O pedreiro Alisson dos Santos, 24 anos, mora desde o ano passado em uma das três casas que foram interditadas na manhã desta terça-feira em ação de reintegração de posse na zona Sul de Joinville.
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O processo foi movido pela Rumo, empresa que administra a linha férrea, pois existe um limite legal de distância para construir imóveis em terrenos próximos aos trilhos de trem. As casas ficam no bairro Paranaguamirim e parte de um bar foi demolido na mesma ação no bairro Itaum.
Alisson foi quem tomou a frente na conversa com o oficial de Justiça durante a tarde para solicitar maior prazo, permitindo que os moradores retirassem a parte das casas que ficam dentro do limite de dez metros não permitidos. Segundo ele, com mais tempo seria possível desmontar os fundos das residências e ampliá-las para frente ou para cima, dentro do limite legal.
— Eu tentei negociar para que ninguém fique na rua. A esperança é puxar a casa mais para frente e ficar por aqui porque não teríamos para onde ir — conta.
Ele mora com mais sete pessoas na residência – entre elas, duas crianças – depois de saírem do Paraná em busca de uma melhor condição de vida. O terreno foi vendido por uma conhecida da família, que não os alertou sobre a restrição dos dez metros.
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A dona de casa Clarice Aparecida Cabral, 49 anos, estava na residência no momento em que ela foi interditada. Segundo ela, foram avisados de que a construção estava interditada e seria demolida.
— Fiquei com medo de derrubarem tudo e as crianças não terem mais onde morar — descreve.
A dona de casa diz que apenas duas pessoas trabalham na casa e tentam sustentar a família. O dinheiro é usado para pagar a energia elétrica, a água, o gás de cozinha, o IPTU e a comida. Se perdessem a casa, não teriam para onde ir.
Para evitar ficar sem um lar, eles agora vão desmontar um quarto, uma sala e a lavanderia da residência para ficar apenas com um quarto, a cozinha e um banheiro enquanto não conseguem ampliar a estrutura.

Medo até para quem não recebeu notificação
Segundo os moradores da região, 18 famílias vivem no local atualmente. Aqueles que não foram notificados ontem ainda temem receber a visita dos oficiais de Justiça no futuro, já que também têm problemas com o recuo de dez metros. Uma delas é a dona de casa Cateline da Costa de Mira, 27 anos, que mora há mais de uma década na vizinhança.
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— Eu tenho medo porque tenho quatro filhos e não tenho como recuar a casa para mais de dez metros (ela bloquearia a rua). Não tenho para onde ir se me tirarem daqui.
Assim como outros moradores, Cateline alega que não foi informada sobre a regra de recuo quando comprou o terreno. No entanto, ela conta que a luta para se manter no local já existe há alguns anos. Por conta disso, os filhos de dez, oito e dois anos, além de um bebê de quatro meses, vivem assustados com a possibilidade de ficarem sem uma casa.
— Nós pagamos todos os impostos certinho e estamos aqui porque precisamos. Se tivesse como ir para outro lugar, não estaria aqui me incomodando com isso — justifica.