Quando nasce um escritor, sua morte inexiste. “A gente não morre, fica encantado”, já dizia Guimarães Rosa. Maria Antônia Primaz de Paula nasceu há exatos 30 dias, aos 97 anos, num fim de tarde, rodeada de afeto. Portanto, a notícia de sua morte, num começo de noite, a do último domingo, não a leva por completo. Maria agora é a sua obra, sempre viva, como o nome da banda que um dia integrou.
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A única filha, Janete, que viveu seus 62 anos ao lado da mãe, nunca a viu doente como nas últimas duas semanas, quando precisou ser internada no Hospital Regional. Sempre disposta, Maria carregada a força do nome em seu modo de vida. Orgulhava-se de não ter doença grave, sequer demonstrava os sintomas da úlcera no estômago, da gastrite e do câncer na vesícula, descobertos recentemente.
No lançamento de “O Filho Adotivo”, livro que havia escrito há mais de 20 anos e que só foi publicado no mês passado, Maria fez questão de autografar todos os exemplares, enquanto a filha se encarregava das dedicatórias.
– Ela comemorava cada livro vendido – conta Janete.
A editora Célia Biscaia Veiga revela que Maria lhe confidenciou nos bastidores do lançamento que uma nova história estava a caminho, mas que só ficaria pronta no fim deste ano.
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– Ela dizia que só conseguia escrever meia hora por dia, por isso ia demorar – lembra Célia.
Maria ficou dias contemplando a primeira obra.
– Parece que estava esperando realizar seu sonho para se despedir – constata a editora.
Maria foi uma mulher comum. Criada na roça, no Rio Grande do Sul, ela se deliciava com os romances fragmentados semanalmente nos jornais. Foi enfermeira e parteira. Casou-se aos 29 anos e teve a primeira filha.
Também viveu a música. Habilidosa com os instrumentos, tocava gaita, flauta, violão e violino e fez parte da banda Sempre Viva, formada com o marido Olívio, parentes e amigos.
Deu início ao esboço de sua primeira obra depois dos 45 anos e foi terminá-la somente aos 75. As folhas amareladas ficaram anos guardadas até serem resgatada por um dos netos e encaminhada a uma editora de Joinville, onde a gaúcha morava há 22 anos. “O Filho Adotivo” reconstrói uma tragédia familiar que Maria ouviu em uma viagem com sua banda.
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