Em abril, uma mulher, de 27 anos, foi encontrada morta, em casa, sem sinais de violência, em Lages, na Serra Catarinense. A ocorrência intrigou a polícia, principalmente, o médico legista que atendeu o caso e logo identificou que se tratava de uma intoxicação exógena (termo técnico para uma intoxicação causada pela ingestão de substâncias químicas).

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— Me chamou a atenção naquelas características imediatas que ela teve no óbito, mostrando uma asfixia interna e um sofrimento agudo dos pulmões — conta André Gargioni, perito médico legista do IGP de Lages.

Segundo relato da família ao IGP, o único produto diferente que ela vinha tomando era um emagrecedor supostamente natural. A mulher não terá a identidade revelada pela reportagem.

— Meu instinto de legista dizia que era aquele remédio. Ela foi persistentemente mantendo-se no uso daquela medicação, perdendo peso que era o projeto original dela, e negligenciado, entre aspas, aqueles sintomas que culminaram com a morte — lembra o perito.

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Os familiares relataram ainda que ela tinha emagrecido, mas se queixava de sintomas como secura na boca, tremulações, tontura e aumento da frequência cardíaca.

Durante a investigação da polícia sobre este caso, a equipe de reportagem da NSC TV começou uma apuração sobre o uso e a venda de emagrecedores, supostamente feitos à base de ervas. A primeira reportagem foi ao ar nesta quarta-feira no NSC Notícias. Na apuração, a nossa equipe de reportagem fez negociações com fornecedores por telefone e via internet para a compra de quatro medicamentos.

Um deles é o Natural Dieta. Produto oferecido em uma página de uma rede social. A vendedora é do Pará. A embalagem com 60 cápsulas custa R$ 250 e pode durar até dois meses.

Na conversa, a vendedora explica que o remédio é forte, que tira a fome e não parece acreditar na composição "natural" do produto:

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— Eu não vou lhe mentir. Ele não é natural não, alguma coisinha ele sempre tem, né? — confessa.

O produto chegou pelos Correios, oito dias depois.

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O assunto circula em centenas de grupos de WhatsApp. Mensagens e anúncios comemoram a perda de peso em pouco tempo. Porém, na mesma proporção, também chegam relatos de efeitos colaterais dos produtos supostamente naturais. Em um dos casos, uma mulher de São Paulo reclama que assim que começou a tomar, se sentiu mal.

Diante dos graves efeitos colaterais, outra participante do grupo, desta vez moradora do Rio Grande do Sul, dá a dica para ela “tomar um caldinho de feijão, comer um ovo cozido”. Assim, segundo o conselho, ela vai “até dormir melhor à noite”.

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O médico endocrinologista e professor da UFSC, Alexandre Hohl, se preocupa com os sintomas e com as orientações passadas no grupo.

— Se alguém num grupo desse esteja vendo isso, tem que dizer "pare!". Esse efeito adverso é algo que planta não dá — alerta.

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Todos os produtos adquiridos pela reportagem foram entregues lacrados ao delegado Fábio Estuqui, da Divisão de Investigação Criminal de Joinville, que desde o ano passado investiga a comercialização desses emagrecedores supostamente naturais. A DIC encaminhou o material para a análise do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Catarina.

A próxima reportagem da série vai ao ar nesta sexta-feira (20) e vai mostrar o que os exames identificaram nas cápsulas. O assunto segue sendo abordado no NSC Notícias até sábado (21).

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