Além do desastre natural, a maldade. Moradores de Presidente Getúlio, a cidade do Alto Vale do Itajaí mais castigada pelo temporal que matou 21 pessoas na região e deixou centenas de desabrigados, tiveram de lidar com o medo de perder o pouco que restava para criminosos. Relatos de furtos se misturaram aos outros chamados atendidos pela Polícia Militar do município nos primeiros dias após a tragédia.

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Edival Schluter, que mora na Rua Getúlio Vargas, no bairro Revólver, conseguiu escapar ileso da enxurrada. A casa dele, apesar de ficar na via mais destruída pela avalanche de barro, permaneceu intacta. Mesmo assim, com o risco de novos deslizamentos, teve de dormir na residência de parentes nos primeiros dois dias depois do ocorrido.

No terceiro, como a previsão de novas chuvas fortes não se confirmou, decidiu voltar. À noite, ouvia o movimento de pessoas a pé nas estradas ainda escuras pela falta de energia.

— Deu medo. Eu acendia a luz para mostrar que tinha gente em casa e acho que isso afugentava eles. Depois disso não deixei mais a minha casa por medo de levarem algo daqui também — conta Edival.

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O vizinho, Loan Wiese, afirma que depois de uma dessas noites o portão eletrônico de uma casa atingida pela enxurrada foi arrebentado para que os ladrões levassem o motor. Com as residências vazias, criminosos aproveitaram para caminhar pelas ruas, incluindo à luz do dia, afirma o sargento da PM Osiel Spíndola.

— Nós recebemos mais de 50 chamados de pessoas que viram suspeitos rondando casas e comércio — contabiliza o policial.

Em um deles a suspeita se confirmou. Um homem passou pela barreira na entrada da cidade dizendo que ajudaria na logística das doações com a caminhonete e, quando os agentes perceberam, ele estava furtando as cercas de alumínio que tombaram com a força da água. Ele foi preso em flagrante no sábado (19) e levado a Rio do Sul.

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Apesar desses contratempos e dos curiosos, que também deram trabalho às autoridades, todos os moradores e a própria PM garantem que casos assim foram exceção. No geral, quem transitava pelas vias e chegava à cidade queria apenas levar ou oferecer ajuda, o que tem feito diferença na reconstrução do município.

Tragédia em Presidente Getúlio

A chuva forte e deslizamentos causaram uma avalanche de barro em Presidente Getúlio, que destruiu ruas, carregou casas inteiras e alagou centenas de imóveis, principalmente no bairro Revólver, o mais afetado, o Centro e Rio Ferro. Até a tarde desta terça-feira (22), 627 famílias estavam em lares de parentes. Ao menos 3.300 moradores foram prejudicados pelo fenômeno.

O temporal também causou estragos em outras cidades do Alto Vale, como Ibirama e Rio do Sul. Juntas, as três cidades somam 21 mortos. 

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