A pescadora Valcenir da Conceição, 57 anos, que mora há 20 anos nas imediações do canal do Linguado, em São Francisco do Sul, já cansou de assistir a graves acidentes em frente à sua casa.
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– Já vi carro saindo da pista e parando na varanda da minha casa. Foi um horror. Até um caminhão já caiu aqui – diz Valcenir, que se recupera de um acidente vascular cerebral (AVC) há mais de um ano.
O vizinho dela, o comerciante Alvim da Silva, 67, também já viu muitas tragédias na rodovia. Para ele, a duplicação poderia amenizar o número de mortes e dar mais segurança aos que vivem à margem da estrada. Alvim mora há 18 anos no local e diz que aceita receber uma indenização para permitir a obra de duplicação da rodovia.
– Eu sou a favor do progresso. Se é para o bem da população, saio daqui numa boa. Já perdi muitos amigos em acidentes nessa estrada – afirma.
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No trecho urbano de Araquari, que compreende os km 20 e 29, são comuns pedestres e ciclistas andando pelo acostamento. A ausência de ciclovias e passarelas coloca em risco os moradores que, muitas vezes, precisam atravessar a rodovia. Embora o trecho tenha três lombadas eletrônicas e uma rotatória, o perigo é constante.
O pedreiro Volnei Alencastro, 62, redobra os cuidados toda vez que precisa fazer a travessia.
– Tem que procurar um local onde os veículos passam mais devagar, como nas lombadas. E olhar bem para os dois lados da pista. A duplicação seria muito bem-vinda, mas acho que vamos eleger mais três ou quatro presidentes antes de ela ocorrer – aposta Volvei.
Anúncio da duplicação completa oito anos
No dia 5 de maio de 2008, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, participou do Painel RBS, em Joinville, e prometeu que a duplicação da BR-280, entre os municípios de São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul, seria concluída no terceiro trimestre de 2010. O tempo passou e, oito anos depois, apenas cerca de 15% das obras programadas em dois dos três lotes da duplicação da rodovia estão em andamento.
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Nesse ritmo, dificilmente a obra será concluída nesta década. O trecho mais problemático é o do lote 1, entre São Francisco do Sul e Araquari. Com extensão de 36 quilômetros, ali os trabalhos sequer começaram. Um atraso justificado por burocracia para a liberação de ordens de serviço, licenças ambientais e verbas.
Para amenizar a situação, o DNIT liberou R$ 13,8 milhões para obras de manutenção, conservação e recuperação da rodovia entre o km 0 e o km 84,2. Os trabalhos entre São Francisco do Sul e Araquari já foram realizados e a melhoria nas condições da pista é perceptível.
Ainda assim, o número de acidentes é alto. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), apenas nos últimos 12 meses, foram registrados 549 acidentes no trecho que será duplicado, com 18 mortos, 140 feridos graves e 355 feridos leves.
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