Recentemente, em meio a negociações indiretas e incertas sobre o futuro da guerra na Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky tocou em um dos tópicos mais sensíveis e sigilosos do maior responsável pela invasão, iniciada há três anos: a saúde do presidente russo, Vladimir Putin, de 72 anos. Embora as questões médicas do líder raramente sejam adereçadas pelo Kremlin, as especulações e teorias em torno do assunto geram “burburinhos” desde a chegada do russo ao poder. As informações são do O Globo.
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Em uma viagem à França nessa quinta-feira (27), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que Vladimir Putin deve “morrer em breve”.
— Ele [Putin] morrerá em breve, isso é um fato, e isso chegará ao fim — declarou Zelensky à France TV, depois de um encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris.
No poder, Putin, ex-agente da KGB e faixa-preta de judô, tenta passar uma imagem de virilidade e saúde perfeita, que conversa com o discurso de defesa de valores russos, onde o homem é visto como a “parte forte” da família. Ainda assim, os rumores em torno da saúde do presidente circulam livremente.
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Boatos sobre a saúde de Putin começaram nos anos 2000
Meses após assumir o posto em 2000, substituindo o enfermo Boris Yeltsinm, a imprensa russa começou a circular rumores de que o então jovem líder era alguém doente, e que mal teria condições de chegar à eleição daquele ano.
Três anos depois, em 2003, o jornal Kommersant publicou que Putin teria uma forma grave de eczema, citando o uso repetido de roupas mais largas do que a de costume.
Os rumores, dúvidas e especulações chegaram à imprensa norte-americana em 2005, após a revista The Atlantic publicar uma longa reportagem questionando o caminhar do presidente, em especial na primeira posse, o considerando “irregular”.
O artigo consultou especialistas, que disseram que Putin poderia ter sofrido um acidente vascular cerebral ainda no útero da mãe, ter sequelas do uso incorreto do fórceps no parto ou ter tido pólio na infância — em 1950, quando ele nasceu, uma epidemia da doença se alastrava pela União Soviética. Foram até 22 mil novos casos por ano.
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Em 2008, um estudo do Colégio de Guerra Naval dos EUA, ligado ao Pentágono, concluiu que Putin tem a síndrome de Asperger, “um transtorno autista que afeta todas as suas decisões”. A pesquisa afirma que o “desenvolvimento neurológico de Putin foi significativamente interrompido na infância”, “que o presidente russo carrega uma anormalidade neurológica” e que “Putin tem alguma forma de autismo”.
Após o artigo, surgiram outras alegações desta vez envolvendo a saúde mental do líder russo, sobre um suposto uso de botox e questões que teriam, de acordo com a imprensa japonesa, levado ao cancelamento de uma viagem ao país em 2012. Semanas antes, o Kremlin alegou que Putin estava fazendo um tratamento para dores nas costas, ligadas ao judô e a exercícios de levantamento de peso.
Supostos diagnósticos de câncer
Outro rumor recorrente são os supostos diagnósticos de câncer do presidente. Em 2014, meses depois de anexar a Crimeia e apoiar forças separatistas na Ucrânia, as imprensas polonesas, estadunidenses e da Bielorrússia noticiaram que ele havia sido diagnosticado com tumores na medula espinhal e no pâncreas, e estaria em “estado terminal”.
Em 2017, o cientista político Valery Solovei garantiu que Putin renunciaria por motivos de saúde. O especialista, três anos depois, também falou que o líder russo havia sido submetido a uma cirurgia para a retirada de tumores malignos, que teria Doença de Parkinson e, finalmente, hanseníase. Na época, o porta-voz do Kremlin rebateu:
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— Nada disso faz sentido — disse, em 2021, Dmitry Peskov.
Na pandemia de Covid-19, novos rumores surgiram. Putin se isolou na residência de Novo-Ogaryovo, por vezes desaparecendo aos olhos públicos e contribuindo para especulações. Em novembro de 2020, uma crise de tosse durante uma reunião viralizou, mas foi abafada pela imprensa oficial. Na época, o rosto inchado de Putin sugeria, de acordo com médicos, o uso de medicamentos como esteroides.
Durante a pandemia, houve uma preocupação encarada como extrema em relação ao coronavírus. Vários chefes de Estado e ministros foram obrigados a se submeter a exames antes de reuniões bilaterais. Caso contrário, precisariam se sentar do outro lado de uma longa mesa no Kremlin.
Os rumores em torno da saúde do presidente russo ganharam uma nova força no início da guerra da Ucrânia, em 2022. “Revelações” feitas pelo então chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, constatavam que Putin estava com várias doenças, “incluindo câncer”. Em meio a isso, o site investigativo russo Proekt afirmou, com documentos de viagem oficiais, que Putin recebeu visitas regulares de um oncologista e dois otorrinolaringologistas, sugerindo uma doença na tireoide.
Se baseando em fontes da inteligência dos EUA, a revista Newsweek disse que ele passou por um tratamento para um câncer “em estado avançado” em 2022. Foi neste mesmo ano que o tablóide britânico Sunday Mirror, citando uma fonte do serviço secreto russo, afirmou que Putin tinha “dois ou três anos de vida”. Na matéria, o site adicionou que ele convivia com dores de cabeça intensas e um controle cada vez menor das funções motoras.
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Todos esses boatos contribuíram para teorias da conspiração. Ainda em 2022, outros tabloides declararam que Putin havia morrido e sido substituído por um dublê de corpo. Em 2023, o próprio Zelensky questionou se o russo estaria mesmo vivo. Canais do Telegram, amparados por declarações de Solovei, garantiam que Putin morreu no dia 23 de outubro daquele ano, e estava sendo interpretado por um sósia.
Apenas rumores, nada concreto
Agências de inteligência ocidentais já afirmaram que Putin “está saudável até demais”. Os supostos documentos comprovando as doenças alegadas raramente são apresentados.
O Kremlin rejeita as acusações, ao mesmo tempo em que diz que a lei “não prevê nenhuma divulgação obrigatória de dados sobre a saúde do presidente”.
A onda sem fim de rumores, além de um certo elemento de propaganda, conforme um artigo da revista The Statesman, tem raízes na Kremlinologia soviética. Por conta da ausência de informações oficiais sobre o governo, era comum muitas vezes recorrer a fontes na comunidade de inteligência ou na observação de aparições públicas dos líderes. O similar acontece na Coreia da Norte: em 2020, muitos apontaram que Kim Jong-un havia morrido após um período longe dos olhos públicos, o que não se confirmou.
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*Sob supervisão de Andréa da Luz
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