Morreu na manhã desta quinta-feira, 13 de julho, o radialista Ramiro Gregório da Silva. Ele tinha 81 anos e estava no Hospital da Unimed, em Joinville. Natural de Pomerode quando o município ainda pertencia à Blumenau, Ramiro tinha atuação forte em rádios de todo o Estado. Seu último projeto foi a implantação da rádio educativa Joinville Cultural, um sonho antigo de ter uma emissora de rádio mantida pelo órgão público responsável pela cultura da cidade.
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Ramiro era casado desde 1956 com Lola Rossi da Silva, com quem teve duas filhas: Marlise e Lucienne, e tem dois netos: João Guilherme e João Gabriel.
Segundo a filha, Marlise, Ramiro estava internado há uma semana na UTI do Hospital da Unimed. Diagnosticado há cerca de cinco anos com Alzheimer, ele morreu por insuficiência renal, um agravante da doença degenerativa. O velório ocorrerá na capela 4 da Borba Gato a partir das 16h30 e o enterro será às 10 horas de sexta-feira, também no Cemitério Municipal de Joinville.
Marlise conta que há uma parede do apartamento em que vivia totalmente ocupada por quadros com homenagens e títulos recebidos ao longo dos 60 anos de carreira como locutor, jornalista e pela vida na política. Entre todas, a radiodifusão sempre foi a grande paixão.
— Ele acordava, comia, respirava e dormia rádio. A vida dele era fazer rádio e correr atrás da perfeição — relembra a filha.
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Ramiro deixou a cidade natal e mudou-se para Curitiba aos 17 anos, onde viveu as primeiras experiências em rádio, como narrador de textos comerciais. Na realidade, ele se mudara para a capital paranaense em busca de trabalhos e conseguiu vaga como office-boy na Companhia de Cimento Portland Rio Branco, e, depois, como arquivista na Importadora Americana. Nos fins de semana como frequentava os programas de auditório nas rádios PRB-2 e Guairacá, fez amizade com o locutor e conseguiu alguns espaços para aprender o trabalho de narrador.
Em entrevista para o jornal A Notícia em 2012, ele recordou aquele período.
— Eu tinha uns 17, 18 anos, e isso aconteceu assim: eu achava muito bacana o trabalho em rádio, ia para a rádio Jaraguá, que era a única em Jaraguá do Sul, e ficava do lado de fora mesmo. Mas achava maravilhoso o trabalho dos locutores, dos cantores que se apresentavam ao vivo… — contou.
Quando voltou para Santa Catarina, foi morar em Jaraguá do Sul e passou a comandar a programação musical da rádio que havia inspirado o início de sua carreira. Depois, passou por emissoras de Indaial, Blumenau, Gaspar e Brusque até se fixar em Joinville, a convite do amigo de profissão Jota Gonçalves.
Em Joinville, cidade que escolheu para viver com sua família, foi o responsável por instalar e administrar as rádios Cultura AM e a Difusora, ainda na metade do século 20; e pelo projeto e implantação das rádios educativas Joinville Cultural e Rádio Udesc — esta, a primeira rádio educativa de Santa Catarina.
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Integrou também a equipe da Rádio Colon AM, como redator e comunicador, foi acionista e superintendente da Rádio Difusora AM e, simultaneamente, das Rádios Guarujá e Antena 1, em Florianópolis. Foi secretário de turismo de Joinville e de Barra Velha, onde implantou a rádio Aquarela.
O radialista Paulo Marttini, que atuou ao lado de Ramiro nos últimos anos de sua carreira na implantação das rádios Udesc, Aquarela e Joinville Cultural, lembra que ele era um perfeccionista em sua paixão pela radiodifusão, sempre dedicado a oferecer a melhor experiência para o ouvinte.
— Ele era muito exigente nas questões técnicas, administrativas e artísticas. Não sossegava até que o som estivesse muito bom, a ponto de ligar à uma da manhã e dizer “estou ouvindo um ruído no fundo, vocês não acham?” — recorda Paulo.
O radialista conta que há cerca de duas semanas, Ramiro visitou a rádio Joinville Cultural. Ainda que o Alzheimer tenha começado a levar suas memórias, ele ainda pode se emocionar com os elogios e agradecimentos dos funcionários da emissora educativa que ajudou a fundar.
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— Foi como uma despedida — comenta Paulo — Ele me ensinou tudo o que sei sobre radiodifusão. Dizia que tínhamos que ser educados porque entrávamos na casa das pessoas sem pedir licença, por isso precisávamos falar com zelo e comunicar muito bem. Era muito exigente, mas sempre ensinava todos os funcionários.
Ramiro foi responsável pela cobertura, em 1969, do concurso de Miss Universo em Miami, nos Estados Unidos, acompanhando a blumenauense Vera Fischer, que representava o Brasil. Na mesma viagem, acabou acompanhando e narrando para os catarinenses sobre a subida da Apollo 11 e a chegada do homem na Lua, que ocorreu no dia seguinte ao Miss Universo.
Entre os prêmios e títulos recebidos, está o de Cidadão Honorário de Joinville, Cidadão Benemérito de Barra Velha, Troféu Assis Chateaubriand e Medalha do Mérito Anita Garibaldi.