Na casa de Rita de Cássia Silva, no bairro Vila Nova, seis pessoas passaram a madrugada desta terça-feira em claro. Após a chuva de granizo que afetou cerca de 100 mil pessoas na tarde de segunda-feira em Lages, a família conseguiu alguns metros de lona com a Defesa Civil para jogar em cima do telhado, mas não foi o suficiente. Quando a chuva voltou a atingir a cidade, a lona já estava bastante rasgada e a água voltou a escorrer com tudo pelas paredes.
Continua depois da publicidade
– Já tinha passado por uma enchente no meio do ano, quando a água subiu mais de um metro para dentro da minha casa, mas enchente não foi nada perto disso. Quando a água sobe, a gente vai acompanhando, se virando; com o granizo, foi tudo de repente. Quando vimos, estava tudo estragado – relata.
Leia mais:
::: Com 100 mil pessoas afetadas por granizo, Lages decreta calamidade pública
Como Rita, grande parte dos moradores dos bairros Vila Nova, Habitação, Universitário e Várzea tirou a terça-feira para calcular os prejuízos. Nestes bairros, o movimento é grande: gente tirando colchões de casa, trocando telhas, estendendo lonas, tentando secar algum móvel que ficou encharcado durante a noite – com resultados pouco efetivos, já que o sol não deu as caras durante a manhã desta terça.
Continua depois da publicidade
– Viramos um colchão molhado e dormimos nele mesmo, porque não tinha mais nada seco em casa – lamenta Maércio Ademir Elias, de 45 anos, que mora com a família no Vila Nova.
Maércio Ademir Elias em frente à sua casa Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS
Como a chuva ainda perdurou durante horas após a queda do granizo, quem não conseguiu cobrir o telhado rapidamente foi mais prejudicado. Na casa de Igor Huller, de 75 anos, não sobrou praticamente nada. Depois de enfrentar a enchente de junho e um infarto em setembro, Seu Igor apontava para as paredes, completamente encharcadas, com um olhar frustrado.
– A gente passa tanta coisa durante a vida e precisa enfrentar uma coisa dessas a essa altura, é muito triste, sabe? Tive que dormir na casa de parentes de tanta água que entrou na minha. Nunca tinha visto nada assim, nem em Lages ou em nenhum outro lugar – diz.
O telhado de Igor Huller foi danificado pelo granizo Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS
Mesmo quem não foi diretamente atingido pelo granizo já registra diversos prejuízos. Funcionários de todos os tipos de estabelecimentos não foram trabalhar nesta terça-feira e passaram a manhã tentando limpar e secar as casas para recuperar o mínimo de conforto. Padarias, supermercados e comércios variados na cidade inteira abriram as portas com precariedade.
Continua depois da publicidade
Simone da Cruz Nunes mora em uma casa sem forro e, por isso, o granizo atravessou direto do telhado até o piso do segundo andar. Com a chuva grossa, a água em seguida escorreu para o térreo, danificando eletrodomésticos, móveis, colchões e a própria estrutura de madeira do imóvel.
– Ainda nem consigo ter ideia do que estragou porque desligamos a energia elétrica assim que começou a escorrer água pela parede. Mas já dá para ter uma ideia, está tudo molhado: uma televisão, cama, guarda-roupa, microondas.
Os móveis estão todos embrulhados por lonas, que Simone conseguiu com um conhecido. As paredes de madeira, escuras de tão encharcadas. Com o tempo fechado desde a madrugada em Lages, Simone teme que a chuva volte a cair em breve.
Simone da Cruz Nunes embrulhou os móveis com lonas Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS
Lona é vendida a preço inflacionado
Claudinei Branco Ribeiro, de 39 anos, estava fora de casa no momento em que caiu a chuva de granizo. Assim que possível, dirigiu-se a uma grande loja de materiais de construção na região e tentou comprar 60 metros de lona. Consultou o vendedor e descobriu o preço, R$ 0,70 por metro. Na hora de pagar, entranto, levou um susto: o preço havia subido para R$ 2,70.
Continua depois da publicidade
– Não quis pagar, é um abuso, tem gente que se beneficia da desgraça dos outros – reclama Ribeiro.
O preço médio da lona varia entre R$ 0,40 e R$ 1,50 o metro. Há informações de comércios vendendo a mesma quantia por até R$ 18 entre esta segunda e terça-feira.
– O problema é que se trata uma situação caótica. Eu não paguei os R$ 2,70, mas cinco minutos depois, alguém veio e comprou. Tanto que eu rodei a cidade inteira atrás de lona e não consegui mais.
O Procon recomanda que os clientes lesados guardem as notas fiscais e levem ao órgão para denunciar possíveis abusos. Comércios que estiverem inflacionando o material de maneira desproporcional poderão ser notificados, multados e até fechados.
Continua depois da publicidade