O dia de Natal nasceu mais triste para a classe artística brasileira. Morreu o bailarino, coreógrafo e professor Jair Moraes, aos 70 anos. Ele havia contraído o vírus H1N1 e lutava desde agosto contra as consequências da doença. Considerado uma referência no mundo da dança, Jair passou por Joinville e teve grande importância para a Escola Municipal de Ballet.
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Atualmente, Jair dirigia a Cia. Masculina de Dança, fruto de um projeto social da Escola de Balé do Teatro Guaíra, em Curitiba (PR), iniciado há 13 anos. Com ele, o artista ensinava dança a meninos de baixa renda e tinha como pré-requisito apenas a vontade do bailarino de aprender. Para isso, criou métodos para desenvolver a musculatura de garotos que não tinham perfil físico para balé e ajudava a aumentar o número de homens na dança clássica brasileira, além de garantir que a maior parte de seus alunos chegassem à universidade. O grupo era pioneiro ao ser o primeiro formado apenas por homens.
Jair nasceu no Rio de Janeiro e foi aluno de Tatiana Leskova e Eugênia Feodorova. Ele dançou durante oito anos no Ballet Gulbenkian, em Lisboa, foi primeiro-bailarino no Balé do Theatro Municipal do Rio e de São Paulo, e no Balé Teatro Guaíra, onde mais tarde voltaria como diretor e maitre.
Na juventude, foi partner de grandes estrelas da dança – entre elas Ana Botafogo, com quem abriu o Festival de Dança de Joinville em 1987. Naquela ocasião, quando o evento joinvilense ainda estava na 5ª edição e Ana Botafogo dançava pela primeira vez na cidade, eles apresentaram La Bayadère e foram aplaudidos por 15 minutos.
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Nos anos 1990, viveu em Joinville e foi coordenador da Escola Municipal de Ballet. Contratado no fim de 1991, ele foi o responsável por reestruturar a escola de dança da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior. O professor Marcos Sage, que foi seu aluno neste período, lembra que ele dirigia o Grupo Raízes, em Caxias do Sul, quando o Plano Collor congelou os investimentos, resultando no fechamento da companhia.
– Jair era uma grande referência na dança do Brasil e era o primeiro da lista quando pensávamos em um mestre. Por isso, seu nome foi considerado para fazer estas mudanças na Escola Municipal de Ballet – conta Marcos.
Jair montou coreografias premiadas e incentivou a criação do Grupo Experimental, que viajou pelo País levando o nome de Joinville. Foi o início de um movimento que fez surgir a campanha pela criação de uma Companhia Municipal de Dança em Joinville – na época, já famosa como Cidade da Dança.
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– Como foi tão prometido e nunca foi cumprido, ele desanimou. Jair era assim: sempre um passo para frente, nunca para trás – recorda Marcos, que o chamava sempre de mestre.
Jair deixou Joinville em 1997 para dedicar-se completamente à direção do Balé Teatro Guaíra. Em 2001, trouxe a companhia para a Noite de Gala do Festival de Dança, com o espetáculo Treze Gestos de um Corpo, com 13 estrelas da dança no palco. Entre 2006 e 2007, voltou a dar aulas em Joinville como professor da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.
Nos últimos anos, continuava sua relação com Joinville ao visitar regularmente a Escola Municipal de Ballet para consultorias e dar aulas e atuar como jurado durante o Festival de Dança. Em abril, a Escola Municipal de Ballet entregou uma homenagem a ele por sua contribuição às artes e à instituição.
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Jair será velado a partir das 19 horas deste domingo, em Curitiba.
A jornalista joinvilense Schirlei Alves foi aluna de Jair Moraes e recorda a experiência:
A primeira audição (avaliação) de ballet da minha vida foi com o mestre Jair Moraes, no Centro de Dança e Pesquisa Flávia Vargas. As outras bailarinas da turma dançavam há mais tempo e tinham muito mais experiência do que eu. Ainda assim, transpiravam nervosismo pela responsabilidade. “É o Jair Moraes”, diziam pelos corredores.
Quando entrei na sala ainda desajeitada pelo pouco tempo de dança, suei frio. Mas lembro que sobrevivi e nem doeu tanto assim. O reconhecimento do nome pesava, mas na sala de aula ele quebrava o gelo com os famosos bordões. Lembro do dia em que o Jair me notou na sala de aula e me incentivou a seguir adiante. Aquelas palavras foram como um prêmio aos 12 ou 13 anos.
Nas outras oportunidades que tive em participar das aulas dele, na Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura, o medo já não me pertencia mais, apenas admiração e reverência. Jair foi grande, magnífico e deixou sua marca para sempre no mundo da dança.
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