Rodeados pelo mau cheiro vindo da estação de tratamento, manifestantes pararam o trânsito da rua Baltazar Buschle por uma hora e 15 minutos, na manhã deste domingo, em Joinville. Moradores do Espinheiros desconfiaram que o esgoto não estava sendo tratado na estação, localizada na rua José Silveira Lopes. Pediram ao Ministério Público que investigasse. A Fundação Municipal do Meio Ambiente emitiu laudo em que o número de coliformes termotolerantes – tipo de bactéria presente em fezes – encontrado nas águas despejadas no mangue é 18 mil vezes maior que o permitido em lei.

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A principal reivindicação dos moradores, além do restabelecimento adequado do serviço de tratamento, é a retirada da taxa de esgoto até que o problema seja resolvido. A tarifa equivale a 80% dos gastos que os moradores têm com água. Se as despesas mensais equivalessem a R$ 100, o tratamento custaria R$80.

– O esgoto não está sendo tratado – garantiu o Presidente da Associação de Moradores Moinho dos Ventos 2, Everaldo Simões Wience, que tinha nas mãos documentos emitidos pela Fundema e pelo MP.

Outro laudo foi solicitado pela associação, para que um morador acompanhe a coleta de material. De acordo com Wience, a estação existe há cerca de três anos e não funciona adequadamente.

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Ele e outras pessoas que vivem no bairro alegam que o esgoto está sendo apenas “peneirado”. Um outro morador levantou suspeitas sobre uma válvula que estaria estragada, fazendo com que a água do mangue voltasse para a estação.

A população local, além do mau cheiro, tem de suportar a perda de dinheiro e a desvalorização de imóveis. Tereza Fortes e Ulisses Rocha têm uma casa que está em construção ao lado da estação.

Eles protestaram contra o cheiro desagradável que impede que as refeições diárias sejam feitas com prazer e que diminui o valor do investimento que têm feito no imóvel, porque ninguém quer comprar na região. Quem vive da comercialização das riquezas do mangue também sofre.

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– Não dá de pegar caranguejo – lamentou o pescador André Hang, que justificou – Vai ter gosto de coliformes fecais e óleo. Não conseguimos vender nos restaurantes.

André Costuma pescar com o pai. No trapiche, eles enfiam os pés nas águas do manguezal. Logo ao lado da rampa por onde descem com o barco, existem uma saída de esgoto e um peixe morto.

Problemas na estação não são diários, diz Águas de Joinville

O desligamento de um aparelho pode ter ocasionado o mau cheiro durante a semana que passou. Por falha no processo operacional, de acordo com o gerente de esgoto da Águas de Joinville, Cristian dos Santos, o equipamento que faz a homogeneização do esgoto foi mantido sem operar. A massa de esgoto ficou parada, gerando o odor desagradável. Mas isso, para o gerente, não acontece todo dia.

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– Problemas semelhantes aos dessa semana ocorreram já algumas vezes – admitiu o gerente.

Nessas situações atípicas, o esgoto que vai para o canal do Varador, cercado pelo mangue, pode apresentar maior quantidade de coliformes fecais. Santos descartou a possibilidade da água do mangue voltar para a estação.

Ele explicou que o esgoto tratado é bombeado, e somente voltaria para a estação em casos de maré alta, por meio da contaminação da rede coletora, que tem contato com a estação. Mas isso não ocorreria de forma direta.

A compra de um aerador, principal equipamento utilizado no tratamento do esgoto, vai melhorar a eficiência da estação.

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– A companhia tenta fazer com que o tratamento seja cada vez mais eficiente – garantiu Santos.