O artista catarinense Ivens Machado, 73, morreu na noite desta terça-feira (12), em casa, no Rio de Janeiro. Ele caiu da escada, machucou a cabeça e não resistiu a uma hemorragia interna. O velório está sendo realizado nesta quarta-feira no cemitério do Caju, no Rio, e em seguida o corpo será cremado.

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Juliana Wosgraus – Expoente da arte quase desconhecido em sua terra natal

Nascido em Florianópolis e radicado no Rio de Janeiro, onde estudou arquitetura, Machado era escultor, desenhista e gravurista, além de um dos pioneiros da vídeo arte no Brasil. Antes de se dedicar exclusivamente ao trabalho autoral, ele criou uma escolinha de artes para crianças e fundou um orfanato em Laranjeiras, bairro da capital carioca, nos anos 70.

Cacos de vidro, argila, madeira, concreto armado e outros materiais de construção, se transformavam em obras impactantes e, segundo críticos de arte, difíceis de classificar.

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Ivens participou de exposições na Itália, Canadá, bienais de Paris e São Paulo, e Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Apesar do reconhecimento no cenário nacional e internacional, o artista é praticamente desconhecido em Santa Catarina.

Em entrevista ao Diário Catarinense, em 2004, Machado criticou a falta de incentivo à cultura.

“Santa Catarina, como cultura – embora existam artistas muito importantes – se colocou fora do mapa. É um governo que não privilegia a arte, que não trabalha em cima desta imagem. Diria que o Estado está fora do mapa. Eu, casualmente, sou catarinense, mas não tive nenhuma ajuda, nem nada. Nunca fiz exposição no Estado, nem a última montagem, que estava no Estado ao lado, pôde ser viabilizada. Imagina se o governador (Luiz Henrique da Silveira) fosse meu antagonista, mas ele é meu primo (em terceiro grau). Na verdade, SC nunca privilegiou, infelizmente, não só artistas, como não privilegiou arte. Isso é uma coisa que sempre aconteceu. Tem um museu (Masc) com um projeto que não se realiza porque não há dinheiro.”

Para o artista plástico blumenauense Pita Camargo, a falta de reconhecimento do trabalho de Ivens Machado é uma falha que precisa ser reparada.

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– Ele não foi valorizado da maneira que merecia. Muitos artistas locais não conhecem o trabalho dele. Quem sabe agora ocorra uma movimentação para que seja realizada uma grande exposição de suas obras.

Em 2014, a jovem estilista catarinense Isadora Guercovich participou do Brasil Fashion com uma coleção de roupas inspirada na obra de Machado. A repetição de pontos e linhas encontradas no trabalho do artista estimularam a criação de peças em tricô e crochê.

– O que mais me inspirou e emocionou no trabalho dele foi a maneira crítica e crua de como olhava para as formas humanas, para nossa natureza impura, e em como ele expôs de forma um tanto cínica e camuflada a rigidez, a brutalidade, a mais pura autenticidade e crueza de cada ser – explica a estilista.

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