O escritor Ernesto Sabato, vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura e um dos maiores autores argentinos do século XX, morreu aos 99 anos em sua residência de Santos Lugares, na província de Buenos Aires, anunciou neste sábado a família.

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– Ele morreu durante a noite, é um grande que se vai. Há 15 dias teve uma bronquite e na idade dele isto é terrível – declarou sua companheira de 30 anos e colaboradora, Elvira Gonzáles Fraga.

– Vinha sofrendo há três anos. De alguma maneira se aproximava dos 100 anos, mas era doloroso de ver – confessou a mulher à rádio Mitre, que lamentou a morte do autor.

– Nos acompanhamos por 30 anos. Há muito tempo Sabato estava mal, mas de alguma maneira permanecia estável, gostava muito de música, então colocávamos música para entretê-lo – disse.

Sabato seria homenageado no domingo na Feira do Livro pelo Instituto Cultural da província de Buenos Aires, a dois meses de completar 100 anos.

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Prêmio Cervantes de Literatura em 1984, Sabato escreveu obras fundamentais da literatura argentina como “O Túnel”, “Sobre Heróis e Tumbas” e “Abbadón, o exterminador”.

– Há uma obra chave de Sabato que é “Homens e Engrenagens”, que fala de maneira magnífica sobre a relação entre o homem e a tecnologia, algo que está acontecendo de forma contemporânea – afirmou o secretário de Cultura da cidade de Buenos Aires, Hernán Lombardi.

A última homenagem oficial ao escritor foi feita pelo falecido ex-presidente Néstor Kirchner e pela então senadora Cristina Fernández Kirchner, quando financiaram a criação de um museu e uma Casa de Cultura em homenagem a Sabato.

Nascido em 24 de junho de 1911 na cidade de Rojas, Sabato foi o penúltimo de 11 filhos e seus biógrafos acreditam que parte de sua atormentada personalidade foi consequência do fato de ter sido batizado com o nome do irmão imediatamente mais velho, morto pouco tempo antes.

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Em 1984, presidiu um seleto conjunto de personalidades na Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), que publicou o famoso “Nunca mais”, com relatos e depoimentos das vítimas e sobreviventes da ditadura (1976/1983).

– Compartilhamos horas de conversas, de luta quando integrávamos a Conadep – recordou Graciela Fernández Meijide, ex-senadora e membro da Assembleia Permanente de Direitos Humanos (APDH).

“Me dói a morte de Ernesto Sabato, ficam seus livros e a recordação de um homem apaixonado por seu país”, escreveu o chanceler Héctor Timerman na rede social Twitter.

– Sabato representa mais que a literatura. Sem dúvida, foi o último escritor argentino de verdadeira chegada popular como referência cultural. Um tipo de figura que me parece que desapareceu no horizonte atual – disse María Rosa Lojo, pesquisadora e escritora que fez uma tese de doutorado sobre o autor.

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Sabato será velado neste sábado no clube Defensores de Santos Lugares, na área da província de Buenos Aires em que viveu durante décadas.