Blumenau avançou quando o assunto é tratamento de esgoto. Segundo a prefeitura, o índice de cobertura de saneamento básico na cidade chega atualmente a 42%. Há oito anos, o percentual era de 4,8%. Apesar das conquistas, a faixa da população que não tem acesso ao serviço preocupa. Na Rua Wilhelm Alsleben, no bairro Fidélis, alguns moradores ainda convivem com o mau cheiro e o perigo de doenças em decorrência da falta de canalização dos efluentes.
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Ivanir Salete Martins enfrenta esse problema no quintal de casa. A situação não é nova. Há 25 anos, a costureira busca uma solução. O cenário, porém, se agravou recentemente com o crescimento da população no entorno. São ao menos 20 famílias que sofrem com a situação.
– Ao meio-dia, quando eu desço aqui para fazer o almoço, tenho que fechar as janelas porque não aguento o cheiro. A gente vai pagar com o maior prazer se o esgoto passar e ajuda se precisar comprar tubo para colocar aqui, mas assim não dá para ficar – diz a mulher de 57 anos.
Pedro Bertolino Vandrei alugou uma casa ao lado da residência de Ivanir. Ele já se prontificou a tentar amenizar a situação junto com outros vizinhos e fazer limpezas nas valas para dar vazão ao esgoto que passa por trás da casa. Mas está cansado por não ter uma solução definitiva para a situação, o que no ponto de vista dele já poderia ter sido resolvido com a colocação de tubulação.
Mais do que mau cheiro, que Vandrei tenta driblar com o uso de bom-ar, o receio é com as doenças. A preocupação não é em vão. Dados divulgados pelo Trata Brasil mostram que em 2013 foram notificadas mais de 340 mil internações por infecções gastrintestinais no país. De acordo com o instituto, se 100% da população tivesse acesso a esgoto, haveria uma redução de 74,6 mil internações no Brasil.
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– Vivem falando que é para a gente cuidar com a dengue, não é? Mas e isso aqui? – diz o morador.
O coordenador do Mestrado em Saúde Coletiva da Furb, professor João Luiz Gurgel Calvet da Silveira, conhece a realidade dos moradores do Fidélis. Diz que o município evoluiu bastante em relação ao tratamento de esgoto, mas que é preciso ir além.
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Investimento para prevenir doenças
O desafio do saneamento não é exclusivo de Blumenau. Em Santa Catarina, apenas 20,86% da população contam com coleta de esgoto. Os estudos apontam que para cada R$ 1 investido em saneamento, R$ 4 são economizados na saúde.
Os números corroboram a afirmação de Silveira sobre os riscos que as pessoas expostas ao esgoto a céu aberto correm:
– Com esse cenário ocorre a proliferação de vetores, mosquitos principalmente, que transmitem doenças, algumas até graves como a dengue, além de roedores. Esgoto a céu aberto é uma coisa muito grave e precisa ser tratado, porque o impacto na saúde é direto. Dados epidemiológicos mostram isso, a gente consegue reduzir doenças preveníveis se você tem um bom saneamento básico – explica o professor da Furb ao ressaltar que casos graves de diarreia podem ocorrer.
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Para Silveira, a questão deve ser tratada de forma conjunta entre o poder público e a comunidade. Nesse contexto, a participação social dentro dos Conselhos de Saúde é importante para apontar as situações e cobrar soluções das autoridades, sobretudo por se tratar de um direito previsto no Sistema Único de Saúde.
– É uma questão de cidadania. Quando o cidadão está consciente ele vai trabalhar para ter seu direito garantido – diz Silveira.
Contraponto
A prefeitura de Blumenau foi questionada sobre a situação dos moradores da Rua Wilhelm Alsleben, mas até o fechamento não respondeu à reportagem.
A administração municipal também não informou qual o percentual de imóveis na cidade que não tem coleta de esgoto. A BRK Ambiental, concessionária do sistema de esgoto, explica que onde não há coleta e nem tratamento de efluentes os moradores devem seguir o que prevê o Código de Posturas da cidade.
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O documento diz que todo imóvel deve contar com fossa e filtro e realizar a manutenção regular, para que não aconteçam casos de obstrução e rompimento.
A implantação total de rede de esgotamento público sanitário no bairro Fidélis está prevista para ocorrer até 2024. Isso porque parte do loteamento onde fica a Rua Wilhelm Alsleben, de acordo com a BRK, já foi contemplada, em 2010, coleta e tratamento de esgoto por meio de um convênio da Fundação Nacional de Saúde.