Em Camaragibe, cidade localizada entre Recife e São Lourenço da Mata, onde se encontra a Arena Pernambuco, o governo estadual ainda tem desapropriações pendentes para obras do Mundial. Um processo complexo, que dificulta a conclusão de obras e aflige famílias que passaram a vida na cidade.
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É o caso de João Carneiro. Aos 61 anos, Seu João reside desde 1945 num terreno privilegiado em Camaragibe, localizado na Avenida Belmino Correia, principal da cidade, junto ao mercado municipal. Ali, ergueu casa e quatro pequenos estabelecimentos comerciais de onde tira seu sustento: R$ 4,2 mil mensais em aluguel. Em 2010, Seu João diz que chegou a receber de uma rede de supermercados oferta de mais de R$ 1 milhão pela área. Recusou.
– Sou matuto, num sabia nem falar o valor – diz.
Agora, o governo pernambucano lhe oferece cinco vezes menos: R$ 199 mil (R$ 131 mil pelo terreno mais R$ 67 mil pelas benfeitorias). Embora não queira sair de onde cresceu, tudo indica que irá. A esposa de Seu João faleceu há um mês. Segundo ele, depois que ela soube do valor que seria pago pela propriedade, entrou em depressão profunda. Internada num hospital, de lá não saiu.
Como Seu João, outros comerciantes e moradores aguardam o futuro incerto. Alguns até aceitam sair, mas reclamam do baixo valor das indenizações – caso de Josinaldo Rosende, 44, que possui casa e comércio em trecho que passará o Ramal Cidade da Copa (31% concluído), uma das principais vias de acesso à Arena Pernambuco.
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– Não sou contra o desenvolvimento, mas acredito que estamos sendo pouco assistidos pelo governo. Disseram que teríamos psicólogos e assistentes sociais. Até agora, não vi nada – conta Josinaldo.
Em Pernambuco, o governo desembolsou R$ 67 milhões em desapropriações, o que corresponde a 60% do valor total a ser pago, para esta finalidade, com obras da Copa. Em Camaragibe, além dos processos administrativos, 83 ações judiciais aguardam na Justiça “mandado de imissão de posse” para liberação da área. No Estado, segundo a Procuradoria Geral (PGE), estão sendo desapropriados aproximadamente 211 residências – um processo que deve ir até outubro.