Dentro do que restou do carro estavam convites para uma festa de aniversário. O casal Adriana Jucéli Cattoni e Everton Kreutzfeld preparava as comemorações dos dois anos do único filho, mas teve a vida interrompida após um grave acidente na BR-470. O pequeno – que também estava no veículo – preso à cadeirinha, foi o único sobrevivente no carro atingido por um motorista com sinais de embriaguez, segundo laudo da ocorrência.

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O gosto por viajar e conhecer novos lugares foi ultrapassado pela tarefa de ser pai e mãe. Ambos, transformados pela gravidez inesperada, trocaram a ideia de desbravar o mundo pela arte de constituir família. Nas fotos em redes sociais, é possível ver a alegria ao lado do filho. Na praia, em festas, ou nos mais simples lugares da cidade onde moravam, Indaial, eles eram pura felicidade e otimismo diante da vida. Alegria que, ao lado do bebê, durou 1 ano e 7 meses, até a tragédia que aconteceu no dia 22, às 19h.

Aos 27 anos, Everton era vendedor industrial da empresa Schrader e Adriana, três anos mais nova, trabalhava no Serviço de Atendimento Integral à Saúde e sonhava em terminar a faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Em carta enviada ao Santa as colegas de trabalho da jovem comentam que, para ela, não havia tempo ruim:

– Uma mulher muito especial, cheia de planos, muito atenciosa e querida por todos. A amizade era bem mais do que o ambiente de trabalho, e é isso que torna a dor profunda. A gente sabia que poderia contar com ela em todos os momentos. Não havia tempo ruim. Era batalhadora e forte, agradava a todos com seu jeitinho de sorrir e conversar. Saber da notícia foi como levar uma pedrada.

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Trabalho dos Bombeiros durante o acidente da última terça-feira. (Diorgenes Pandini / Agência RBS)

O bebê está sob cuidados dos avós maternos, Gilmar e Marlisa Cattoni. Ele vai continuar morando na residência onde nasceu e cresceu. Segundo a mãe de Adriana, o momento da família é de união em torno do que passou e, pelo bem do neto, os parentes ficarão cada vez mais próximos.

Vamos dar todo amor e carinho e continuar na casa dele pra que nada mude no ambiente que ele sempre teve. Vamos ficar aqui também pra estar mais próximo de toda a família, que está muito unida para continuar a dar toda a educação que os pais vinham dando – conta a avó.

Emocionada, Marlisa também conta dos primeiros dias após o acidente:

– O que corta o coração é quando ele chora e pede pela mãe. Não tem outra palavra que resuma esse sentimento a não ser “saudade”.

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Suspeito de provocar o acidente está solto

O motorista que teria invadido a pista contrária e provocado o acidente, Geovani dos Santos Machado, quebrou o fêmur, passou por cirurgia e foi internado. Ele foi preso em flagrante por homicídio doloso (quando se assume o risco de matar), mas foi solto após receber liberdade provisória e sem pagamento de fiança.

A suspeita é de que ele estivesse embriagado no momento do acidente que matou Adriana e Everton. O primeiro pedido de prisão preventiva de Geovani foi negado, porém uma nova solicitação foi feita ainda nesta sexta-feira, segundo a promotora de justiça Caroline Cristine Eller, da 2ª Promotoria de Indaial.

– Ele não tem residência fixa, está há 10 dias na cidade, disse que estava na casa de uma sogra que ele mal sabe o nome, não sabe de onde e veio e nem para onde vai – alega a promotora.

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Segundo o delegado Romildo Parno, como o homem se recusou a fazer o teste do bafômetro, a Polícia Civil busca provas de que o homem teria ingerido bebida alcoólica antes da tragédia.

De acordo com o Termo de Constatação de Sinais de Alteração da Capacidade Psicomotora, que é parte da documentação feita no local do acidente, Geovani teria apresentado dificuldade no equilíbrio, fala alterada, olhos vermelhos, sonolento e com odor de álcool no hálito, motivando a prisão em flagrante.

Neste sábado, a partir das 10h, um protesto no Km 70 da BR-470 deve fechar a rodovia por 25 minutos para pedir a prisão do motorista. Os organizadores esperam que cerca de 500 pessoas participem do ato.

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