A morte de um jovem de 19 anos na última sexta-feira (13) na comunidade do Siri, no bairro dos Ingleses, mobilizou protesto de moradores na região contra violência policial dois dias depois. As versões da Polícia Militar sobre os dois ocorridos são contrariadas por relatos de quem vive no local.
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A PM afirma que, na ocasião da morte do jovem, uma guarnição teria sido recebida a tiros na comunidade e revidou ao ataque. Após os disparos serem cessados, os policiais identificaram o corpo de Gabriel Corrêa em meio a uma via pública.
Em relatos ao Hora, moradores afirmam, no entanto, que não teria tido troca de tiros. O jovem estava na rua com amigos, quando se preparavam para ir a uma festa. Os policiais, segundo a comunidade, teriam chegado “encapuzados e de surpresa” pelas dunas, sem viatura, quando abriram fogo contra o grupo. Foi quando Gabriel acabou atingido.
Já segundo a PM, o jovem portava uma pistola e tinha passagens policiais por tráfico e receptação de drogas.
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À reportagem, a mãe do jovem diz que o filho já havia sido preso, mas que é agora exposto de maneira injusta para que sua morte pareça justificada. Diz ainda que ele não estava armado, o que também foi relatado por outros moradores.
— Não importa o passado do meu filho, o meu ou da minha família. Não importa, não importa. Ele era um jovem de 19 anos e teve a vida tirada brutalmente. As pessoas precisam entender isso, que o passado não justifica matar alguém desarmado — disse Géssica Corrêa, mãe de Gabriel, à reportagem.
— Meu filho vai ser entregue agora na quinta-feira para mim cremado. Eu vou ter pó, vou ter só as cinzas do meu filho de volta, porque tiraram a vida dele brutalmente. Eles são monstros, não são a lei, porque a lei prende, ela não mata — desabafou.
A Polícia Civil diz investigar o caso. O delegado Ênio Mattos, à frente da Delegacia de Homícidios da Capital, afirma que o jovem estava em um ponto de venda de drogas.
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Ele afirma não ter ouvido familiares da vítima até a tarde desta segunda-feira. Questionado pela reportagem, diz não ter recebido eventual exame sobre possível resíduo de pólvora nas mãos do jovem, o que mostraria se ele fez uso ou não de uma arma.
A PM diz ainda que uma mulher se apresentou no local dizendo ser namorada de Gabriel. Ela foi detida por ter contra si um mandado de prisão por tráfico de drogas. A família nega, no entanto, que ela tivesse um relacionamento atual com o jovem.
Moradores da região relatam ainda que, na sequência da morte de Gabriel, houve ameaças de policiais de que fossem ocorrer novas mortes por ações ostensivas, o que mobilizou protesto contra a violência policial no domingo (15).
Na ocasião, os manifestantes fecharam a Rua Dom João Becker, que dá acesso à comunidade do Siri, com uma barricada incendiada. Parte deles obrigou um motorista a fechar a via com um ônibus. Havia crianças no local.
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O ato foi encerrado após abordagem ostensiva da PM, que fez uso de balas de borracha e bombas de efeito moral. Vários moradores ficaram feridos. A corporação diz que tomou atitude mais incisiva só após ter policiais atacados com pedras e garrafas.
À reportagem, a PM afirma que a Corregedoria no 21º Batalhão de Polícia Militar, que atua no Norte da ilha, apura o que foi relatado pelos moradores sobre a morte de Gabriel e o uso exagerado da força policial no protesto.
Diz também que os policiais envolvidos nos casos deveriam provavelmente estar usando câmeras individuais no uniforme, mas que eventuais imagens só ficarão à disposição do Judiciário, e não serão abertamente divulgadas por ora.
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