Em meio aos escombros do incêndio que destruiu seis casas em uma área de invasão no bairro Imaruí, em Itajaí, moradores encontram forças para recomeçar. Vinte dias depois da tragédia, quatro das seis residências já estão sendo reerguidas. Com ajuda da comunidade e até mesmo de desconhecidos, as famílias agora trabalham para retomar a vida.
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Em pouco tempo os moradores receberam doações de madeiras, telhas, portas, janelas, roupas, produtos de higiene e outros materiais. Nenhum deles ficou desabrigado: amigos, vizinhos ou parentes ofereceram um local para que todos fossem acomodados. O projeto Toque Vidas, mantido pela igreja Mevam há cinco anos no bairro, também se mobilizou para conseguir recursos para reconstrução. A iniciativa contou ainda com apoio de uma empresa de Itajaí que disponibilizou um caminhão para o recolhimento das doações.
A reconstrução das casas é uma solução paliativa para as seis famílias. As obras foram autorizadas pela prefeitura até que os moradores sejam transferidas para uma nova moradia. Um empreendimento com 496 unidades está sendo erguido pelo município, através do Programa Minha Casa Minha Vida, no bairro Espinheiros. A previsão é de que as chaves sejam entregues em janeiro de 2016. Depois da mudança, os imóveis serão demolidos para evitar novas invasões.
Até mesmo quem não conseguiu reconstruir a casa continua lutando por uma solução. Como a auxiliar de limpeza, Luciana Palmeira, 33 anos. Apenas ela e outra moradora do local não começaram as obras. Apesar das dificuldades, Luciana garante que a família está superando aos poucos a situação. Um vizinho disponibilizou uma peça para que ela durma com os cinco filhos e um neto. O salário do mês também será investido na compra de madeira para a nova casa.
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– Eu fiquei só com meu uniforme depois do incêndio. Mas já ganhamos roupas e estamos conseguindo nos virar – conta.
O incêndio ocorreu no dia 19 de junho. Foi o ex-companheiro de Luciana, João Maria dos Santos, 38 anos, que ateou fogo na casa depois que a mulher o denunciou por episódios de violência na família, segundo a polícia. No dia seguinte, o homem foi linchado por pelo menos seis moradores indignados com a situação. O delegado da Divisão de Investigações Criminais (DIC), Weydson da Silva, diz que a polícia já identificou suspeitos do crime, porém, não conseguiu testemunhas que formalizassem o depoimento para indiciar os autores.
A gratidão de Mayckon
Mayckon Gonçalves Pereira, 26 anos, não reclama da tragédia. Apesar de não ter conseguido salvar nada, ele agradece a Deus porque a mulher e os dois filhos, de dois e três anos, conseguiram sair do imóvel a tempo. Também explica que a família ganhou muitas doações para poder recomeçar:
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– Meu irmão não descansou um dia sequer, nos ajudou muito. Até quando resolvia dormir, tinha gente que ligava para doar alguma coisa.
Na segunda-feira o ajudante de carga e descarga ainda trabalhava na reconstrução da casa. Mayckon quer deixá-la pronta até o fim da semana, por isso tirou a semana de folga. Desta vez o imóvel será menor, mas, segundo ele, o importante é ter um lugar para se abrigar.
O bom humor de Yago
Nem a fina chuva que caía segunda-feira atrapalhou o trabalho do Yago José da Silva, 27 anos. Vítima do incêndio, ele já conseguiu reerguer grande parte da casa. A madeira para a construção foi doada por uma empresa imobiliária e a estrutura está sendo montada pelo próprio pescador.
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– A outra casa era torta, dava um vento e já balançava. Agora essa vai ficar bem melhor, estou fazendo bem firme – diz ele, fazendo graça da própria tragédia.
Yago chegou a ter a bateira roubada no meio da confusão do incêndio, mas não se abala. Com bom humor, diz que vai reconstruir a casa do mesmo jeito que conseguiu fazer a primeira. De acordo com ele, o importante é que a família está bem.
A união de Helen e Gilson
O casal Helen Maiara de Melo Pereira de Lima e Gilson Palmeira de Lima, ambos de 20 anos, conseguiu reconstruir a casa de madeira queimada no incêndio em menos de 20 dias. No fim de semana os dois pretendem se mudar – assim que concluírem o encanamento e as ligações elétricas.
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Com um filho de três meses, o casal diz que enfrentar a situação foi complicado. Porém, explica que a ajuda de amigos e da comunidade foi fundamental para recomeçar:
– O incêndio queimou tudo que tínhamos muito rápido, não conseguimos salvar nada. Recebemos doações para construir a casa e agora precisamos de roupinhas para o bebê, de utensílios e móveis.
O nervosismo de Ivanir
Toda vez que entra na casa de madeira reconstruída após o fogo, Ivanir de Oliveira dos Santos, 78 anos, fica nervosa. Ainda não consegue esquecer do incêndio que queimou tudo o que conquistou durante a vida. Há 20 anos vivendo no bairro, a idosa diz que recomeçar é sempre difícil, principalmente na sua idade.
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– Fico feliz que pelo menos não aconteceu nada com as pessoas – diz.
Sem parte dos móveis de que precisa para se mudar, Ivanir está morando na casa da filha. Foram os filhos também que a ajudaram a reconstruir o pequeno imóvel. Ganhou doações de roupas, mas ainda precisa de utensílios para cozinha e de uma cama, por exemplo.