Uma investigação da Polícia Civil e um inquérito policial militar vão apurar as circunstâncias da morte de Alaf Leandro Pessoa Reche, 19 anos, o MC Menor de Floripa. Ele morreu depois de levar um tiro na barriga disparado por um policial, no sábado, em Palhoça.

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A PM afirma que Alaf atirou contra o policial e que este agiu em legítima defesa. Uma testemunha ocular garante que o rapaz estava desarmado quando foi atingido. O local do crime não foi preservado e a perícia não este lá.

De acordo com a declaração de óbito, o rapaz morreu por traumatismo abdominal em decorrência de um disparo de arma de fogo. O Instituto Médico Legal (IML) confirmou que o rapaz foi vítima de apenas um tiro. A dinâmica do projétil no corpo de Alaf não foi divulgada.

A PM declarou que o policial disparou dois tiros contra Alaf: um na perna e outro na região abdominal. No boletim de ocorrência registrado às 5h23min de sábado pelo policial, consta que a vítima levou um tiro no joelho e outro na região do tórax.

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Uma das testemunhas oculares, uma jovem de 17 anos, contou que saiu com Alaf da boate, no Bairro Ponte do Imaruim, depois das 4h, e que eles esperavam uma carona com outros seis amigos. A menina nega a versão da PM de que havia pessoas atirando pedras no comércio local.

– Ninguém atirou pedra, não teve nada disso. Tinham duas viaturas cuidando da saída da boate e que depois foram embora – disse a amiga da vítima, que ouviu no total três tiros.

Ela contou que Alaf estava com um revólver (calibre 22) e que deu um tiro para cima, por brincadeira. Uma viatura apareceu na curva, Alaf viu, jogou a arma fora, levou um tiro na barriga e caiu, segundo a testemunha.

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– Ele ficou caído e não se mexia. Daí chegaram umas cinco viaturas. O policial não deixou eu chegar perto e disse que o Alaf tinha levado um tiro na perna – contou a garota.

A amiga falou que o Samu demorou meia hora para chegar e mais cinco minutos até atender o amigo. Cerca de 20 minutos depois, ela soube que Alaf tinha morrido na ambulância.

A reportagem não conseguiu contato com o Samu.

No sepultamento, neste domingo à tarde, no Bairro Itacorubi, em Florianópolis, a mãe da vítima disse que Alaf estava armado para se defender de um possível ataque de um rapaz que tinha ameaçado ele. E afirmou que vai contratar um advogado.

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– A polícia atirou para matar e o Samu omitiu socorro porque demorou muito tempo para socorrer meu filho e nem o levaram para o hospital, ficaram dando voltas. Eu sei porque fui ao hospital. O Samu levou ele direto para o IML. Cheguei junto com a ambulância no IML. Eram umas 6h – contou a mãe.

O que diz a PM

O major Paulo Sérgio do 16º Batalhão de PM, em Palhoça, informou que por volta das 4h30min, dois PMs do 16º BPM chegaram no local e abordaram Alaf Reche. Alaf disparou dois tiros contra os policiais, mas não acertou os PMs nem a viatura. O policial revidou com dois disparos. Um atingiu a perna e outro a região abdominal da vítima. Alaf foi socorrido, mas chegou sem vida no hospital. A arma de Alaf foi entregue na DP de Palhoça e a pistola do policial será encaminhada à perícia nesta segunda-feira.

Sepultamento sob chuva fina

O corpo de Alaf Leandro Pessoa Reche, 19 anos, o MC Menor de Floripa foi sepultado em uma gaveta do Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi, na Capital, às 16h deste domingo.

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Cerca de 60 pessoas compareceram à cerimônia, entre familiares, amigos e fãs. Uma chuva fina caía durante a tarde.

Na maior parte do tempo, o silêncio predominou. No final, um coro puxou uma das músicas do MC e todos cantaram. Alaf também foi homenageado com três salvas de palmas.

A mãe do rapaz foi amparada pelas filhas e parentes.

MC pregava a paz nos bailes da Grande Florianópolis

Alaf cantava músicas chamadas de funk ostentação ou funk paulista. As letras costumavam falar sobre carro, mulheres, bebidas e dinheiro. O sonho do MC era ser conhecido nacionalmente.

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Ele chegava a fazer três shows por dia e muitas vezes não recebia dinheiro para subir no palco, mas cantava para ter o trabalho divulgado.

O músico se apresentava em diversas comunidades da Grande Florianópolis e atraía fãs e amigos que o admiravam principalmente pela humildade, sua principal característica, segundo amigos.

A inspiração das músicas que cantava, todas composições próprias, vinha do sonho de um dia conseguir comprar tudo que desejasse.

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O dinheiro que ganhava, investia na carreira. Sem o apoio dos empresários do ramo, MC Menor de Floripa divulgava seu trabalho como podia, gravando as músicas e pedindo para os amigos compartilharem nas redes sociais.

Para ele, a amizade com os outros MCs era fundamental na vida de um artista. Ele próprio, incentivava e ajudava outros artistas em início de carreira.

Alaf estava sempre nos bailes funk, inclusive nos que não se apresentava. Nas festas, sempre pedia paz. Segundo os amigos, nunca se envolveu em brigas que resultassem em ocorrências policiais.

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Por diversas ocasiões, ele afirmava que o que faltava na Capital era incentivo para música funk e que ele e os amigos deveriam receber um voto de confiança para exibir seu trabalho.

MC Menor de Floripa faria um show no Dream Bar, em Biguaçu, neste sábado à noite.

– Meu filho era um guerreiro porque ele foi atrás do sonho dele e conseguiu. Podia ir muito mais além – disse a mãe do músico, que cantava desde criança.