Vale do Itajaí, Blumenau registra o maior número de mortes na cidade em mais de 20 anos. Conhecida pelos baixos índices, passou a figurar neste ano entre os maiores aumento de casos. Na madrugada de ontem, a cidade atingiu 39 assassinatos, 69,5% a mais do que no mesmo período de 2016, quando foram registradas 31 ocorrências.

Ações para solucionar escalada da violência

Continua depois da publicidade

O especialista em Criminologia e professor da Univali, Alceu de Oliveira Pinto Junior, credita a elevação dos assassinatos à guerra de facções existente no Estado atualmente. Dois grupos, um criado em SC e outro em São Paulo, disputam espaços na venda de drogas. O primeiro reflexo do confronto ocorreu em Joinville, há dois anos, com uma subida vertiginosa nas ocorrências. Mais recentemente, a Capital passou a ser palco dos enfrentamentos.

— Quando não se consegue justificar com um fator externo, geralmente se credita o motivo desse crescimento à atual crise econômica. O que não é o caso agora. Mas, neste momento, tanto em Florianópolis como em Joinville e Blumenau, tem que imputar a elevação à disputa por espaços das organizações criminosas — explica.

A solução, segundo o professor, passa por ações de curto a longo prazo. Inicialmente, a forma de combater a criminalidade é com polícia na rua. Depois, complementa, o sistema prisional precisa ser revisto para estancar a entrada de novos membros nas facções.

— Há também aspectos sociais que precisam ser reforçados, como escola em tempo integral, envolvimento de jovens e oportunidade para as pessoas, principalmente nas regiões mais vulneráveis — diz.

Continua depois da publicidade

Capital registra 135 casos

O primeiro dia de 2017 deu o tom do que seria o ano na Capital. Duas pessoas foram assassinadas durante a madrugada. Uma delas, a turista gaúcha Daniela Scotto de Oliveira, 38 anos, morreu com um tiro na cabeça depois que o marido dela entrou por engano em uma rua na comunidade do Papaquara, no Norte da Ilha. Sem relação com a criminalidade, ela foi vítima de uma guerra prestes a iniciar. Até o domingo, foram 135 pessoas mortas na cidade.

A partir dos primeiros dias de janeiro, a Capital passou a ser palco de constantes confrontos entre dois grupos criminosos por pontos de vendas de droga. As facções de Santa Catarina e São Paulo protagonizaram uma série de mortes violentas. Entre elas pelo menos duas chacinas. Mais recentemente, no começo de setembro, Jadson Andrade, 30 anos, morador de São Paulo, foi assassinado por membros do grupo criminosos local. Os bandidos acharam que ele era integrante da facção paulista, segundo investigação da Polícia Civil. O rapaz estava em férias em Santa Catarina.

Na visão do diretor da Polícia Civil na Grande Florianópolis, delegado Verdi Furlanetto, o caminho para redução dos casos é o combate à criminalidade em diversas frentes.

— Para reduzir teria que buscar o combate à entrada de armas e drogas na fronteira. Entrando menos, haveria uma redução na oferta nos nossos bairros, o que diminuiria os homicídios porque uma coisa puxa a outra — diz.

Continua depois da publicidade

Na metade deste ano, a equipe da Delegacia de Homicídios, antes composta por um delegado, foi reforçada com outro profissional e mais agentes. Além disso, duas delegacias especializadas no Continente e no Norte da Ilha, regiões mais sensíveis quando o assunto é morte violenta, foram criadas. Hoje, segundo Furlanetto, a resolução nos inquéritos é de 70% a 75%. O delegado admite que os índices negativos de 2017 servem como um marco para o combate à criminalidade na cidade.

Entrevista: Aldo Pinheiro D’Ávila, secretário em exercício de Segurança Pública de SC (SSP-SC)

O que a SSP pretende fazer nas três maiores cidades de SC para frear o crescimento de mortes violentas?Nossos policiais estão trabalhando incessantemente para reduzir esses índices, entretanto tal crescimento na quantidade de mortos não depende somente de ações policiais. Esses índices não retiraram do Estado os títulos de segunda menor taxa de homicídios do país e a menor taxa de mortes de adolescentes do Brasil, segundo recente levantamento do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).

A que a SSP credita esses índices?

Principalmente em razão dos confrontos motivados por disputa de pontos de tráfico, o que revela um elevado consumo de entorpecentes em nosso Estado, considerando, ainda, que 70% das vítimas e autores de homicídios possuem antecedentes criminais.

A força-tarefa feita em Joinville em 2016 surtiu o efeito esperado? Como a cidade voltou a ter índices negativos?

Continua depois da publicidade

Estes índices negativos estão sendo trabalhados pelas inteligências das corporações e serão levados em consideração na distribuição dos novos policiais que estão em formação. Temos sido cobrados diariamente pelo governador para reduzir tais índices.