Na manhã desta segunda-feira, máquinas começaram a chegar à Praça Tiradentes, no bairro Floresta, na Zona Sul de Joinville. Os equipamentos abriram buracos no entorno do local para colocação da tubulação e, assim, preparar o espaço para receber a Estação Elevatória de Esgoto (EEE). A implantação total deve demorar ainda seis meses para acontecer. Para moradores e frequentadores do lugar, a instalação é motivo de preocupação.

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— Nós não somos contra a instalação, mas acreditamos que poderia ser feita em outro local. Não queremos que o cheiro de esgoto chegue às nossas casas e nem afaste quem vem aproveitar a Praça — explica a moradora Telma Coelho, que há 30 anos reside em frente ao espaço público.

Segundo o representante da Associação de Moradores São Francisco de Assis (Amosfa), Eraldo José Hostin Júnior, os moradores sabem da importância do tratamento correto do esgoto para a região, mas ele acredita que deveria ter sido consultada a comunidade antes de iniciar a obra na praça, já que é um espaço público. Eles ficaram sabendo da implantação da estação na Praça Tiradentes em outubro do ano passado, quando os trabalhos iniciaram.

Ele conta que nenhum morador foi consultado pela Companhia Águas de Joinville sobre a instalação, a empresa não apresentou estudo de impacto de vizinhança para a população e também não houve realização de audiência pública. O principal receio da comunidade é que, com a implantação da estação, os frequentadores deixem de ir até a praça e o lugar se torne um espaço abandonado.

— As obras públicas devem vir de encontro ao que é melhor para o povo, não se pode melhorar um local público e prejudicar a comunidade que está inserida naquele espaço — defende Eraldo Júnior.

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A advogada Andressa de Almeida Premoli defende que o estudo de impacto à vizinhança deveria ter sido apresentado aos moradores. Com o documento, a população ficaria ciente sobre quais as medidas serão implantadas na estação para minimizar o odor no local.

Ela também conta que, depois que assumiu o caso há alguns meses, fez uma espécie de vistoria junto com um engenheiro ambiental voluntário a outras quatro estações elevatórias da região. Na unidade que fica na rua Copacabana, por exemplo, os moradores reclamaram do mau cheiro e que não conseguem deixar as janelas de casa aberta, principalmente nos horários de pico.

— Este é um projeto maior que contempla obras não somente aqui, dentro da estação tratamento de esgoto precisa ter um estudo de impacto. Com relação a essas estações elevatórias não tem este estudo dentro do projeto e também não fala nada sobre medidas especificas que serão tomadas para impedir esse cheiro — afirma.

A advogada e o engenheiro elaboraram um questionário para que os moradores vizinhos dos locais visitados possam responder e colaborar com informações e, desta forma, questionar o Poder Público mais detalhes da obra. A advogada ainda afirma que o levantamento também deve ser encaminhado ao Ministério Público (MP) ou, caso seja necessário, fundamentar uma ação popular para tentar suspender a obra.

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A obra na Praça Tiradentes faz parte de um projeto maior para implantar o tratamento de esgoto em todo o bairro Floresta. Segundo a Companhia Águas de Joinville, o local foi escolhido para receber a estação por causa do relevo e por ser mais viável técnica e financeiramente.

A estrutura a ser implantada no local não é uma estação de tratamento. É um ponto de acúmulo e bombeamento, que irá levar o esgoto para a estação elevatória da rua Florianópolis e, posteriormente, para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro Jarivatuba, na Zona Sul da cidade.

A companhia já possui o licenciamento ambiental para realizar a obra de tratamento no bairro e os órgãos competentes deliberaram que não houve a necessidade do estudo de impacto de vizinhança. A Águas de Joinville adiantou uma etapa do projeto em razão da contrapartida financeira proposta por uma empreiteira que está construindo um prédio na região e pretendia fazer a coleta do esgoto do empreendimento imobiliário.

De acordo com o gerente de obras da companhia, Thiago Amorim, todas as possibilidades para implantação da estação foram analisadas pela companhia. Entretanto, a alternativa mais viável foi manter a unidade na posição prevista inicialmente, no ponto mais baixo da região.

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— Essa elevatória é mais moderna e tem todos os cuidados para que não exale odores. Ela é hermeticamente fechada, tem dispositivo de filtros de carvão para que não exale nenhum cheiro da unidade — explica o gerente.

Ainda de acordo com Amorim, somente a área onde ficará a estação passará por obras. Outros locais da praça não sofrerão intervenções, já que a rede coletora que vai chegar até a estação passará pelo meio da rua. Em abril deste ano, os moradores chegaram a organizar um abraço coletivo ao redor da praça, que contou com cerca de 50 pessoas, dentre vizinhos, membros de associações de moradores e conselho de segurança do bairro.

Cheias também preocupam

A comunidade também teme que a estação prejudique outro problema antigo na região: os alagamentos. A moradora Telma, citada no início desta reportagem, elaborou uma espécie de dossiê sobre as cheias nos arredores da Praça Tiradentes – o livro reúne fotografias de três décadas em que os moradores precisaram enfrentar a força da água.

— Imagina quando tiver essa estação aqui? Vai juntar a enchente com o mau cheiro? Acho que eles não pensam em como a população vai sofrer com essa estação aqui — lamenta.

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A estimativa é que a estação irá atender, inicialmente, cerca de 8 mil pessoas. Após conversas com os moradores, de acordo com Amorim, os técnicos chegaram a verificar outros locais possíveis para receber a unidade. Entretanto, eles concluíram que o local mais adequado era no meio da praça. Além disso, atualmente o esgoto é despejado diretamente nos rios da região, sem passar por tratamento. Com a estação, segundo a companhia, acredita-se que o mau cheiro irá diminuir.

— Hoje não existe a estação, mas perto do rio já tem cheiro. A ideia é minimizar o odor, a elevatória e essa rede de esgoto ainda não irá resolver totalmente esse problema do rio, mas a ideia é que ao longo do tempo isso acontece — completa o gerente da companhia.