Um intervalo de quatro anos — 2020, 2022 e 2024 — e três casos cruéis de crianças assassinadas por quem deveria protegê-las. Essa é uma triste constatação da violência no Vale do Itajaí. No dia em que veio à tona a morte de uma menina em Indaial, vítima da mãe e do padrasto, segundo a polícia, chamou atenção a semelhança com outros episódios. Um deles na mesma cidade. O outro a poucos quilômetros dali, em Timbó.
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Mas o que, de fato, essas histórias têm comum além dos algozes serem os próprios pais e responsáveis? A resposta está nas investigações: as crianças foram mortas vítimas de agressões dos padrastos, em alguns casos com o conhecimento das mães, conforme a polícia. Todos atos violentos cometidos dentro de casa, onde, em tese, estariam seguras. Em todos, ainda, foram construídas narrativas para tentar encobrir os homicídios.
Até as datas dos crimes são próximas: dois ocorreram em abril e esse último em março.
Padrasto simula acidente doméstico
No fim da manhã de 8 de abril de 2020, os bombeiros voluntários de Indaial receberam um pedido de socorro. No outro lado da linha, o padrasto de um menino de quatro anos contava que o pequeno caiu durante o banho e bateu a cabeça. A criança foi levada ao Hospital Beatriz Ramos e horas mais tarde transferida para o Hospital Santo Antônio, em Blumenau, onde morreu.
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Durante o atendimento, o médico percebeu marcas de agressão no corpo do pequeno e chamou a polícia. No dia seguinte, durante o enterro do enteado, o padrasto foi preso preventivamente e familiares contaram que ele planejava fugir. O homem foi indiciado por tortura com resultado morte e a mãe por omissão. Ela estava grávida de oito meses na época do assassinato.
Sete meses mais tarde, ele recebeu pena de nove anos e quatro meses de reclusão em regime fechado. Ela conseguiu absolvição por ausência de provas.
Tortura, cárcere e estupro
Uma menina de 11 anos foi encontrada morta dentro de casa na madrugada de 14 de abril de 2022. Inicialmente, a mãe e o padrasto disseram que Luna Gonçalves havia caído de uma escada ao tentar pegar um gato e que seguiu fazendo as atividades normalmente após o acidente, até a hora de dormir. Mais tarde, teria passado mal e eles chamaram os bombeiros.
A investigação mostrou que garota foi brutalmente espancada várias vezes antes de morrer e também sofreu violência sexual com o uso de um objeto. A mãe chegou a admitir toda a responsabilidade, isentando o padrasto. A polícia descobriu, porém, que o homem também cometeu uma série de agressões contra a menina. Os dois estão presos.
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— Poucas vezes eu fiquei tão chocado como ao ver o resultado desse exame cadavérico. A violência sexual foi produzida não pela conjunção carnal, mas com algum instrumento. Algo foi introduzido. É chocante — revelou o promotor de Justiça Alexandre Daura Serratine.
O padrasto recebeu pena 56 anos de prisão e a mãe foi condenada a 14 anos de detenção.
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Simulação de sequestro
A mãe e o padrasto de Isabelly de Freitas, de 3 anos, criaram um cenário para dizer que a menina havia sido sequestrada, confiantes de que a investigação não descobriria o assassinato. O corpo da pequena estava em uma cova rasa, feita à mão pelo homem, perto da casa onde moram, em Indaial. Segundo a Polícia Civil, a criança morreu na manhã de segunda-feira (4) após apanhar do casal.
Até a tarde de quarta (6), os dois insistiam que a menina havia desaparecido enquanto ela estendia roupa e ele estaria fora de casa, trabalhando. Após ouvir os vizinhos, o homem confessou e apontou onde tinha enterrado o corpo, que foi colocado em uma mala de viagem. Vídeos os mostram carregando a mala cheia durante a tarde do suposto sumiço e mais tarde deixando a mala vazia em uma calçada.
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Os dois tiveram a prisão preventiva decretada e vão passar por audiência de custódia na tarde desta quinta (7). O inquérito segue aberto para apurar se houve um homicídio ou tortura com resultado morte, considerado crime ainda mais grave.
O Conselho Tutelar já havia sido informado sobre uma situação de violência na família e tinha encaminhado relatório ao Ministério Público. O órgão disse que foi instaurado procedimento e a situação de Isabelly e do irmão de sete anos era investigada. Por envolver crianças, o MP não pode dar detalhes dessa investigação, que segue em sigilo.
O menino mais velho está, agora, sob a guarda do pai biológico. O pai da menina cumpre pena na Penitenciária Industrial de Blumenau.
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