Morreu nesta terça-feira (17), aos 96 anos, Eglê Malheiros, escritora, professora, editora, militante e tradutora catarinense. Ela foi roteirista do primeiro longa-metragem filmado em Santa Catarina e a primeira mulher a formar-se em Direito no Estado.

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A morte foi confirmada no perfil de Eglê nas redes sociais. Atualmente, a catarinense natural de Tubarão morava em Brasília, onde estava sob cuidado dos cinco filhos. Ela foi casada com Salim Miguel, que faleceu em 2016. Além dos filhos, Eglê deixa oito netos e quatro bisnetos.

Segundo Adriane Canan, jornalista responsável pela direção do documentário “Eglê”, que conta a história de vida da catarinense, o corpo da escritora deve ser cremado em Brasília e depois as cinzas serão trazidas para Santa Catarina. Uma homenagem deve ser realizada em Florianópolis, porém ainda não foram divulgados mais detalhes.

O Museu Victor Meirelles lamentou a morte de Eglê em sua rede social:

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Quem foi Eglê Malheiros

A catarinense foi precursora no cinema do Estado, sendo roteirista do longa-metragem “O preço da ilusão”, de 1957, junto com o companheiro Salim Miguel. O filme se passa em Florianópolis e conta duas histórias simultâneas: a de Maria da Graça, uma funcionária pública que desiste do noivado para participar de um concurso de Rainha do Verão, e a de Maninho da Silva, menino que trabalha como engraxate para sustentar a família.

Por conta da produção, Eglê se tornou a primeira mulher roteirista que se tem conhecimento no Estado. Contudo, o envolvimento no cinema já vinha desde os anos 40, quando junto do Grupo Sul, movimento artístico que levou o modernismo a Santa Catarina na época, fundou um cineclube na Capital.

Além de Eglê e Salim, Armando Carreirão, Silveira de Souza, Ody Fraga, Walmor Cardoso da Silva, Adolfo Boos Jr., Aníbal Nunes Pires, Archibaldo Neves e Hamilton Ferreira integravam o grupo, que se chamava incialmente Círculo de Arte Moderna.

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Entre a produção literária publicada por Eglê, está o livro infantil Desça, menino (1985), Vozes veladas (1996) e Os meus fantasmas (2002). Por vários anos, ela também assinou uma coluna no Diário Catarinense.

Veja fotos de Eglê Malheiros

Multifacetada, Eglê Malheiros atuou também como professora de história no Instituto Estadual de Educação e como tradutora. Durante a Ditadura Militar, foi perseguida, presa em abril de 1964 e proibida de continuar dando aulas até 1979.

Em Florianópolis, ela ficou detida por uma semana no Hospital da Polícia Militar e enfrentou mais 50 dias de prisão domiciliar. Quando ela e Salim foram soltos, eles e os cinco filhos se mudaram para o Rio de Janeiro, onde viveram entre 1965 e 1979.

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Lá, mesmo sendo mãe e dona de casa, ela trabalhou como tradutora, roteirista de cinema e na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, onde foi diretora-secretária. De acordo com Adriane Canan, na cidade maravilhosa, Eglê também foi uma das editoras da revista Ficção (1976/79), além de fazer o Mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Em 2023, foi lançado o documentário “Eglê”, que teve a primeira exibição no Museu da Escola Catarinense (MESC). Através da obra, dirigida por Adriane Canan, a história de Eglê Malheiros permanece viva e continua na memória dos catarinenses.

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