Em uma hora e meia de conversa com o jornalista Roberto D’Ávila nesta sexta-feira, em São Paulo, o juiz da Operação Lava-Jato, Sérgio Moro, falou sobre o combate à corrupção e o acesso à informação e disse estar “assustado com o baixo nível do debate” no país.

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Moro também defendeu o respeito à presidente Dilma Rousseff e evitou fazer qualquer comentário específico sobre o processo que apura o escândalo bilionário na Petrobras. Segundo o juiz, em médio prazo a Lava-Jato ajudará economicamente, mesmo que o “custo da correção” seja grande agora.

Moro diz que não busca “confissões involuntárias”

– Uma série de problemas vinha se acumulando sem resposta adequada de nossas instituições e, de repente, eles começaram a aparecer de forma clara. O custo de correção é grande, mas me questiono: e o custo da continuidade? Contratos públicos cada vez mais custosos, obras que não terminam? Isso tem um custo para a sociedade significativo. A resposta institucional no médio prazo trará benefícios econômicos – acredita.

– A presidente merece respeito da minha parte e de todas as pessoas. Não me sentiria confortável em rebater um comentário dela – complementa.

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O juiz não respondeu a questionamentos sobre sua vida pessoal e afirmou somente que a única coisa que deseja é “tirar umas longas férias” depois que concluir seu trabalho na Lava-Jato. Ele entende que o processo tem semelhanças com o mensalão, mas não acha que seja a continuidade da Ação Penal 470. Moro ressaltou ser importante o acompanhamento da Lava-Jato pela internet, por qualquer pessoa, e disse que não está ocorrendo vazamento seletivo de informações:

– Alguns conteúdos devem ficar em sigilo para respeitar as fases (do processo). Depois, não há problema em divulgar.

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“Besta fera”

Sérgio Moro teceu alguns comentários sobre outros temas, como a maioridade penal – por não ser especialista no assunto, esquivou-se de opinar a favor ou contra a redução -, e criticou o foro privilegiado que beneficia parlamentares:

– Quanto maior os poderes, maior as responsabilidades.

Ao concluir, o juiz brincou que não é uma “besta fera” e explicou que não tem qualquer estratégia de investigação, limitando-se a reagir aos pedidos que chegam até seu gabinete. Moro, que quase foi jornalista – optou pelo Direito devido às circunstâncias de sua vida – pregou ainda a reforma do Judiciário para que ele funcione, “como regra”.

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