Entre as inúmeras lembranças do morador Laurentino Schmitt, uma das que permanecem nítidas é a de uma audiência realizada na década de 1960 para transformar a localidade do Belchior, onde o agricultor hoje aposentado nasceu e cresceu, em distrito. A exigência de um cartório e uma possibilidade de aumento de impostos abortou o projeto da época, embora escrituras ainda mais antigas já definissem a localização de propriedades locais como Distrito do Belchior. Formalmente, porém, foi somente no mês passado, já com 91 anos, que seu Laurentino assistiu à transformação do local onde sempre viveu em uma nova divisão administrativa do município de Gaspar.

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A publicação da lei que cria o Distrito do Belchior, onde estão incluídos os bairros Belchior Baixo, Belchior Central, Belchior Alto e Arraial do Ouro, ocorreu no dia 7 de abril. O projeto foi alvo de polêmica por, na versão original, não usar o nome do bairro para batizar o distrito, em decisão mais tarde modificada pela prefeitura. O objetivo principal do projeto era manter a entrega de correspondências para moradores de áreas distantes, o que foi alcançado.

Com 3.183 habitantes e 13,99% da movimentação econômica do município em 2014, segundo dados do projeto da prefeitura, a região do Belchior preencheu os requisitos da legislação estadual para a criação de uma nova divisão administrativa. Nas ambições dos moradores, porém, a expectativa é de que a transformação dos bairros em distrito vá muito além desses critérios e resulte em melhorias na prática para os bairros.

Para Laurentino, um ponto positivo é a presença de máquinas mais perto da população para fazer a manutenção das ruas. Embora considere a comunidade bem atendida nos serviços básicos, ele reconhece que a falta de cartório e a criminalidade são queixas constantes entre a população.

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– Para mim, o distrito foi um passo importante para no futuro eu ver o Belchior se tornar um município – almeja.

Mais linhas de transporte coletivo para Gaspar e mais policiais nas ruas são as principais reivindicações de Márcia Jesus Seabra, 41, moradora do Belchior Central há quatro anos. Segundo ela, quem vai de ônibus para o Centro às 8h só consegue retornar ao bairro próximo do meio-dia. Já o atendimento de policiais a ocorrências de crime costuma demorar, na visão da moradora.

Holandina Maria Tesch, 53 anos, procurou o Procon na terça-feira, dia da semana em que o órgão atende os moradores no bairro. Ficou satisfeita com a opção de atendimento e com os serviços hoje oferecidos.

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– Ainda tem algumas situações como banco, que fazem a gente ter que ir até o Centro, mas os serviços que são oferecidos aqui (na superintendência) já ajudam muito os moradores – conta.

A prefeitura de Gaspar informa que neste ano não pretende ampliar os serviços oferecidos no local, que hoje se limitam ao atendimento semanal do Procon, entrega de correspondências dos Correios para áreas distantes na sede da superintendência e manutenção e pavimentação de ruas. O atual superintendente do Belchior, Rui Carlos Deschamps, afirma que no futuro a intenção é disponibilizar também atendimentos de áreas como Defesa Civil, Meio Ambiente e Samae, que hoje forçam os belchiorenses a se deslocarem até o Centro de Gaspar.

POSTO POLICIAL É IDEIA DESCARTADA

Para o presidente da Associação de Moradores do Belchior, Carlos Roberto Pereira, a criação do distrito, embora ainda não tenha trazido mudanças na prática, pode abrir novas possibilidades para o bairro, sobretudo na segurança pública.

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– Sabemos da realidade de falta de efetivo, mas não é utopia imaginar que possamos ter um posto policial. Por ser uma localidade distante (o acesso ao bairro fica a 15 quilômetros do Centro), existe uma dificuldade para o envio de viaturas e acreditamos que um posto traria mais segurança – afirma.

O bairro já teve duas sedes do Conselho de Segurança (Conseg) oferecidas pela comunidade para ser um espaço da PM, mas a ideia não avançou. Na sala que ficava ao lado de um posto de gasolina, apenas uma placa sobrevive ao tempo, ainda com um dígito de telefone a menos. Já o espaço maior, preparado ao lado de uma escola, voltou a ser ocupado pelo educandário. O comandante da Polícia Militar de Gaspar, capitão Heintje Heerdt, descarta a possibilidade de montar uma base no Belchior. Segundo ele, nesse formato policiais que fariam o trabalho ostensivo precisariam ser deslocados para manter a própria base, prejudicando ainda mais a questão do efetivo. Ele estima que ter uma base funcionando 24 horas por dia exigiria ao menos quatro PMs.

– O que a gente precisa hoje é aumentar o efetivo da nossa companhia para que possamos ter viaturas setoriais atuando somente no Belchior e na região da margem esquerda do rio Itajaí-Açu. Isso ajudaria a superar dificuldades de deslocamento e a atender mais rápido ocorrências em toda aquela região, não somente no entorno de uma base – argumenta.

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Se a base da PM, como existe em outros distritos, é vista como inviável no momento, a esperança de mais segurança no agora distrito pode estar em um sistema de videomonitoramento. Segundo o comandante, a comunidade vem discutindo um formato de parcerias com empresários para custear a instalação de câmeras nas saídas do Belchior para o bairro Fortaleza, em Blumenau, e sentido Luiz Alves. Atualmente, apenas o Centro de Gaspar possui o sistema de monitoramento, com 14 câmeras instaladas em 2012.

– O videomonitoramento nessas rotas de saída pode ser uma solução interessante porque você consegue ter mais olhos dentro do bairro – considera Heerdt.

AUTONOMIA PERMITIU AVANÇOS NO GARCIA E NA VILA ITOUPAVA

Se para os moradores do Belchior o distrito é uma novidade, em locais de Blumenau como o Garcia e a Vila Itoupava essa divisão administrativa já é realidade há muito tempo. O Distrito do Garcia começou a funcionar em janeiro de 2002. Primeiro secretário distrital, Braz Roncáglio afirma que a nova divisão administrativa permitiu avanços como a construção de duas creches, um ambulatório-geral e extensões do Procon, Samae e Praça do Cidadão. Hoje ambição dos moradores do Belchior, o posto da PM já é realidade no Garcia.

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– O Garcia, assim como a região Norte (onde uma base da PM com 40 policiais atende o distrito da Vila Itoupava e o restante da região), é um local com o qual temos preocupação e, com as viaturas mais próximas desses locais, é possível dar uma resposta mais rápida à população – avalia o tenente-coronel Rubens Neumann, comandante da PM de Blumenau.

Atualmente, segundo o intendente Jaime Cunha, a intendência distrital do Garcia possui quatro servidores para atendimento e expedição de documentos. Mais cinco profissionais oferecem atendimento da Praça do Cidadão, Samae e Seterb. O distrito envolve os bairros Garcia, Glória, Valparaíso, Vila Formosa e Progresso, área com população estimada de 60 mil pessoas, segundo a prefeitura.

Na Vila Itoupava, que possui status de distrito desde 1943, a estrutura atual inclui 22 pessoas, orçamento próprio de R$ 1,4 milhão ao ano e oferece serviços como manutenção de ruas, atendimento semanal do Procon e registro de propriedade rural. O distrito possui ainda uma subdelegacia e um hospital.

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– O distrito facilita muito a obtenção de melhorias e também a vida da população, que se concentra mais na Vila e não tem tanta necessidade de ir sempre ao Centro – avalia o gerente da intendência distrital da Vila Itoupava, Adir Krause.