Florianópolis é mais do que uma cidade construída em uma ilha, é a casa de mais de meio milhão de pessoas entre a parte insular e continental de capital catarinense. Por conta dos limites físicos, está cada vez mais difícil achar espaço para novas moradias. O reflexo disso é o alto preço do metro quadrado dos imóveis e a ocupação de áreas inseguras para os moradores.

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Atualmente o município tem o terceiro aluguel mais caro entre as capitais brasileiras. Os preços foram uma surpresa para Cleo, que se mudou de Belém para Florianópolis com a família, somando cerca de 10 pessoas. Para conseguir preços mais em conta, foi necessário mudar a perspectiva sobre a Ilha de Santa Catarina.

— A primeira vez que a gente veio para cá, eu fui lá na Ilha e achei muito bonito. Só que o aluguel era muito caro, então não dava para gente, não tinha como ficar lá. A gente ficou morando um tempo em Capoeiras, onde a gente conseguiu alugar uma casa que desse para todo mundo. Para que cada um ficasse no seu espaço no quarto, né? A gente ficou morando lá quase um ano, depois que todo mundo já tinha conseguido emprego foi alugar o seu canto — relata a paraense.

Mesmo pagando mais caro, Cleo diz que viver em Florianópolis vale a pena e que aqui possui mais qualidade de vida do que na sua terra natal. Ela e a família fazem parte dos mais de 150 mil novos moradores da Capital que chegaram nos últimos 12 anos. Assim como a paraense, outros migrantes devem continuar chegando em busca de um lugar melhor para viver.

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No entanto, os especialistas alertam que a ocupação de alguns bairros já chegou no limite e que as áreas de expansão da cidade estão restritas, principalmente na parte insular.

— A cidade tem um centro urbano bem concentrado que capta vários trabalhadores de várias regiões, inclusive da área metropolitana. que leva muitos transtornos de trânsito, deslocamento a própria habitação — afirma o urbanista Carlos Alberto Barbosa Souza.

Ao mesmo tempo que a população cresceu, aumentam as ocupações de morros e outras áreas de risco. O dado mais recente sobre o déficit habitacional de Florianópolis é de 2011. Na época, já faltavam mais de 13 mil moradias e desde então a população cresceu 36%.

Para a prefeitura da Capital, o maior desafio é construir as moradias em locais apropriados. De acordo com o superintendente de Planejamento e Gestão Territorial, Kaliu Teixeira, já há trabalhos nesse sentido acontecendo no executivo municipal.

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— A gente está trabalhando já na revisão da legislação de uso ocupação do solo para que os instrumentos sejam criados agora com a revisão da lei sejam regulamentados. A gente vai ter que ter outra frente, além do plano diretor, que é a frente de fiscalização do município e atuar muito próximo do território. E, na condução da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano, fazer a gestão do cadastro de famílias controlando o déficit habitacional e as ofertas de moradia que a gente vai ter na cidade — analisa o superintendente.

Saneamento básico

Outro desafio dentro da questão das moradias é o saneamento básico. Trata-se de algo essencial para a saúde e qualidade de vida da população, mas também para o meio ambiente e as praias que tornam Florianópolis um destino único para os turistas.

— É preciso focar principalmente no investimento em saneamento. Saneamento não tem o nome de “básico” por acaso. Então, antes de mais nada, a gente vivenciou agora nesse verão um problema da balneabilidade. Todos os anos nós temos avisos, crises que seriam impressores de uma infecção, de problemas de circulação naturais inundações  — alega Paulo Antônio Locatelli, procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

Apesar de Florianópolis ter o maior índice de desenvolvimento humano (IDH) entre todas as capitais do Brasil, a cidade está em 16º lugar no ranking de esgotamento sanitário, segundo Roberto Kern Gomes, superintendente Estadual do IBGE em Santa Catarina.

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— Apenas pouco mais de 70% dos domicílios de Florianópolis têm acesso à rede de esgoto — reforça o superintendente do IBGE.

Para corrigir esse problema, a Casan tem planos de aumentar a cobertura do sistema de esgoto. A expectativa do presidente da companhia, Laudelino de Bastos, é que em 2027 cerca de 90% da capital esteja com a rede regularizada.

— Temos o planejamento para cobertura total, chegando quase em 90% de atendimento, com a construção de mais quatro estações de tratamento de esgoto na ilha. Uma que vai ser na altura do Rio Vermelho, outra no Pântano do Sul, outra na região de Jurerê, e a na região do Ratones — cita o presidente da Casan.

Pouca terra, muita gente

Diante de uma migração inevitável, o outro desafio é como ocupar melhor a Capital. Para o urbanista, o ideal seria diluir a cidade concentrada na região central por todo o território da ilha.

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— Por exemplo, no norte da ilha dar condições para a pessoa poder morar, trabalhar, viver sem se deslocar muito. No sul da ilha, no leste, no próprio continente. Isso ajudaria muito com que as pessoas tivessem uma habitação digna, né? — sugere Souza.

Para isso, o procurador de justiça acredita que é possível que a população mude o comportamento a longo prazo, refletindo sobre se desenvolver, mais do que apenas crescer.

— O desenvolvimento é que se impõe, e para isso tem que ter planejamento. Então todos os setores civis públicos, as pessoas em geral, precisam ter esse pensamento coletivo que muitas vezes não vigora. Eu acho que a diferença é que Florianópolis precisa cada vez mais se desenvolver, e não simplesmente crescer como muitos locais acontece — afirma Locateli.