Quando a gente já tinha amiguinhos, escola, enfim, turminha, lá vinha ele com a novidade de um novo emprego noutra cidade ou mudança de casa sabe-se lá por quê. E lá íamos nós sem nos darmos conta do assunto, mesmo porque ele não iria explicar. E assim morei em infinitos lugares no interior do Rio Grande, sem tempo de me afeiçoar a nenhum. Então, eu detesto mudanças. Mas a minha filha Margot herdou a genética do avô. Com tantas coisas para herdar, foram logo as mudanças o grande legado dela. Fiquei 33 anos casada e morei em três endereços durante este tempo.
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Quando vim morar aqui, além de não conhecer ninguém, também pouco sabia da cidade, então fui morar perto dela, Margot. Aí, quando ela se mudou, lá fui eu atrás dela, que por sua vez só ficou dois anos onde estava (já são dois), e quando veio nova mudança, quem se mudou também? Claro: eu, que continuava sem ter amizades por aqui (três). Ainda teve outra mudança para lá de desagradável e eu finquei pé e não fui (quatro).
Mas, sempre tem um mas, aí meu coração estava tendo desmaios de depressão, quando ela se mudou outra vez e achamos uma apartamento bem ao meu gosto (cinco), bem pertinho do dela, e aqui estou, feliz. Cheia de amigas, todas coroas como eu, legais, preocupadas umas com as outras, tomamos café de vez em quando, e daqui eu não saio mais, daqui ninguém me tira. Margot mudou-se de novo (seis) e eu nem queria saber para onde, porque aqui não me sinto sozinha.
E neste vaivém pior que o da cerveja, para onde vão as coisas delas, enquanto arrumam a casa nova? Minha casa vira um entrevero. Mas aos poucos as coisas se acalmam e fica tudo nos seus lugares. Trocamos entre nós móveis, cortinas e outras coisas mais. Saímos as duas ganhando no final das contas. Para mim, esta será a última, garanto.
Mary Bastian
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