Na noite da última quinta-feira (4) Joinville perdeu mais um símbolo de sua tradicionalidade. Peter Markus Mayerle foi o último proprietário da empresa Mayerle Boonekamp, conhecida pela criação da receita do Bitter, uma bebida alcoólica amarga e aromática, feita a partir de ervas. Ele tinha 94 anos e deixa esposa, três filhos, três netos e um bisneto. Não haverá cerimônia de despedida e ele será cremado. A família não divulgou a causa da morte.
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Desde que a colônia agrícola Dona Francisca se tornou Joinville, uma pequena cidade focada na atividade industrial, a Mayerle Boonekamp foi de vital importância para nossa economia. Ela foi fundada em 1892 pelo avô de Peter Markus, o ucraniano Peter Mayerle, que estabeleceu em Joinville uma “venda”, onde era possível encontrar, entre outros produtos, queijos, bebidas artesanais e a famosa Bitter. O negócio continuou pequeno até 1909, quando a produção da bebida passou a ser industrializada e Peter investiu em filiais.
Ainda assim, a “venda” se tornou a matriz da marca. Sob a administração de Jorge Mayerle, sobrinho de Peter, a loja ficou conhecida como ponto de encontro para trabalhadores fabris no happy hour e pessoas influentes da cidade. Além do Bitter, a empresa também comercializava outros produtos que marcaram a comunidade joinvilense, como xaropes para capilé. Ela foi fechada nos anos 1990 e, em 2013, o prédio centenário foi demolido.
Durante seu funcionamento, a presidência da Mayerle Boonekamp permaneceu familiar, fazendo de Peter Markus o último proprietário da empresa antes do fechamento.
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História da Mayerle Boonekamp em Joinville

O Jornal A Notícia publicou sobre a Mayerle Boonekamp em um projeto especial chamado “Ruas de Joinville”, publicado de fevereiro de 1998 a janeiro de 1999. Confira um trecho da matéria, de autoria da jornalista Maria Cristina Dias:
Resultado do sonho e do esforço de um jovem ucraniano que aos 25 anos decidiu abandonar a terra natal para tentar a sorte na distante e desconhecida América, a empresa ainda hoje está em atividade, produzindo a bebida que no decorrer deste século ficou famosa na região de Joinville e também xarope para refresco de diversos sabores.
Embora a fundação da fábrica date de 1892 e a produção do bitter só tenha iniciado na primeira década deste século, a história do que viria a ser a Mayerle e Cia começa a se delinear em 1888, com a chegada de Peter Mayerle ao Brasil. A princípio a intenção era seguir o caminho de boa parte de seus conterrâneos, que, oriundos de uma região pobre da Ucrânia, rumavam para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
Ao chegar em Hamburgo, na Alemanha, porém, verificou que havia perdido o navio para a América do Norte e decidiu vir para o Brasil. Após desembarcar em São Francisco do Sul ele rumou para Joinville, onde construiria diversas empresas e realizaria o sonho do imigrante: prosperar.
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Ao chegar ao Brasil, muitas foram as dificuldades superadas por Peter Meyerle, que não falava nem o português nem o alemão. Ele, porém, logo começou a trabalhar como carroceiros para a família Becker, na Estrada Dona Francisca e, em pouco tempo adquiriu a própria carroça e iniciou os fretes até Mafra, no Planalto Norte.
Após o casamento com Elise Schroeder, em 1891, Mayerle morou um ano em Campo Alegre, onde teve a chance de exercer a sua profissão de origem, comerciante. Isso talvez tenha influenciado em seu futuro, já que no ano seguinte, voltaria para Joinville e abriria – já no Bucarein um secos e molhados, ao qual, tempos depois, foi anexada uma empresa de secagem de folha de palmito para exportação. O negócio funcionava na esquina da atual avenida Getúlio Vargas com a rua Inácio Bastos (no local da atual loja Vencedora), onde Peter morava com a família .
Para agradar a freguesia, o ucraniano fabricava o bitter – na época chamado de bitter estomacal -, um tipo de aperitivo feito à base de ervas e importadas da Europa. Com o tempo, a produção foi crescendo até que em 1909 começou oficialmente a industrialização da bebida.
*Isadora Nolf é estagiária e assina sob supervisão de Cláudia Morriesen. (claudia.morriesen@somosnsc.com.br).
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