Moradores da ilha Gardi Sugdub, que abriga parte do povo indígena Guna, foram a primeira comunidade insular do Panamá solicitada pelo governo a se mudar para o continente. O pedido veio por conta do avanço do nível do mar, consequência do aquecimento das temperaturas globais e das mudanças climáticas. As informações são da CNN Brasil.

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Anos atrás, essa população indígena já habitou áreas de florestas e montanhas. Contudo, a invasão de conquistadores espanhóis e conflitos com outras tribos fizeram com que eles fugissem, e encontrassem nas ilhas do Caribe um refúgio.

O que parecia seguro, contudo, agora é ameaçado pelas mudanças climáticas. Ainda que a mudança não seja obrigatória, e que moradores mais antigos estejam optando por ficar nas ilhas, muitos estão recalculando a rota e buscando recomeçar a vida no continente, já que o avanço do mar ameaça a existência da ilha.

Na região, os moradores do arquipélago Guna Yala são considerado os primeiros refugiados climáticos. Outros fatores, como a superlotação das ilhas, também são considerados para a migração acelerada com o avanço do nível do mar.

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— O povo Guna e outras comunidades indígenas no Caribe serão afetados pelo aumento do nível do mar na região, então é claro que temos que estar preparados — disse Blas Lopez, um líder Guna em Gardi Sugdub, que fez parte do comitê de realocação, à CNN.

— Está na história oral do povo Guna, sempre falamos sobre o que acontece quando sopram os ventos fortes, as comunidades ficam inundadas. As consequências podem acontecer em 30 ou 50 anos. Então, temos que nos organizar, temos que planejar — acrescenta.

Moradores são forçados a abandonar ilha no Caribe por elevação do nível do mar
Ilha Gardi Sugdub fica no arquipélago Guna Yala, no Panamá (Foto: União Europeia, Copernicus Sentinel-2, Reprodução)

Ainda que o avanço das mudanças climáticas regrida, a elevação do nível do mar deve seguir até o final do século, preveem cientistas. Ilhas pequenas e baixas nos trópicos devem ser as mais afetadas, com impactos diretos na sua existência.

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— Dentro de 40 a 80 anos, dependendo da altura das ilhas e da taxa de aumento do nível do mar, a maioria, se não todas as ilhas habitadas, estarão literalmente submersas — alertou Steven Paton, diretor do programa de monitoramento físico do Smithsonian Institution no Panamá.

Superlotação

As mudanças climáticas têm evidenciado um problema que já era enfrentado pelo povo Guna: a superlotação. Casas construídas com pouco espaço resultaram em residências repletas de pessoas em condições que refletem em problemas para saúde, acesso à água e educação.

O aumento das temperaturas tem resultado em outros efeitos preocupantes, como as tempestades tropicais mais intensas e destrutivas, que têm impactado a sobrevivência dessas comunidades. Estratégias como o uso de corais e pedras para construir barreiras entre casas e a água são adotadas pelos indígenas, mas servem de forma paliativa.

No continente, o governo construiu uma cidade para abrigar a população. Com casas pré-fabricadas, idênticas umas às outras, e estradas de asfalto, o novo lar do povo Guna pouco lembra a tradicional ilha, composta de casas e cabanas.

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Líderes locais destacam a mudança apressada, já que o local ainda não conta com acesso à água, coleta de lixo ou luzes, nem centro de saúde. Além disso, pela cidade ter sido construída no interior, há a preocupação de o povo perder traços da cultura, ligado à pesca e ao mar.

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