O jornalista e escritor Mário Pereira morreu na manhã desta segunda-feira, no dia em que completaria 73 anos. Membro da cadeira de n°8 da Academia Catarinense de Letras (ACL), ele estava internado desde sábado no Hospital Baía Sul, em Florianópolis, por causa de um edema pulmonar.

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O velório será a partir das 14h na capela B do Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi, em Florianópolis. Às 20h de hoje será realizada uma missa a pedido da família. A capela será fechada à noite e o corpo será cremado na terça-feira, às 10h, no Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú.

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Nascido em Porto Alegre, Mário foi um dos pioneiros na implantação do Diário Catarinense, onde atuou como editor de opinião, cronista, articulista e colaborador fixo do DC Cultura.

Autor de romance, contos, crônicas e de obras técnicas de jornalismo, tinha nove livros lançados e dois prestes a serem publicados. Ainda na semana passada enviou à editora Marta Martins da Silva, da editora Cuca Fresca, os originais das obras infantojuvenis: Francisco e a Lebre da Quaresma, sobre a história de São Francisco de Assis, e O Gato Mingau volta pra Casa.

Formado em direito, preferiu as redações de jornal à burocracia dos escritórios. Atuou como repórter no Rio de Janeiro e aos 26 anos foi editor-chefe do jornal gaúcho Zero Hora. Em Santa Catarina foi também editor-chefe do jornal O Estado. Entre os anos 2000 e 2006 foi professor de redação do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).

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Amor por Florianópolis

Mário Pereira chegou em Florianópolis em 6 de janeiro de 1986, tinha então a missão de, com outros jornalistas, implantar o Diário Catarinense, na época o primeiro jornal informatizado da América Latina. O plano era ficar apenas um ou dois anos, mas o autor adotou Florianópolis para viver, amar e escrever.

– Ele fazia parte desse grupo de pessoas que veio de fora e abraçou Florianópolis como sua terra natal. Ainda na semana passada ele me telefonou para contar que estava terminando um novo livro sobre as belezas da cidade destinado às crianças, para conscientizá-las sobre a importância de valorizar nossa cultura – conta o jornalista Laudelino José Sardá, amigo e ex-colega.

Mário acreditava que não se pode amar e cuidar aquilo que não se conhece. Por isso mergulhou na história da Capital e dedicou a ela muitas linhas. O livro Roteiro Histórico e Sentimental pelas Ruas de Florianópolis (Editora Unisul, 2013) é um exemplo da relação afetiva dele com cada canto da cidade. A obra é uma espécie de roteiro turístico com conteúdo poético-histórico de Florianópolis.

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Amor pela literatura

Da mesma forma que amou a cidade, Mário Pereira foi um grande defensor da valorização da literatura catarinense.

– Ele não só escreveu aqui, como se dedicou a analisar e fazer crítica – destaca Nelson Rolim de Moura, diretor-editor da Editora Insular, pela qual Mário publicou três obras, entre elas Saudade do Futuro e Outras Crônicas, de 2011.

Um de seus primeiros livros foi Fazendo a Cabeça – Jornalismo de Ideias e Crítica, (Editora Paralelo 27), em 1993. Dois anos depois lançou Certas Certezas – Ensaios (Editora Terceiro Milênio), pelo qual recebeu o Prêmio Othon Gama D’Eça, conferido pela ACL.

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Publicou uma série de livros sobre Florianópolis, inclusive dedicados às crianças, como História de Florianópolis para Ler e Contar.

Um mestre do jornalismo

Mestre Mário, como era conhecido, costumava dizer que existem duas coisas que são incompatíveis: a burrice e o jornalismo. Colegas de profissão relembram seus textos brilhantes – uma escrita lúcida, nítida, enxuta – e seu posicionamento extremamente crítico com relação à função do jornalismo.

– Ele era muito lúcido e um crítico sarcástico e mordaz. Os artigos dele sempre traziam algo novo, mas sempre em tom de crítica- comenta o jornalista Marcos Espíndola.

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Para quem queria aprender a fazer jornalismo, recomendava: “leiam e aprendam!”. Tinha um jeito de “adorável ranzinza” e eterno indignado que inspirou dezenas de alunos, quase discípulos.

– Mário tinha a capacidade de perceber o invisível, de captar o não dito, de fotografar o perfume. Apesar de ser um crítico de grande rigor, era extremamente generoso – escreveu o jornalista, documentarista e ex-aluno de Mário, Fernando Evangelista.

Mário Pereira foi professor entre os anos 2000 e 2006. Em seu perfil no Facebook muitos de seus ex-alunos publicaram mensagens enaltecendo o mestre e agradecendo os ensinamentos para o jornalismo e para a vida.

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Amor pelos animais

Além do jornalismo e da literatura, Mário Pereira tinha outra paixão: os animais. Não era casado e não tinha filhos, mas dividia sua casa em Capoeiras, região continental de Florianópolis, com seus seis cachorros e dois gatos, quase todos adotados da rua. Dudu, um dos mais velhos da família, um vira lata surdo, reumático e alérgico que Mário adotou quando era filhote, morreu recentemente, aos 15 anos, e deixou o escritor abalado.

– Conhecia o Mário há oito anos. Eu passeava todos os dias com os cachorros dele e o ajudava com os animais da rua. E ele sempre ajudava os outros animais, mesmo quando não podia adotar, comprava ração – conta Edson Costa, vizinho que acabou se tornando braço direito do autor na lida com os bichos e questões práticas do dia a dia, como serviço de banco e supermercado.

Tamanho o amor do jornalista pelos animais que ele comemorava o aniversário de cada um deles e usava seu perfil no Facebook para divulgar casos de maus tratos e compartilhar animais que estavam para adoção.

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Depoimentos

Péricles Prade, escritor, jurista e ex-presidente da ACL

Além de ser um dos melhores jornalistas desse país, era um homem culto e amigo afetuoso. Uma perda irreparável. Ele deixou uma obra marcante. Era um resenhista excepcional, ensaísta primoroso. E apresar de gaúcho, apaixonou-se por Santa Catarina e por Florianópolis – cidade sobre a qual escreveu livros.

Salomão Ribas Jr., presidente da ACL

Perdemos um jornalista extremamente competente, um acadêmico dedicado e professor querido pelos alunos.

Marcos Espíndola, jornalista

Um grande batalhador do jornalismo e da literatura catarinense – que acolheu e soube valorizar como poucos. E foi um leão na ACL, antes mesmo de atuar como vice-presidente. Ele teve um papel importante de resgatar o vínculo da academia com a comunidade e com os veículos de imprensa.

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Laudelino José Sardá, jornalista, professor e diretor da Editora Unisul

Ele foi um dos mais talentosos professores. E um dos poucos a motivar os alunos a escrever. O Mário dizia que tem duas coisas que são incompatíveis: a burrice e o jornalismo. E recomendava: “querem fazer jornalismo? Leiam e aprendam!”

Claudio Thomas, jornalista

Sempre foi um jornalista inteligente, texto primoroso. Alguns editoriais entraram para a história – mesmo editorial sendo um texto que comumente não chama muita atenção, ele tinha a característica de fazer textos instigantes.

Nelson Rolim de Mora, diretor-editor da Editora Insular

O Mário teve um grande envolvimento com a literatura catarinense. Ele não só escreveu aqui, como se dedicou a analisar e fazer crítica literária. Ele foi um paladino em defesa dos nossos autores, que são tão injustiçados ao não serem bem divulgados, inclusive entre nós mesmos.

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