Prometido durante a campanha de TV do então candidato Gean Loureiro (PMDB) para ficar pronto no seu primeiro ano de mandato, o elevado do Rio Tavares teve a conclusão adiada. Novamente. O prazo atual, que era julho, agora é “até o final do ano”. A prefeitura de Florianópolis evita falar em datas e justifica o atraso por conta de uma nova análise arqueológica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A entidade nega que esse estudo seja o problema. No sul da Ilha, moradores não levam fé que o viaduto fique pronto antes do começo da temporada.
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— Chega quatro horas da tarde, é um buzinaço só. Ninguém respeita mais ninguém. Está todo mundo de saco cheio! Não tem mais dia nem hora. Sábado de manhã nunca teve fila. Agora dá 8h, já tem uma fila enorme. Eu só acredito vendo (a conclusão das obras)! — desabafou a dona Ana Neri Ponciano, proprietária de um comércio de utilidades junto ao elevado e que perdeu 3 metros da frente da loja por causa do elevado.
Conforme o diretor de obras da prefeitura, Tiago Schmitt, há outro sítio arqueológico com sambaqui em um dos novos terrenos que foi desapropriado recentemente para a continuação do empreendimento. Os sambaquis eram uma espécie de santuário para comunidades indígenas e pré-históricas, onde eles depositavam restos mortais, esculturas e conchas.
— Essa parte aqui foi catalogada, então antes de poder escavar, tem que ter o estudo arqueológico. A gente vai ter que abrir uma via nesse terreno, e a gente não pode fazer antes do arqueólogo escavar. Se ele acha um esqueleto ali tem que tirar esse esqueleto e mandar para o Iphan. A gente depende do Iphan para continuar a obra.
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Apesar deste impasse, as obras continuam. Nesta quinta-feira (15), operários faziam demolições para o alargamento das pistas, e funcionários da empresa Oi retiravam a fiação telefônica do local. Durante os trabalhos, a reportagem presenciou dois motociclistas irritados, que xingaram os profissionais pelo atraso das obras.
A prefeitura também trabalha em outra frente: ainda restam 11 desapropriações, sendo duas delas judicializadas. Dentro de uma semana, as indenizações devem pingar na conta das outras nove famílias . Depois, elas tem 60 dias para sair.
A dona Salete Souza é uma delas. A manezinha mora há mais de 40 anos em uma casa simples de alvenaria bem no trevo. Ela acha que o valor das indenizações não foi justo.
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— Foi um rolo danado, desde o tempo do César Souza. E ainda pagaram uma miséria para a gente. Estou batalhando, mas não achei nada até agora. Não que a casa valha mais, mas se você for comprar uma casa parecida com essa não compra. A gente ainda está pesquisando. A localização aqui é muito boa. A minha netinha estuda aqui bem pertinho — lamenta.
Iphan: “Na pior das hipóteses, nosso prazo é final julho”
A chefe da divisão técnica do Iphan Santa Catarina, Regina Helena Santiago, defendeu que este estudo é uma exigência legal para qualquer tipo de empreendimento. Ela ainda contrapôs a prefeitura e disse que o prazo que o arqueólogo tem para entregar o estudo é 16 de julho.
— Ele tem até lá para entregar o relatório dessa pesquisa. Ele nos entregando, a gente analisa em até 15 dias e, estando tudo certo com o relatório, a gente libera. Essa seria a única pendência que existe, encerrando no final de julho.
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Regina também falou da importância da pesquisa arqueológica e argumentou que este estudo não tem potencial de atrasar as obras.
— Existe ali um dos mais importantes sítios arqueológicos de Florianópolis de populações anteriores à colonização, de onde a gente tira informações sobre essas comunidades. A gente entende a importância das obras, mas a gente não pode deixar uma coisa importante em função de outra.
O elevado do Rio Tavares promete amenizar um dos principais gargalo da Ilha de Santa Catarina. A construção iniciada em abril de 2015 tinha previsão de custar R$ 7 milhões, atualmente está em R$ 16 milhões. O canteiro central, onde será erguido a principal estrutura, foi liberado em fevereiro pelo Iphan, após quatro meses de estudo arqueológico.
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