A dona de casa Maria Sebastiana dos Santos Correia, conhecida como dona Didi, mora há 30 anos em no Loteamento Santa Terezinha, popularmente conhecido como Vila da Polícia. Nos carnês de IPTU dela, ainda aparece como moradora do Bairro Carvalho. Mas as placas instaladas na esquina da casa dela mostram que ela mora na Ressacada.

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Só que um pouco mais à frente, ainda restam placas mostrando que a região pertence ao Bairro Carvalho. Achou confuso? Para os moradores, que convivem com a situação há alguns anos, é ainda pior.

– Sempre foi Carvalho, não tem porque mudar para Ressacada – reclama dona Didi.

A reclamação é antiga e vem, pelo menos, desde 2004, quando as placas começaram a ser trocadas. Depois de tanto tentar fazer a prefeitura voltar atrás, a Associação de Moradores do Bairro Carvalho deve entrar com um pedido no Ministério Público para que as placas já instaladas sejam trocadas e que a área seja chamada pelo nome pedido pela comunidade.

– Nossa ideia é entrar nesta semana. Temos um abaixo-assinado com quase 300 nomes e um farto material sobre a história do bairro. É a única maneira que vimos para sermos ouvidos – disse o presidente da Associação, Antônio Carlos Clarindo.

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O principal questionamento é que os moradores não foram ouvidos sobre a mudança de nome. Clarindo admite que alguns apoiam a mudança, alegando valorização no imóvel. Mas o presidente acredita que a maioria é contra a mudança.

– Antes de eu ser morador de Itajaí, eu moro no Bairro Carvalho, então sou carvalhense. Já pensou se mudassem o nome do nosso país ou da nossa cidade sem consultar a população? Haveria uma revolução – compara Clarindo.

O presidente lembrou que, na época da mudança das placas, a associação estava desmobilizada, por isso só agora a comunidade está tentando reverter a situação. Ele apresentou vários ofícios protocolados na prefeitura, o último deles de dezembro do ano passado, ainda cobrando uma resposta do documento enviado dois meses antes.

Sem lei que delimite e dê nome às regiões A questão do Bairro Carvalho esbarra numa situação técnica. Em Itajaí, não existe uma lei que delimite e nomeie oficialmente os bairros da cidade. A tradição, na maioria dos casos, é o que pesa.

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O Carvalho, segundo o próprio presidente, tem pelo menos cinco núcleos distintos – o Loteamento Santa Terezinha (também conhecido como Vila da Polícia), o beco (perto da Câmara de Vereadores), o da Rua Paulo Hoier (nos fundos do Itamirim Clube de Campo), o da Rua Herna Hoier Corrêa (às margens da BR-101) e o caixa d’água (no Morro Arapongas).

– Nós questionamos a prefeitura para ver qual foi a lei que mudou a denominação do bairro, mas eles admitiram que não existe lei que delimite os bairros – comentou Clarindo. A informação foi confirmada pelo secretário de Urbanismo, Paulo Praun (veja o contraponto da prefeitura).

O próprio IBGE considera a área como Bairro Ressacada, segundo a chefe do escritório em Itajaí, Regina Coutinho Lé. Mas o professor e geógrafo do Museu Etno-Arqueológico de Itajaí, Flávio André da Silva, que está produzindo um livro sobre os bairros de Itajaí, acredita sim na existência do Bairro Carvalho.

– Antigamente, era essa a denominação do bairro, tanto que os moradores mais antigos podem confirmar isso. E essa questão histórica pode pesar quando for decidido criar a lei que delimita os bairros – diz Flávio.

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A denominação de Bairro Carvalho é do início do século 20, já que, em 1923, o então futuro prefeito de Itajaí, Alberto Pedro Werner, construiu uma nova casa e, na antiga, criou o Clube Carvalhense. A denominação vem de um arbusto que era comum na região.

Contraponto

O secretário de Urbanismo de Itajaí, Paulo Praun, confirma que recebeu uma solicitação da Associação dos Moradores e que o caso será estudado pelo Conselho de Gestão Territorial da cidade, presidido por ele.

– Vai entrar na pauta, mas ainda não sabemos quando – disse.

Praun diz que a associação está no direito dela de buscar o Ministério Público, mas afirma que nunca existiu uma definição oficial dos bairros em Itajaí, por isso que a Prefeitura achou melhor denominar a região como Ressacada.

Ele lembrou a situação de outras localidades que também não são reconhecidas como bairros, como o Costa Cavalcanti (localidade de Cordeiros) e o Promorar (que fica no Cidade Nova). O secretário admite que é preciso fazer uma lei que delimite os bairros, mas que isso não é algo para agora.

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– Tem que se estudar bem os aspectos técnicos para ver o que pode ser feito.