Morreu nesta quinta-feira, aos 92 anos, em Buenos Aires, o artista plástico argentino León Ferrari. Conhecido por sua atitude polêmica, Ferrari ganhou projeção internacional por seu trabalho provocativo sobre temas como a guerra, a religião, o poder e o sexo.
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Nascido na capital da Argentina em 1920, Ferrari chegou a estudar engenharia, mas ainda na década de 1940 passou a se dedicar à arte, trabalhando em linguagens variadas como escultura, pintura, gravura, desenho, filme e poesia. Sem se filiar a movimentos artísticos específicos, o artista construiu uma trajetória variada que acompanhou as principais transformações das arte moderna e contemporânea no século 20. É reconhecido por ser um dos pioneiros da arte conceitual na América do Sul e pela irreverência de suas obras.
Durante a ditadura militar argentina (1976 – 1983), Ferrari precisou sair de seu país, passando seu exílio no Brasil, em São Paulo, entre 1976 e 1991. O regime ditatorial da Argentina vitimou um de seus filhos, que foi dado como desaparecido durante a repressão. Em São Paulo, atualmente vivem duas de suas netas.
– Os brasileiros nos receberam muito bem. Conheci a Regina Silveira (artista gaúcha radicada em São Paulo), Julio Plaza, Alex Flemming… – disse Ferrari, ao caderno Cultura, em abril de 2010.
A entrevista foi concedida a propósito da exposição O Alfabeto Enfurecido: León Ferrari e Mira Schendel, apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, depois de passar por Nova York (no MoMA) e Madri (no Reina Sofía). A vinda à Capital foi uma oportunidade para o público conhecer trabalhos célebres, como as esculturas abstratas a exemplo de Torre de Babel (1964), feita em arames de aço inoxidável.
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>> Leia entrevista com León Ferrari publicada no Caderno Cultura em abril de 2010
– A arte é uma coisa muito ampla, não se pode classificar isso é ou isso não é arte, ou tem de ser polêmico ou não – disse na época a ZH.
O argentino também participou quatro vezes da Bienal do Mercosul: em 1997, na primeira edição, e depois novamente em 2003 (4ª Bienal), em 2007 (6ª Bienal) e em 2009 (7ª Bienal). Em 2007, deixou como depoimento para os visitantes o seguinte pensamento: “Preocupa-me refletir, de alguma forma, sobre a violência que acompanha nossa humanidade (…)”.
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No mesmo ano, Ferrari recebeu o Leão de Ouro da 52° Bienal de Veneza, a mais antiga e prestigiosa mostra de arte do mundo. Atualmente, a exposição Deixa Estar, de Sandro Ka, na Casa de Cultura, conta com uma obra de Ferrari pertencente ao acervo do Museu de Arte Contemporânea (MACRS).