Moradores do Maciço do Morro da Cruz desconfiam de construção de teleférico em Florianópolis

O teleférico previsto para transportar passageiros entre a Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC) e o Terminal Integrado do Centro (Ticen) deve suportar até 15 mil pessoas por dia. O Governo Federal garantiu nesta quarta-feira a liberação de R$172 milhões para a mobilidade urbana de Florianópolis e, dentro desse recurso, R$ 142 milhões serão destinados para esse novo projeto. O prefeito Cesar Souza Júnior disse que até o final de 2013 as obras devem ser iniciadas.

Todos os dias, nos últimos 10 anos, dona Rosa Maria Alves, 58 anos, desce e sobe pelo menos duas vezes os 155 degraus da sua casa até a Rua Monsenhor Topp, no Centro.

– Estou com um problema no joelho de tanto subir esta escadaria. Não sou mais menina – reclamou a cozinheira.

Com o anúncio do prefeito Cesar Souza Junior de que um teleférico passaria pelo Maciço do Morro da Cruz, dona Rosa ainda está desconfiada e duvida de será beneficiada.

– Seria ótimo. Imagina, ir de bonde até o Centro. Mas há anos que eles prometem estas coisas. Eu duvido, meu filho – comentou ela.

Há três anos, o marido de Rosa, Nílton Souza Vieira, 55 anos, sofreu uma queda e rolou pelos degraus abaixo. O pedreiro teve que ser carregado pela esposa até a rua para ser levado para o Hospital pelo Corpo de Bombeiros.

– Esta escada já é um absurdo e eles nunca arrumaram. De promessa, eu estou cheio – disse Nílton.

Quem se animou com o anúncio do teleférico foi a pequena Maria Eduarda Matias da Silva, de 9 anos, que sabe até o que vai fazer com um dos 200 bondes do teleférico. – Vou poder ir para o shopping _ animou-se.

Para além dos 155 degraus da casa de dona Rosa e seu Nílton, mora o segurança Lindolfo Manoel Goulart, 46 anos. Ele nasceu e cresceu subindo diariamente mais de 300 degraus. Ao longo dos anos, ouviu muito sobre a construção de um teleférico. Assim como o casal, Lindolfo é cético.

– Eu vou morrer e não vou ver um teleférico aqui – duvidou.

Projeto vai atender até 15 mil pessoas por dia, de acordo com prefeito

A construção de um teleférico entre o campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Terminal de Integração do Centro (Ticen), passando pelo Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis, promete melhorar a mobilidade na porção mais habitada do município.

Nessa região vivem 170 mil habitantes, 20% da população e boa parte das comunidades carentes da cidade. Os projetos e a obra estão orçados em R$ 142 milhões e contarão com a contribuição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) de Mobilidade em Médias Cidades, garantido, ontem, pelo governo federal.

A proposta para o sistema de transporte inédito em Florianópolis é baseada no teleférico do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, instalado em 2011. Lá, o sistema trouxe mais conforto para as comunidades pacificadas e agilizou a mobilidade dos moradores, além de atrair turistas para conhecer o local.

De acordo com a carta consulta, encaminhada ao Ministério das Cidades, o teleférico de Florianópolis está previsto para ter uma extensão de 3,2 quilômetros, com três estações, na UFSC, Ticen e no Maciço do Morro da Cruz.

O percurso seria feito em cerca de 11 minutos, um trajeto que de ônibus leva, no mínimo, 25 minutos. A ideia é que o sistema conte com 120 cabines, com capacidade de até oito passageiros cada. Com essa estrutura, é possível transportar 15 mil usuários por dia.

O prefeito Cesar Souza Junior lembra que o projeto será integrado ao transporte coletivo e que as obras devem iniciar ainda em 2013, já que os projetos executivos devem ser finalizados ainda no primeiro semestre. Somente no projeto será definido minunciosamente onde passará o teleférico. O preço da passagem ainda não foi analisado.