A morte do líder dos talibãs, mulá Omar, ameaça empurrar muitos jihadistas da região para os braços do grupo Estado Islâmico (EI), que quer expandir seu “califado” para o Afeganistão, consideram analistas consultados pela AFP.
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Desde o início do ano, os talibãs afegãos enfrentam a deserção de comandantes, desiludidos com a liderança do discreto mulá Omar e atraídos pelo chefe do EI, Abu Bakr al-Bagdadi.
Supostamente ocorrida há dois anos, a morte do mulá Omar foi anunciada na quarta-feira pelos serviços secretos do Paquistão e confirmada hoje pelos talibãs, sem especificar a data do óbito.
O EI triunfa em regiões nas quais os talibãs fracassaram nos últimos dez anos, assumindo o controle de um território que inclui amplas faixa do Iraque e da Síria. Nessa área, o grupo chegou a proclamar um “califado”.
No início de janeiro, cerca de dez ex-comandantes talibãs prestaram lealdade ao EI e foram imediatamente nomeados para liderar o braço do grupo no Khorasan, uma região que reúne Paquistão e Afeganistão. Esse é um berço histórico dos talibãs e da Al-Qaeda.
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“Se não conseguirem ver um futuro no movimento talibã, se não estiverem de acordo com as negociações de paz (…) alguns combatentes poderão deixar as fileiras dos talibãs”, explicou à AFP Rahimulá Yusufzai, especialista paquistanês no movimento talibã regional.
A direção dos talibãs havia dado seu apoio tácito às negociações de paz, iniciadas em julho no Paquistão. Um comunicado publicado esta semana advertiu, porém, que o braço político do grupo “não está a par desse processo”, o que gera dúvidas sobre a viabilidade das negociações.
Guerra de propaganda
A guerra de propaganda entre os jihadistas já começou.
Recentemente, o EI publicou um fatwa (decreto) afirmando, antes do anúncio das autoridades afegãs, que o mulá Omar havia morrido e que os talibãs do Paquistão e do Afeganistão deveriam prestar lealdade a seu “califa”, Abu Bakr al-Bagdadi.
O fatwa apresentava o mulá como um “nacionalista” afegão, interessado apenas na tomada de poder em Cabul, e não na criação de um califado mundial. Assegurava ainda que Al-Bagdadi descende da tribo árabe dos Qureshis, à qual pertencia o profeta Maomé.
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Al-Bagdadi “é o imã da época (…), enquanto que o mulá Omar foi apenas um dia, no melhor dos casos, um antigo chefe de uma das inúmeras terras do Islã”, acrescenta o EI.
O grupo também divulgou um vídeo, no qual um de seus supostos membros degola um “traidor” na província afegã de Nangarhar.
Para essa batalha propagandística, os talibãs estão menos preparados. Sem ser visto em público desde o final de 2001, já há alguns anos Omar não divulgava mensagens de áudio.
Seus últimos discursos – como o de meados de julho por ocasião da festa Eid el Fitr, pelo fim do Ramadã – parecem ter sido escritos por outros membros do grupo, que teriam tentado tirar proveito de sua “fama”.
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“Não há dúvida de que a morte do mulá Omar é uma bênção para o EI. Um importante número de talibãs, desencantados pelo longo silêncio de seu chefe, terá agora mais razões para deixar o movimento e se unir ao EI”, considerou o analista Michael Kugelman, do Woodrow Wilson Center, de Washington.
* AFP