Para lavar roupas, só se for depois da meia-noite e antes de o Sol nascer. Esse é o tempo em que a água da rua chega até as torneiras da casa de Juliana Vasco, moradora do Parque Guarani, zona Sul de Joinville. Nos demais horários, ela, o marido e os três filhos enfrentam a mesma situação quase todos os dias: a falta de água. O problema se repete também em outros bairros, como o Aventureiro, onde a distribuição fica prejudicada de uma a duas horas, quase que diariamente, segundo o aposentado Alzemiro Antunes de Lima, 64 anos. A última interrupção ocorreu no final de semana, quando o abastecimento ficou comprometido temporariamente em pelo menos nove bairros.
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No sábado, a Companhia Águas de Joinville realizou um conserto na rede do Bucarein e precisou desligar temporariamente a estação de tratamento de água (ETA) do Cubatão. Foi a terceira vez no ano que estação, responsável por 70% da demanda de água tratada na cidade, parou as atividades para a realização de melhorias e reparos. A falta d¿água foi registrada em parte das regiões Sul, Norte e Leste. Algumas residências voltaram a ter acesso a água no Domingo de Páscoa, com a distribuição da rede totalmente restabelecida. Também foi efetuada uma manutenção na rua Areia Branca, no Aventureiro, comprometendo parcialmente a distribuição nas proximidades.
O coordenador de distribuição da Companhia Águas de Joinville, Jean Tragibo, diz que reparos e ações de melhorias da rede, como os realizados no final de semana, ocorrem durante todo o ano nos bairros da cidade.
– A companhia herdou redes antigas e essas redes tendem a dar mais problemas e precisam de manutenções frequentes. Esse é um trabalho constante e necessário, principalmente no verão, quando o consumo de água é mais elevado. Com a chegada do frio, esse consumo reduz e há queda no número de residências com falta de água temporária – explica.
As intermitências no abastecimento acabam sendo mais frequentes em regiões altas de bairros que ficam distantes das estações de tratamento. Isso ocorre porque esses locais estão nas pontas do acesso à rede de distribuição, que possui atualmente 149.905 ligações diretas de água.
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Três dias sem água
Na parte alta da rua Olga Trusz Sboinski, onde Juliana reside com a família, a água, quando chega, não é suficiente para encher a caixa-d¿água instalada na residência. Eles são abastecidos com a ajuda de um dos 64 sistemas de motobombas instalados para aumentar a pressão no envio de água para locais mais altos. Mas, segundo eles, mesmo com a ajuda do booster, às vezes, a água não tem força para chegar até as torneiras.
– No final de semana da Páscoa foram três dias sem água. Também havia faltado no Natal e no Ano-novo. É recorrente e, em uma das vezes, no ano passado, chegamos a ficar mais de 20 dias sem abastecimento e tivemos que usar água da chuva para poder tomar banho. Hoje, aproveitamos para encher a caixa de madrugada para poder usar a água armazenada durante o dia, quando vem – conta a joinvilense Juliana Vasco, de 31 anos.
O mesmo ocorria na residência da camareira Maura Lourenço, de 58 anos. Ela mora na mesma rua e há cerca de um ano instalou uma caixa-d¿água de dois mil litros para suprir os problemas de abastecimento. Anteriormente, ela já contava com uma caixa de 1,5 mil litros em casa, mas nas épocas de maior falta d¿água o reservatório não era suficiente para atender às necessidades de consumo de quatro pessoas.
Instalações antigas
A Águas de Joinville prevê a instalação de mais oito boosters hidráulicos nos próximos anos para melhorar a distribuição em localidades mais altas e com baixa pressão.
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O baixo volume de água e as constantes interrupções incomodam também moradores da rua Oscar Fischer, no Aventureiro. Alzemiro Antunes de Lima, que mora no local há 37 anos, diz que as instalações de distribuição de água no bairro são antigas, e o encanamento, mais fino, não dá conta de atender à demanda atual.
– Nos últimos anos, a corrente está bastante fraca, comprometida. Pago, em média, R$ 64 por uma água que não vem. E tem que pagar mesmo faltando. Dois chuveiros já queimaram por causa da baixa pressão e fica difícil até para fazer atividades domésticas, como lavar o carro e a louça – fala.
O aposentado Eloi Valmor Ferreira Vieira, de 63 anos, morador da rua, também já teve prejuízos com as constantes interrupções no abastecimento.
– Tem hora que a água vem normal, depois ela para, volta de novo. Geralmente, fica de uma a duas horas à tarde sem água, depois volta. A máquina de lavar roupas estragou, no ano passado, devido à vazão inconstante de água – acredita.
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Zona Sul é a região mais deficitária
De acordo com a Companhia Águas de Joinville, nos casos dos reparos pontuais na rede, é natural e necessário que haja interrupção temporária em alguns locais, a maioria deles com reabastecimento em até 24 horas. Ainda conforme a Águas, ações permanentes estão sendo realizadas para melhorar o sistema de distribuição de água na cidade – atualmente, a cobertura de água tratada chega a quase 100% das residências em Joinville.
Dois dos investimentos já estão em andamento: está prevista a conclusão de obras de melhorias nas redes de distribuição da Estrada dos Franceses, orçada em R$ 2.080.054,07, e da Estrada da Ilha, de R$ 5.291.127,47. O prazo de conclusão previsto das obras é junho de 2017 e janeiro de 2018, respectivamente.
Entre as metas do plano diretor da Águas de Joinville também está a modernização da ETA Piraí, responsável por 30% da distribuição atual de água. A estação parou as atividades temporariamente uma vez no ano devido a uma queda de energia. A ETA Piraí atende à região Oeste e parte da região Sul e produz 500 litros de água por segundo.
A Zona Sul deverá receber melhorias na rede de abastecimento até 2022, quando deve ficar pronta a ETA Piraí Sul. Ela será a terceira estação de tratamento instalada na cidade, em um terreno na rua Florianópolis, em frente ao Supermercado Condor. A obra deverá custar aproximadamente R$ 72 milhões e terá capacidade de produzir até mil litros por segundo.
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– O investimento tem como objetivo normalizar o abastecimento de água na região Sul, maior deficitária atualmente. Essa foi uma das regiões que mais cresceram na cidade e é o ponto mais longe de distribuição da ETA Cubatão – aponta Jean.