Preocupados com a onda de violência que assustou moradores da zona Norte de Joinville no começo do ano e levou a cúpula da segurança pública do Estado a montar uma operação especial para acabar com a guerra entre facções criminosas na região, um grupo de voluntários do bairro Jardim Paraíso resolveu entrar no campo de batalha e lutar pela estrutura de segurança do bairro.
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Em vez de reuniões e manifestações para chamar a atenção, eles decidiram que o melhor a fazer era colocar a mão na massa, literalmente. No último sábado, dia 23, eles trocaram parte do telhado da base da Polícia Militar e fizeram pequenas reformas no prédio. A madeira velha da estrutura que sustenta o telhado estava caindo e uma chuva forte poderia alagar e interditar todo o prédio.
– Nosso bairro precisa de atenção especial por causa dessa guerra do tráfico. Como a base da PM está em um prédio e em um terreno da comunidade, cabe a todos nós cuidar e zelar por ele – diz Sônia Dutra, uma das líderes do grupo de voluntários.
Junto com José Hipólito, Otávio Timóteo e Rolf Otto, ela montou um grupo e um cronograma que já tem atividades até o meio do ano. Neste sábado, eles farão uma calçada na Estrada Timbé, em frente ao posto da Polícia Militar. Na última quinta-feira, o local foi roçado e limpo.
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– Precisa ser feito algo. Não dá para ficar esperando. Nós conseguimos que a Prefeitura faça a roçada da área. Agora, vamos fazer a calçada – diz José Hipólito, que também é bombeiro voluntário e uma das lideranças do bairro.
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Local oferece riscos
O local é considerado duplamente perigoso. Para passar a pé e entrar nas ruas do bairro, os pedestres e ciclistas têm de andar sobre o asfalto e dividir espaço com caminhões e automóveis.
A iluminação também é precária, o que torna o risco ainda maior à noite. Quem trafega de carro também precisa ter atenção porque qualquer descuido e o veículo pode ir parar dentro do rio. No sábado, eles também vão trocar o restante da estrutura de madeira do telhado da base e pintar e sinalizar muros e calçadas.
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Paralelamente, outro grupo vai ajudar na construção de uma área junto ao posto de saúde do bairro. O grupo faz questão de ressaltar que não há qualquer ligação com política partidária nem eleições.
– A comunidade precisa de segurança. Essa é a nossa prioridade – reforça Sônia.
Otávio Timóteo mora no bairro há mais de 30 anos. Foi ele quem primeiro abriu uma loja no Paraíso. Hoje, acompanhando o noticiário sobre o tráfico, a violência e os assassinatos, ele lamenta:
– Eu vivo aqui. Não dá para ver essas coisas acontecendo e não fazer nada – afirma.
A base da PM está estrategicamente localizada na entrada do bairro. No último fim de semana de trabalho, uma bala perdida passou perto deles enquanto eles trabalhavam no telhado. Eles ouviram tiros e perceberam que uma bala passou perto do telhado. Logo depois, um rapaz chegou correndo na base da PM, pedindo ajuda porque estava jurado de morte.
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O trabalho começa por volta das 7 horas da manhã de sábado. No dia 18 de junho, eles vão fazer uma feijoada na Associação de Moradores do Canto do Rio, uma das localidades do bairro. Todo o dinheiro arrecadado será destinado para a compra e material que será usado para melhorar a estrutura de segurança do bairro, desde tinta, até câmeras de vigilância.
Um dos objetivos do grupo é ter pelo menos uma viatura da Polícia Militar permanente no bairro. Hoje, a PM divide as rondas entre o Aventureiro, Cubatão, Vigorelli e Jardim Paraíso.
PM quer mais ações conjuntas
O tenente-coronel Jofrey Santos Silva, comandante do 8º Batalhão da PM, que é responsável pela base no Jardim Paraíso, considera o trabalho dos voluntários como um exemplo de união entre a corporação e a comunidade.
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– Isso prova que existe a possibilidade de haver um efeito prático dessa relação entre as pessoas e o efetivo policial.
Jofrey também ressalta que as ocorrências registradas no começo do ano, de enfrentamento entre grupos, estão cada vez mais raras.
– Com a presença da Polícia Militar na região, fica difícil para eles se enfrentarem como estava acontecendo, à luz do dia.
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Quanto aos recursos para investir nas bases, o comandante do 8º BPM reconhece que não há dinheiro para manutenção ou para investimentos novos nas bases e que a ajuda da comunidade é fundamental.